Vacina Revolucionária de RNA Faz Tumores Desaparecerem em Testes
- Lidi Garcia
- 29 de ago.
- 4 min de leitura

Cientistas estão desenvolvendo uma vacina de RNA que pode “acordar” o sistema imunológico e ajudá-lo a reconhecer e destruir diferentes tipos de câncer. Em testes com animais, ela fez até tumores resistentes diminuírem ou desaparecerem, principalmente quando combinada com medicamentos já usados na imunoterapia. A descoberta abre caminho para a criação de uma possível “vacina universal contra o câncer” no futuro.
A imunoterapia contra o câncer é uma área da medicina que tem avançado rapidamente, pois busca usar o próprio sistema imunológico do paciente para combater os tumores. Normalmente, essas terapias funcionam melhor em tipos de câncer que apresentam muitas mutações, porque essas alterações fazem com que os tumores se tornem mais visíveis para as células de defesa do corpo.
No entanto, muitos cânceres são pouco mutados e, portanto, difíceis de reconhecer pelo sistema imune, o que os torna resistentes a esse tipo de tratamento.
Pesquisas recentes mostram que a chave para superar essa resistência pode estar em estimular intensamente o sistema imunológico, em vez de mirar apenas proteínas específicas dos tumores. Isso pode ser feito por meio de vacinas experimentais de RNA mensageiro, uma tecnologia semelhante à usada em algumas vacinas contra a COVID-19.

As vacinas de RNA mensageiro são um tipo de imunização moderna que usa uma cópia sintética de uma molécula chamada RNA mensageiro para ensinar o corpo a se defender. O RNA funciona como uma “receita” que instrui as células a produzirem temporariamente uma proteína específica, semelhante a uma encontrada em vírus ou células doentes.
Nesse caso, em vez de ensinar o corpo a reconhecer um vírus específico, as vacinas de RNA ensinam as células a produzir proteínas que ativam fortemente a resposta imunológica, como se o corpo estivesse lutando contra uma infecção. Esse estímulo extra pode “acordar” células de defesa que estavam inativas e direcioná-las contra o câncer.
Essa proteína, por si só, não causa doença, mas é suficiente para que o sistema imunológico a reconheça como estranha e produza anticorpos e células de defesa. Assim, se a pessoa for exposta ao verdadeiro vírus ou célula tumoral no futuro, o corpo já estará preparado para combatê-lo de forma rápida e eficaz.

Estudos realizados em modelos animais mostraram resultados surpreendentes. Quando os pesquisadores aplicaram a vacina de RNA junto com medicamentos já usados na imunoterapia, chamados inibidores de checkpoint imunológico, tumores que antes eram resistentes começaram a diminuir. Em alguns casos, apenas a vacina foi suficiente para eliminar completamente os tumores.
Esse efeito parece acontecer porque a vacina induz uma resposta inicial de interferon, uma proteína normalmente produzida pelo corpo diante de infecções. Essa resposta cria um ambiente em que as células de defesa não só atacam o tumor tratado, mas também passam a reconhecer outros pedaços do câncer, aumentando o alcance do sistema imunológico e prevenindo a volta da doença.

Essa imagem mostra um experimento feito em camundongos para testar uma nova vacina de RNA contra o câncer. D, vemos que os animais receberam implantes de tumor e, em seguida, foram tratados semanalmente com a vacina experimental. E, o gráfico mostra que os camundongos tratados com a vacina viveram muito mais tempo do que os não tratados ou os que receberam apenas outro tipo de medicamento. G, as imagens comparam os pulmões dos animais: os sem tratamento aparecem cheios de tumores, enquanto os tratados com a vacina têm órgãos muito mais limpos, com bem menos sinais da doença. Isso sugere que a vacina ajudou o sistema imunológico a combater o câncer de forma eficaz.
O mais interessante é que essa estratégia não depende de identificar previamente quais mutações estão presentes em cada paciente. Isso abre a possibilidade de uma “vacina universal contra o câncer”, que poderia ser usada de forma ampla para sensibilizar o sistema imunológico de diferentes pessoas contra seus próprios tumores.
Em vez de depender apenas de tratamentos tradicionais como cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, essa abordagem poderia transformar células de defesa adormecidas em assassinas de câncer ativas.
Pesquisadores agora trabalham para refinar essas vacinas, entender melhor como aumentar sua eficácia e iniciar testes clínicos em humanos. Se os resultados promissores em animais se confirmarem em pessoas, esse pode ser um passo decisivo para mudar a forma como tratamos cânceres resistentes e abrir caminho para terapias mais personalizadas, seguras e eficazes.
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Sensitization of tumours to immunotherapy by boosting early type-I interferon responses enables epitope spreading
Sadeem Qdaisat, Brandon Wummer, Brian D. Stover, Dingpeng Zhang, James McGuiness, Frances Weidert, Jonathan Chardon-Robles, Adam Grippin, Anna DeVries, Chong Zhao, Christiano Marconi, Aida Karachi, Chao Xie, Gabriel Jobin, Ruixuan Liu, Stephen Michel, Xiaojie Ma, Rachel S. F. Moor, Christina von Roemeling, Duy T. Nguyen, Leighton Elliott, Nagheme Thomas, Arnav Barpujari, Hilary Geffrard, Yodarlynis Campaneria, Elizabeth Ogando-Rivas, Cathleen Rabideau, Dhruvkumar Soni, Jianping Huang, Sheila Carrera-Justiz, Kristianna Fredenburg, Natalie L. Silver, W. Gregory Sawyer, Maryam Rahman, John A. Ligon, Catherine T. Flores, Ji-Hyun Lee, Duane A. Mitchell, Paul Castillo, Hector R. Mendez-Gomez, and Elias J. Sayour
Nature Biomedical Engineering. 18 July 2025.
DOI: 10.1038/s41551-025-01380-1
Abstract:
The success of cancer immunotherapies is predicated on the targeting of highly expressed neoepitopes, which preferentially favours malignancies with high mutational burden. Here we show that early responses by type-I interferons mediate the success of immune checkpoint inhibitors as well as epitope spreading in poorly immunogenic tumours and that these interferon responses can be enhanced via systemic administration of lipid particles loaded with RNA coding for tumour-unspecific antigens. In mice, the immune responses of tumours sensitive to checkpoint inhibitors were transferable to resistant tumours and resulted in heightened immunity with antigenic spreading that protected the animals from tumour rechallenge. Our findings show that the resistance of tumours to immunotherapy is dictated by the absence of a damage response, which can be restored by boosting early type-I interferon responses to enable epitope spreading and self-amplifying responses in treatment-refractory tumours.



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