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Um Vírus Comum e Silencioso Pode Estar Por Trás Do Agravamento Do Parkinson

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 2 de set.
  • 4 min de leitura
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Pesquisadores descobriram que um vírus chamado pegivírus humano apareceu em metade dos cérebros de pessoas com doença de Parkinson, mas não em pessoas sem a doença. Esse vírus parece atrapalhar o sistema imunológico e o funcionamento das células, o que pode acelerar os danos no cérebro. Os resultados sugerem que, além da genética, infecções virais também podem influenciar o desenvolvimento e a gravidade do Parkinson.


A doença de Parkinson é um problema neurológico progressivo que afeta principalmente o movimento, mas também pode influenciar outras funções do corpo. Ela não tem uma única causa: tanto a genética quanto fatores do ambiente contribuem para o seu desenvolvimento. Entre esses fatores ambientais, as infecções virais vêm sendo investigadas como possíveis gatilhos que podem favorecer o surgimento ou a progressão da doença.


Nesse estudo, os cientistas  da Northwestern University Feinberg School of Medicine, USA, decidiram investigar se havia vírus presentes no cérebro de pessoas com Parkinson. Para isso, eles usaram uma tecnologia chamada sequenciamento do viroma, que permite identificar todo o material genético de vírus presentes em uma amostra, mesmo aqueles que não se espera encontrar. 


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Além disso, usaram também um método chamado reação em cadeia da polimerase quantitativa, que serve para confirmar e medir a presença de vírus de maneira muito precisa. O pegivírus humano (HPgV, antes chamado vírus GB-C) é bem diferente da maioria dos vírus conhecidos, porque na maior parte das vezes não causa sintomas aparentes.


Muitas pessoas podem ter o vírus no sangue sem nunca perceber, pois ele não está ligado a doenças específicas como febre, dor ou inflamações típicas de infecção viral. Em alguns estudos, foi até sugerido que o HPgV poderia ter efeitos protetores em certas condições, como na progressão do HIV. 


Ainda não há evidências claras de que ele cause sintomas próprios; quando aparece em pesquisas médicas, geralmente é em associação com outras doenças ou no contexto do sistema imunológico. Ou seja: o pegivírus humano, isoladamente, não costuma causar sintomas reconhecíveis em pessoas infectadas.


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Pegivírus humano


Os resultados mostraram que metade dos cérebros de pacientes com Parkinson analisados apresentava um vírus chamado pegivírus humano. Já no grupo de comparação, formado por pessoas sem Parkinson e de mesma idade e sexo, nenhum caso apresentou esse vírus. 


Em alguns cérebros positivos para o pegivírus, os cientistas também usaram uma técnica que cora os tecidos e confirmou a presença do vírus dentro do sistema nervoso.


Mas não foi só a presença do vírus que chamou a atenção. Os pacientes com Parkinson e pegivírus apresentaram alterações mais intensas na estrutura cerebral, típicas do avanço da doença, como níveis aumentados de certas proteínas ligadas à comunicação entre neurônios. 


Quando o vírus estava presente no sangue, os cientistas notaram outras mudanças, como níveis diferentes de moléculas associadas ao crescimento celular e ao funcionamento das mitocôndrias, que são as “usinas de energia” das células. Isso sugere que o vírus pode atrapalhar processos importantes de manutenção e limpeza celular, contribuindo para o agravamento da doença.


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(A e B) Oligodendrócitos subcorticais (pontas de seta pretas) de 2 indivíduos controle sem evidência de infecção por HPgV. (C) Imunorreatividade nuclear de pegivírus humano (HPgV) em um oligodendrócito (seta branca) na substância branca subcortical de um paciente com doença de Parkinson (DP). (D) Imunocoloração citoplasmática de pegivírus humano (ponta de seta branca) e imunorreatividade nuclear de pegivírus humano em um oligodendrócito (seta branca) na substância branca subcortical de outro paciente com doença de Parkinson.


Além disso, uma análise detalhada do material genético mostrou que o vírus parecia interferir na atividade do sistema imunológico, em especial reduzindo sinais relacionados a uma molécula chamada interleucina-4, que normalmente participa de processos de regulação da resposta inflamatória. Essa alteração foi encontrada tanto no sangue quanto no cérebro.


Os cientistas também analisaram amostras de sangue ao longo do tempo e descobriram que a resposta ao vírus variava de acordo com o tipo de mutação que os pacientes tinham em um gene chamado LRRK2, já conhecido por estar relacionado ao risco de Parkinson. 


Isso mostrou que a interação entre vírus e organismo pode depender da genética de cada pessoa. Um outro gene, chamado YWHAB, apareceu como central nessa rede de interações, mostrando ligações alteradas com genes importantes do sistema imunológico em pacientes infectados com o pegivírus.


O gene YWHAB produz uma proteína que ajuda as células a se comunicarem e regularem processos importantes, como crescimento, sobrevivência e resposta ao estresse.


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No conjunto, os resultados sugerem que o pegivírus humano pode desempenhar um papel importante na progressão da doença de Parkinson, não como causa única, mas como um fator que interfere tanto no funcionamento do sistema imunológico quanto nos processos cerebrais de manutenção celular. Isso destaca como a doença de Parkinson pode resultar de uma interação complexa entre infecção viral, genética e vulnerabilidade do cérebro.



LEIA MAIS:


Human pegivirus alters brain and blood immune and transcriptomic profiles of patients with Parkinson's disease

Barbara A Hanson, Xin Dang, Pouya Jamshidi, Alicia Steffens, Kaleigh Copenhaver, Zachary S Orban, Bernabe Bustos, Steven J Lubbe, Rudolph J Castellani, and  Igor J Koralnik

JCI Insight . 2025 Jul 8; 10(13): e189988. 

doi: 10.1172/jci.insight.189988.


Abstract: 


Parkinson's disease (PD) is a neurodegenerative disorder with both genetic and environmental factors contributing to pathogenesis. Viral infections are potential environmental triggers that influence PD pathology. Using ViroFind, an unbiased platform for whole virome sequencing, along with quantitative PCR (qPCR), we identified human pegivirus (HPgV) in 5 of 10 (50%) of PD brains, confirmed by IHC in 2 of 2 cases, suggesting an association with PD. All 14 age- and sex-matched controls were HPgV negative. HPgV-brain positive patients with PD showed increased neuropathology by Braak stage and Complexin-2 levels, while those positive in the blood had higher IGF-1 and lower pS65-ubiquitin, supporting disruption in metabolism or mitophagy in response to HPgV. RNA-Seq revealed altered immune signaling in HPgV-infected PD samples, including consistent suppression of IL-4 signaling in both the brain and blood. Longitudinal analysis of blood samples showed a genotype-dependent viral response, with HPgV titers correlating directly with IL-4 signaling in a LRRK2 genotype-dependent manner. YWHAB was a key hub gene in the LRRK2 genotypic response, which exhibited an altered relationship with immune-related factors, including NFKB1, ITPR2, and LRRK2 itself, in patients with PD who are positive for HPgV. These results suggest a role for HPgV in shaping PD pathology and highlight the complex interplay between viral infection, immunity, and neuropathogenesis.

 
 
 

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