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Traumatismo Craniano e Neuroplasticidade: O Papel Promissor Dos Psicodélicos

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 24 de set.
  • 4 min de leitura
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O traumatismo cranioencefálico é uma condição grave que causa inflamação, morte de neurônios e dificuldades cognitivas e emocionais. Pesquisas recentes sugerem que psicodélicos como a como a psilocibina (encontrada em alguns cogumelos) e o 5-MeO-DMT (presente no veneno de um tipo de sapo e em certas plantas) podem ajudar na recuperação, estimulando a plasticidade do cérebro e protegendo suas células contra danos.


O traumatismo cranioencefálico, também chamado de TCE, acontece quando uma força externa atinge a cabeça ou o corpo com intensidade suficiente para alterar o funcionamento do cérebro. Essa lesão pode causar mudanças físicas, emocionais, psicológicas e cognitivas que podem durar pouco tempo ou se tornar permanentes.


Quedas são a causa mais comum desse tipo de trauma. Além do impacto imediato, o cérebro sofre um grande estresse mecânico, o que pode resultar em alterações estruturais e funcionais.


O cérebro humano tem uma capacidade impressionante de se adaptar, chamada de neuroplasticidade. Isso significa que, quando ocorre uma lesão, o cérebro pode criar novas conexões entre os neurônios ou reforçar as já existentes, ajudando na recuperação das funções perdidas.


Esses processos incluem a remodelação dos dendritos (as “ramificações” dos neurônios que recebem sinais), a criação de novas espinhas dendríticas (pequenos pontos de conexão entre neurônios) e a reorganização das redes cerebrais.


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Pesquisadores já tentaram desenvolver diversos tratamentos para o traumatismo cranioencefálico. Em testes com animais, substâncias chamadas neuroprotetores mostraram capacidade de reduzir a inflamação e a morte das células nervosas. No entanto, quando esses tratamentos passaram para testes em humanos, não tiveram o mesmo efeito. Esse “fracasso na tradução” entre estudos em animais e ensaios clínicos é um dos grandes desafios na área.


Diante dessas dificuldades, cientistas começaram a explorar o uso de substâncias psicodélicas, como a psilocibina (encontrada em alguns cogumelos) e o 5-MeO-DMT (presente no veneno de um tipo de sapo e em certas plantas). A psilocibina, depois de ingerida, se transforma em uma substância ativa chamada psilocina. Já o 5-MeO-DMT pode ser administrado de várias formas: fumado, inalado, por via oral, injeção ou até através da pele.


Nos últimos anos, esses compostos ganharam destaque porque, em estudos clínicos, mostraram eficácia no tratamento de depressão e ansiedade resistentes. Isso chamou a atenção de pesquisadores para seu possível uso também em lesões cerebrais.


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Tanto a psilocibina quanto o 5-MeO-DMT têm estruturas químicas semelhantes à serotonina, um neurotransmissor envolvido no humor, na memória e em várias funções cerebrais. Elas se ligam principalmente aos receptores 5-HT2A e 5-HT1A, que participam da regulação da consciência, percepção e processos emocionais.


Além disso, esses compostos ativam outros receptores relacionados à proteção e regeneração do cérebro, como os receptores TrkB (alvo da psilocibina) e os sigma-1 (alvo do 5-MeO-DMT). Esses receptores estão ligados à sobrevivência dos neurônios, à redução de inflamação e ao aumento da plasticidade cerebral.


Após um traumatismo, o cérebro sofre com inflamação, estresse oxidativo (danos causados por radicais livres), excesso de excitação dos neurônios e morte celular. A psilocibina e o 5-MeO-DMT atuam diminuindo os fatores inflamatórios e aumentando a ação de substâncias anti-inflamatórias, além de protegerem os neurônios contra a morte precoce. Estudos mostraram que esses efeitos também envolvem a regulação da microglia, células de defesa que ficam no sistema nervoso.


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Em experimentos com camundongos, a psilocibina aumentou de forma duradoura a densidade de  espinhas dendríticas no córtex pré-frontal, uma área importante para a memória e a tomada de decisões. Esse efeito permaneceu por até um mês após a administração. Isso sugere que a substância pode facilitar a recuperação cerebral após lesões.


A psilocibina e o 5-MeO-DMT apresentam perfis de segurança considerados bons. Até o momento, não há evidências de que causem dependência ou doenças psiquiátricas duradouras. Suas doses letais ainda não são conhecidas, mas não se espera que representem alto risco. 


A psilocibina é geralmente ingerida por via oral, enquanto o 5-MeO-DMT tem várias formas de administração. O tempo de ação varia: a psilocibina pode durar várias horas, enquanto o 5-MeO-DMT tende a ter efeitos mais curtos e intensos.


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O traumatismo cranioencefálico é uma condição grave e de difícil tratamento. Até agora, as terapias disponíveis não foram muito eficazes em ensaios clínicos. Os compostos psicodélicos, como a psilocibina e o 5-MeO-DMT, surgem como novas alternativas promissoras, já que demonstraram capacidade de reduzir inflamação, proteger os neurônios e aumentar a neuroplasticidade.


Embora os resultados sejam animadores, ainda são necessários mais estudos clínicos para confirmar sua eficácia e segurança em pacientes com traumatismo cranioencefálico.



LEIA MAIS:


Examining the potential of psilocybin and 5-MeO-DMT as therapeutics for traumatic brain injury

Zoe Plummer, Josh Allen, Justin Brand, Leah M. Mayo, Sandy R. Shultz, and Brian R. Christie 

Progress in Neuro-Psychopharmacology and Biological Psychiatry

Volume 141, 30 August 2025, 111448


Abstract: 


Traumatic brain injury (TBI) is a significant global health challenge, with limited effective treatments for its acute and chronic consequences. TBI is characterized by neuroinflammation, oxidative stress, impaired neuroplasticity, imbalances in neurotransmission, and cell death - factors that contribute to the development of neurological and psychiatric disorders. Emerging evidence suggests that serotonergic psychedelics psilocybin and 5-methoxy-N,N-dimethyltryptamine (5-MeO-DMT) may hold promise as treatments for TBI. These compounds promote neuroplasticity, exert anti-inflammatory and neuroprotective effects, and have shown efficacy in treating psychiatric conditions that share pathophysiological features with TBI. 5-HT1A and 5-HT2A receptors are implicated in their effects, but psilocybin also targets neurotrophic TrkB receptors, whereas 5-MeO-DMT targets sigma-1 receptors, known to have neuroprotective properties. This review integrates current preclinical and clinical research, highlighting both the shared and distinct mechanistic pathways through which psilocybin and 5-MeO-DMT may alleviate TBI-related impairments, such as cognitive and affective dysfunction and neuroinflammation. Additionally, the safety profiles, dosing paradigms, and clinical challenges of these psychedelics are critically examined. By bridging insights from psychedelic science and neurotrauma research, this review underscores the innovative potential of psilocybin and 5-MeO-DMT as adjunctive treatments for TBI, paving the way for novel interventions in neurorehabilitation.

 
 
 

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