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Inovação No Transplante De Medula: Cura Do Sangue Sem Radiação Ou Quimioterapia Pesada

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 27 de ago.
  • 4 min de leitura
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Um novo tipo de transplante de medula óssea mostrou-se muito mais seguro para pacientes com doenças graves do sangue. Em vez de usar quimioterapia forte ou radiação, os cientistas usaram um anticorpo que elimina apenas as células antigas da medula, abrindo espaço para as células saudáveis do doador. Esse método foi testado em crianças com anemia de Fanconi e trouxe bons resultados, com menos efeitos colaterais e recuperação estável do sangue.


O transplante de células-tronco hematopoiéticas, também conhecido como transplante de medula óssea, é um tratamento que pode curar diversas doenças do sangue, tanto genéticas quanto adquiridas, como falência da medula óssea, anemias hereditárias e alguns tipos de câncer. Esse tratamento funciona substituindo as células doentes do paciente por células-tronco saudáveis vindas de um doador compatível. 


O grande desafio desse procedimento é que, para receber as novas células, o corpo do paciente precisa primeiro ser “preparado” com medicamentos ou radiação que destroem as células antigas da medula, abrindo espaço para as novas. 


Esse processo, chamado de condicionamento, geralmente envolve altas doses de quimioterapia ou radiação, que são muito agressivas e podem causar sérios efeitos colaterais de curto e longo prazo, como infertilidade, problemas nos órgãos e até aumento do risco de desenvolver outros cânceres no futuro. 


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Para contornar esses problemas, pesquisadores da Stanford University School of Medicine, USA, vêm desenvolvendo alternativas mais seguras. Em um estudo recente, foi criado um novo protocolo que não utiliza a radiação tradicional nem certas drogas quimioterápicas altamente tóxicas. Em vez disso, os cientistas usaram um anticorpo chamado briquilimabe, também conhecido como JSP191. 


Anticorpos são moléculas capazes de reconhecer alvos muito específicos, como uma “chave” que se encaixa em uma “fechadura”. O briquilimabe se liga a uma proteína chamada CD117, que está presente na superfície das células-tronco do sangue. Ao bloquear essa proteína, o anticorpo consegue eliminar seletivamente as células-tronco antigas do paciente, sem causar o mesmo tipo de dano generalizado que a radiação ou a quimioterapia provocam.


Além desse anticorpo, os pesquisadores utilizaram medicamentos que reduzem a atividade do sistema imunológico, como a globulina antitimócito de coelho, a ciclofosfamida, a fludarabina e o rituximabe.  


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Esses fármacos têm o papel de impedir que o corpo do paciente rejeite as células do doador e também ajudam a prevenir complicações como a doença do enxerto contra o hospedeiro, que ocorre quando as células transplantadas atacam o organismo receptor. 


As células-tronco usadas no transplante também foram cuidadosamente preparadas para remover um tipo específico de linfócitos, que são células do sistema imunológico responsáveis por causar rejeição e inflamações graves. Essa etapa reduz significativamente os riscos de complicações após o procedimento.


Esse protocolo foi testado inicialmente em três crianças com anemia de Fanconi, uma doença genética rara que prejudica os mecanismos de reparo do DNA. Pessoas com essa condição são extremamente sensíveis à radiação e à quimioterapia, por isso correm riscos ainda maiores com os tratamentos tradicionais. 


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Agnieszka Czechowicz sentada diante de um citômetro de fluxo. Sua equipe utilizou citometria de fluxo para estudar  células da medula óssea saudáveis ​​e doentes e monitorar as células antes, durante e depois de uma forma inovadora de transplante de células-tronco. Crédito: Jim Gensheimer


No ensaio clínico, as três crianças receberam o transplante com esse novo protocolo e foram acompanhadas por dois anos. Todas elas se recuperaram bem, não apresentaram rejeição grave nem complicações importantes, e tiveram reconstrução estável do sangue e do sistema imunológico a partir das células do doador.


Os resultados mostram que essa abordagem inovadora pode manter a eficácia do transplante ao mesmo tempo em que reduz drasticamente a toxicidade do procedimento. 


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Embora os testes tenham começado em pessoas com anemia de Fanconi, a expectativa é que, no futuro, essa estratégia possa beneficiar também pacientes com outras doenças do sangue, incluindo tipos de câncer hematológico. Atualmente, a pesquisa continua em fases mais avançadas para confirmar esses achados em grupos maiores de pacientes.



LEIA MAIS:


Irradiation- and busulfan-free stem cell transplantation in Fanconi anemia using an anti-CD117 antibody: a phase 1b trial

Rajni Agarwal, Alice Bertaina, Charmaine Soco, Janel R. Long-Boyle, Gopin Saini, Nivedita Kunte, Lyndsie Hiroshima, Yan Y. Chan, Hana Willner, Mark R. Krampf, Rofida Nofal, Giulia Barbarito, Sushmita Sen, Maite Van Hentenryck, Emily Walck, Amelia Scheck, Rhonda J. Perriman, Alisha Bouge, Elena Istomina, Hena Naz Din, Edna F. Klinger, Jerry C. Cheng, Marcin W. Wlodarski, Jaap J. Boelens, Judith A. Shizuru, Wendy W. Pang, Kenneth Weinberg, Robertson Parkman, Maria Grazia Roncarolo, Matthew Porteus, and Agnieszka Czechowicz

Nature Medicine. 22 July 2025

DOI: 10.1038/s41591-025-03817-1


Abstract: 


Current hematopoietic stem cell transplantation (HSCT) conditioning strategies cause widespread tissue damage and systemic toxicities, especially in patients with DNA-repair deficiencies such as Fanconi anemia (FA). We have developed an alternative conditioning approach that incorporates the anti-CD117 antibody, briquilimab, which targets host hematopoietic stem and progenitor cells in place of genotoxic irradiation- and busulfan-based chemotherapy. Here we report a phase 1b clinical trial in patients with FA and bone marrow failure, evaluating safety and efficacy of briquilimab-based conditioning in combination with rabbit anti-thymocyte globulin, cyclophosphamide, fludarabine and rituximab immunosuppression and T cell receptor (TCR)αβ+ T cell-depleted and CD19+ B cell-depleted haploidentical HSCT. Primary endpoints of the trial included safety and engraftment, and secondary endpoints included pharmacokinetic measures and hematological and immunological recovery. All three patients have each undergone 2 years of follow-up to complete the phase 1b analysis. No treatment-emergent adverse events or acute graft-versus-host disease was observed. Patients experienced minimal toxicities, with typical mucositis and no veno-occlusive disease. Median neutrophil engraftment was 11 days (range 11–13 days) with robust donor chimerism up to 2 years post-HSCT (99–100%), meeting the primary endpoints of the study. Briquilimab cleared in each patient before HSCT without the need for adjustment. Red blood cell, platelet and lymphocyte recovery was comparable to previous reports with TCRαβ+ T cell-depleted and CD19+ B cell-depleted grafts. All patients are alive and well with resolution of earlier chromosomal breakage abnormalities in peripheral blood lymphocytes post treatment. These data demonstrate the broad potential of this protocol in maintaining HSCT efficacy while reducing toxicity. The phase 2 trial is ongoing (ClinicalTrials.gov identifier: NCT04784052).

 
 
 

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