10 Anos Antes: Novo Teste de Sangue Identifica Precocemente o Câncer de Cabeça e Pescoço
- Lidi Garcia
- 3 de nov.
- 4 min de leitura

Cientistas descobriram que fragmentos de DNA do vírus HPV podem ser encontrados no sangue até 10 anos antes do diagnóstico de câncer de garganta. Essa descoberta pode levar ao desenvolvimento de um exame de sangue capaz de detectar o câncer muito antes dos primeiros sintomas, oferecendo grandes chances de tratamento precoce e cura.
O câncer de orofaringe associado ao vírus do papiloma humano (HPV), também conhecido como HPV positivo (HPV+OPSCC), é hoje o tipo mais comum de câncer relacionado ao HPV nos Estados Unidos. Esse tipo de câncer afeta a região da garganta, incluindo a base da língua e as amígdalas.
Detectar a doença nos estágios iniciais é fundamental, pois o diagnóstico precoce pode salvar vidas e reduzir as sequelas do tratamento. No entanto, até agora não existe um exame simples e eficaz para identificar o câncer de orofaringe por HPV antes que ele apareça clinicamente.
Cientistas vêm estudando uma possível solução: a detecção de fragmentos do DNA tumoral circulante do HPV (ctHPVDNA), pequenas porções do material genético do vírus que podem ser liberadas na corrente sanguínea pelas células cancerosas.

Esses fragmentos de DNA podem funcionar como uma espécie de “assinatura” biológica do câncer, ajudando a identificar a presença da doença mesmo antes do aparecimento de sintomas. O desafio é descobrir se esse DNA viral realmente pode ser encontrado no sangue anos antes do diagnóstico e se isso seria confiável o bastante para um teste de rastreamento populacional.
Para investigar essa possibilidade, os pesquisadores analisaram amostras de sangue armazenadas em um biobanco (o banco de amostras biológicas da rede MassGeneralBrigham). Essas amostras pertenciam a pessoas que, anos depois, desenvolveram câncer de orofaringe relacionado ao HPV.
No total, foram estudados 28 pacientes com esse tipo de câncer e 28 pessoas saudáveis do mesmo sexo e faixa etária, que serviram como grupo de comparação. O interessante é que o sangue dessas pessoas havia sido coletado de 1,3 até 10,8 anos antes do diagnóstico.
As amostras foram analisadas de forma “cega”, ou seja, os cientistas que faziam os testes não sabiam se o sangue vinha de alguém doente ou saudável, para evitar qualquer tipo de influência inconsciente nos resultados.

Virus do papiloma humano (HPV)
Os pesquisadores utilizaram um novo tipo de exame genético de alta precisão, chamado biópsia líquida de sequenciamento do genoma completo do HPV, capaz de identificar várias características diferentes do vírus dentro do DNA presente no sangue. Além disso, aplicaram também um teste de anticorpos contra o HPV, que detecta a resposta imunológica do corpo ao vírus.
Os resultados foram animadores. O teste de DNA detectou sinais do vírus em 22 das 28 pessoas que desenvolveram câncer, mesmo anos antes do diagnóstico, em alguns casos, até 7,8 anos antes. Em contraste, nenhum dos 28 voluntários saudáveis apresentou resultado positivo, o que indica que o exame é extremamente preciso e quase não gera falsos positivos.
Isso significa que o teste conseguiu identificar corretamente cerca de 79% dos casos reais e acertou 100% das vezes quando o sangue era de pessoas sem a doença.
A detecção foi ainda mais confiável quando o sangue havia sido coletado até quatro anos antes do diagnóstico, período em que o teste foi mais sensível do que o exame de anticorpos. Quando os pesquisadores aplicaram técnicas de aprendizado de máquina (inteligência artificial), treinando um modelo com dados de uma segunda amostra maior de 306 pessoas, a capacidade de detecção melhorou ainda mais: o teste acertou 27 dos 28 casos, com uma sensibilidade de 96%, e foi capaz de prever a doença até 10 anos antes do diagnóstico.

Esses achados sugerem que o DNA tumoral circulante do HPV no sangue pode servir como um marcador confiável para identificar precocemente o câncer de orofaringe causado pelo vírus. A descoberta abre caminho para o desenvolvimento de um teste de triagem, semelhante aos exames de sangue de rotina, que poderia ser oferecido a pessoas com maior risco de infecção pelo HPV.
Em resumo, o estudo mostra que é possível detectar sinais biológicos do câncer de garganta associado ao HPV muitos anos antes de ele aparecer, com alta precisão. No futuro, a combinação desse teste de DNA com outros biomarcadores, como os testes de anticorpos, pode permitir que médicos diagnostiquem a doença em seus estágios iniciais, salvando vidas e evitando tratamentos agressivos.
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Circulating tumor human papillomavirus DNA whole genome sequencing enables human papillomavirus-associated oropharynx cancer early detection
Dipon Das, Shun Hirayama, Ling Aye, Michael E Bryan, Saskia Naegele, Brian Zhao, Vasileios Efthymiou, Julia Mendel, Adam S Fisch, Zoe Guan, Lea Kröller, Birgitta E Michels, Tim Waterboer, Jeremy D Richmon, Viktor Adalsteinsson, Michael S Lawrence, Matthew G Crowson, A John Iafrate, and Daniel L Faden
JNCI: Journal of the National Cancer Institute. 10 September 2025, djaf249
DOI: 10.1093/jnci/djaf249
Abstract:
Early detection of HPV-associated oropharyngeal cancer (HPV+OPSCC), the most common HPV cancer in the United States, could reduce disease-related morbidity and mortality, yet currently, there are no early detection tests. Circulating tumor HPV DNA (ctHPVDNA) is a sensitive and specific biomarker for HPV+OPSCC at diagnosis. It is unknown if ctHPVDNA is detectable prior to diagnosis, and thus it’s potential as an early detection test. Plasma samples from the MassGeneralBrigham biobank collected 1.3-10.8 years prior to diagnosis from HPV+OPSCC patients (n = 28) and age- and sex-matched controls (n = 28) were blinded and run on a newly developed and validated multi-feature HPV whole genome sequencing liquid biopsy assay and a validated HPV antibody assay. ctHPVDNA results were positive in 22/28 pre-diagnostic samples from HPV+OPSCC cases (sensitivity 79%) with a maximum lead time of 7.8 years. ctHPVDNA results were negative in all controls (0/28 controls, 100% specificity). Diagnostic accuracy was highest within four years of cancer diagnosis and was higher than HPV Ab detection within the same time frame (p-value 0.004). Application of a machine learning model trained and tested on an independent cohort of 306 cases and controls increased the sensitivity of detection to 27/28 cases (overall sensitivity 96%) and the maximum lead time to 10.3 years. Circulating tumor HPV DNA can be detected in the blood years prior to diagnosis with HPV+OPSCC, with high specificity, in a case-control cohort of 56 participants. ctHPVDNA detection alone, or in combination with previously identified serological biomarkers may be a feasible approach to early detection of HPV+OPSCC.



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