TDAH: Por Que o Início Precoce Pode Levar a Uma Década de Remédios
- Lidi Garcia
- 26 de mai.
- 5 min de leitura

O TDAH é um transtorno que causa desatenção, agitação e impulsividade, principalmente em crianças e adolescentes. O tratamento com medicamentos, como o metilfenidato, pode ajudar a controlar os sintomas, mas ainda há dúvidas sobre seus efeitos a longo prazo. Um estudo na Finlândia mostrou que muitas crianças, especialmente meninos mais novos, usam esses remédios por vários anos. Isso destaca a importância de acompanhar de perto o uso e os efeitos desses medicamentos ao longo do tempo.
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade, mais conhecido como TDAH, é uma condição comum que afeta o desenvolvimento do cérebro. Crianças e adolescentes com TDAH geralmente apresentam dificuldade em prestar atenção, são muito agitadas (hiperativas) e agem de forma impulsiva, ou seja, fazem coisas sem pensar muito antes.
Esses sintomas podem atrapalhar bastante a vida escolar, social e até familiar. Estima-se que entre 3% e 7% das crianças tenham TDAH, e os sintomas costumam surgir entre os 7 e os 16 anos. Em muitos casos, o TDAH continua mesmo na vida adulta, em cerca da metade das pessoas diagnosticadas na infância, especialmente naquelas que também apresentam outros problemas psicológicos.
Medicamentos são uma das formas mais comuns de tratar o TDAH, e estudos bem controlados já mostraram que esses remédios podem ajudar bastante a reduzir os sintomas no curto prazo, geralmente ao longo de 3 meses. Além disso, quando o TDAH é tratado, há menor risco de acidentes, notas baixas na escola e comportamentos agressivos.

No entanto, ainda existem dúvidas sobre os benefícios a longo prazo desses medicamentos, pois os estudos mais longos são escassos ou têm limitações. Por exemplo, nem sempre os estudos conseguem separar bem os efeitos da medicação dos outros fatores que influenciam a vida da criança, como apoio familiar ou ambiente escolar.
Outro ponto importante é que os estudos mais positivos às vezes só incluem crianças que já responderam bem à medicação, o que pode deixar os resultados parecendo melhores do que realmente são.
Na Finlândia, por exemplo, as diretrizes médicas recomendam que crianças a partir de 6 anos com diagnóstico de TDAH considerem o uso de remédios, sendo o metilfenidato o mais indicado. Esse medicamento, que é um estimulante, tem sido usado por muitos anos e, em estudos de até seis meses, não mostrou causar efeitos colaterais graves.
Porém, é comum que cause efeitos menores, como dificuldade para dormir ou perda de apetite.

Mesmo assim, os cientistas destacam que as evidências sobre os efeitos positivos e negativos do uso contínuo desses medicamentos ainda são fracas, e os estudos que avaliam os efeitos de longo prazo com mais rigor são raros.
Com o aumento do uso desses remédios ao redor do mundo, surgiu uma preocupação: será que estamos tratando bem ou apenas mascarando os problemas? Há quem aponte que o uso prolongado possa atrapalhar o crescimento ou até levar a pior desempenho escolar em alguns casos.
Outro ponto é que muitos pacientes acabam parando de tomar a medicação com o tempo. Em um grande estudo de acompanhamento, por exemplo, menos de um terço das crianças continuava tomando o remédio após 8 anos, comparado com quase dois terços após pouco mais de 1 ano.
Ainda sabemos pouco sobre por quanto tempo as crianças realmente tomam os medicamentos para TDAH no mundo real. Alguns estudos sugerem que entre 50% e 75% continuam o tratamento após um ano, mas poucos acompanharam por mais tempo.

Um estudo recente, feito em nove países, mostrou que entre as crianças mais novas (de 4 a 11 anos), cerca de metade ainda estava em tratamento após cinco anos. Já entre os adolescentes, a tendência era abandonar a medicação mais cedo. Meninos e meninas apresentaram padrões parecidos.
Foi pensando nisso que um grupo de pesquisadores na Finlândia decidiu estudar com mais profundidade quanto tempo as crianças e adolescentes realmente continuam tomando remédios para TDAH.
Eles analisaram dados de quase 41 mil jovens entre 6 e 18 anos que iniciaram o tratamento entre 2008 e 2019. Para saber quanto tempo cada um usou o remédio, os cientistas consultaram registros nacionais de compras de medicamentos. O acompanhamento durou, em média, quase 4 anos.
Os resultados mostraram que, em média, os jovens tomaram os remédios por pouco mais de 3 anos. Meninos permaneceram em tratamento por mais tempo do que meninas.
Além disso, quanto mais jovem a criança começava o tratamento, mais tempo ela costumava permanecer usando a medicação. Os meninos entre 6 e 8 anos, por exemplo, foram os que ficaram mais tempo em tratamento, com uma média de mais de 6 anos.

Probabilidade de continuidade do uso de medicação para TDAH ao longo do tempo entre meninos, por faixa etária ao início do tratamento. A curva de Kaplan-Meier mostra que meninos que iniciaram o tratamento entre 6 e 8 anos (linha vermelha) apresentam a maior duração de uso da medicação, com mais de 50% ainda em tratamento após 6 anos. À medida que a idade de início aumenta, a duração do tratamento tende a ser menor. Meninos que começaram entre 16 e 18 anos (linha azul pontilhada) apresentaram a menor continuidade, com queda acentuada já nos primeiros anos. Isso sugere que quanto mais cedo o tratamento é iniciado, maior a chance de ele ser mantido por mais tempo.
Em resumo, esse estudo mostra que, na prática, o tratamento com medicamentos para TDAH pode durar muitos anos, especialmente entre os meninos mais novos, muito além dos prazos que costumam ser estudados em pesquisas clínicas tradicionais. Esses dados ajudam a entender melhor como o TDAH é tratado na vida real e apontam a importância de continuar estudando os efeitos e a segurança do uso prolongado desses remédios.
LEIA MAIS:
Duration of ADHD medication treatment among Finnish children and adolescents ‒ a nationwide register study.
Terhi A. Kolari, Miika Vuori, Hanna Rättö, Eveliina A. Varimo, Eeva T. Aronen, Kari Auranen, Leena K. Saastamoinen, and Päivi T. Ruokoniemi
Eur Child Adolesc Psychiatry (2025).
Abstract:
To study the duration of attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) medication treatment among children and adolescents by sex and age group in Finland during 2008–2019. This was a descriptive, population-based register study covering all Finnish children and adolescents aged 6–18 years who initiated their first ADHD medication treatment period between January 1, 2008 and December 31, 2019 (n = 40691). To establish the duration of use we collected data from the register of Dispensations reimbursable under the National Health Insurance Scheme register. The median follow-up time was 3.8 years (Q1 = 1.7, Q3 = 7.1). Treatment duration was calculated as the interval between the date of the first and last purchase with a cut-off of 365 days allowed between purchases. The durations were estimated using Kaplan-Meier survival times. The median duration of ADHD medication treatment was 3.2 years (95% CI 3.2, 3.3, Q1 = 1.0 95% CI 0.9, 1.0, Q3 = 6.8 95% CI 6.7, 7.0). Sex and age significantly influenced treatment duration (p <.0001 and p <.0001). Boys had longer treatment duration than girls and the younger the subject, the longer the duration of usage. Boys aged 6–8 years (32.4% of the subjects) exhibited the longest treatment duration with a median of 6.3 years (95% CI 6.2, 6.5, Q1 = 2.6 95% CI 2.5, 2.7, Q3 = 9.4 years 95% CI 9.2, 9.6). The duration of ADHD medication treatment among children in the real-world clinical setting goes well beyond the data available from randomized controlled trials and extends for several years especially among young boys.



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