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Surdez Genética Pode Ter Cura? Jovem De 24 Anos Ouve Pela Primeira Vez Com Terapia Inédita

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 7 de jul.
  • 4 min de leitura
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Cientistas testaram uma nova terapia gênica para tratar surdez genética em crianças e jovens de até 24 anos. O tratamento, feito com um vírus modificado que corrige o gene defeituoso no ouvido, foi seguro e mostrou melhora significativa na audição da maioria dos participantes em apenas um mês. Os melhores resultados foram vistos em crianças entre 5 e 8 anos. O estudo ainda está em andamento, mas os resultados iniciais são muito promissores.


A perda auditiva congênita, que afeta crianças desde o nascimento, pode ter diversas causas genéticas. Entre elas está a surdez autossômica recessiva tipo 9, causada por mutações no gene OTOF. Esse gene é essencial para o funcionamento adequado das células sensoriais da cóclea, estrutura do ouvido interno responsável por transformar o som em sinais elétricos para o cérebro. 


Nos últimos anos, a terapia gênica, uma técnica que busca corrigir genes defeituosos, tem mostrado resultados promissores para tratar essa forma de surdez, especialmente em crianças pequenas. No entanto, ainda há dúvidas sobre a eficácia e segurança desse tratamento em pessoas mais velhas. 

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Com isso em mente, pesquisadores conduziram um ensaio clínico na China com dez participantes, entre 1,5 e 23,9 anos de idade, todos diagnosticados com a mesma condição genética. 


A terapia utilizada consistiu em introduzir uma cópia funcional do gene OTOF usando um vetor viral chamado AAV (vírus adenoassociado), uma tecnologia já conhecida por sua segurança em outras terapias. O vírus modificado age como um "carregador" que entrega o gene correto diretamente nas células do ouvido.


Todos os participantes receberam o tratamento em apenas um dos ouvidos.

O objetivo principal do estudo era avaliar se o tratamento seria seguro e bem tolerado ao longo de 5 anos. Até o momento, após um acompanhamento de 6 a 12 meses, os resultados iniciais são animadores: não houve efeitos colaterais graves. 

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Foram registrados 162 eventos adversos leves ou moderados (graus I e II), sendo o mais comum uma leve redução na quantidade de neutrófilos (um tipo de célula do sistema imunológico),  observada em 16 casos. Um dos pacientes recebeu duas aplicações do tratamento para investigar os efeitos dessa repetição.


Mais importante ainda, todos os participantes apresentaram melhora significativa na audição. O nível médio de audição (medido pelo limiar de tom puro) melhorou de cerca de 106 decibéis (indicando surdez profunda) para 52 decibéis, o que pode representar uma melhora funcional relevante, permitindo a percepção de sons do dia a dia. 


Outros testes que avaliam a atividade elétrica do nervo auditivo e do cérebro (como o ABR e a resposta auditiva de estado estável) também mostraram avanços consistentes. Testes auditivos como o ABR de clique e o ABR de tom explosivo são exames que medem como o cérebro responde aos sons. 


No ABR (Resposta Auditiva do Tronco Encefálico), pequenos eletrodos colocados na cabeça registram a atividade elétrica do nervo auditivo e do cérebro em resposta a estímulos sonoros. O ABR de clique usa sons rápidos e curtos (cliques), enquanto o ABR de tom explosivo utiliza sons mais específicos e direcionados a diferentes frequências. Esses testes são essenciais para avaliar a audição, especialmente em pessoas que não conseguem responder ativamente, como bebês ou pacientes inconscientes.

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Teste ABR, o qual avalia a atividade elétrica do nervo auditivo e do cérebro. 


Os pesquisadores observaram que a maior parte da melhora auditiva ocorreu logo no primeiro mês após a aplicação da terapia, indicando um efeito relativamente rápido. Além disso, alguns testes auditivos, como o ABR de clique e o ABR de tom explosivo, conseguiram prever com boa precisão quais pacientes teriam os melhores resultados auditivos após quatro meses, o que pode ajudar a guiar futuros tratamentos.


Um dado interessante foi o impacto da idade dos participantes: crianças entre 5 e 8 anos tiveram as respostas mais positivas, sugerindo que existe uma "janela de oportunidade" ideal para aplicar a terapia gênica e obter os melhores resultados. Ainda assim, melhorias foram vistas também em pacientes mais velhos, o que é encorajador.


Em resumo, esse estudo oferece uma das evidências mais fortes até agora de que a terapia gênica para surdez genética pode ser segura e eficaz em humanos, mesmo fora da primeira infância. Embora os resultados ainda sejam preliminares e o acompanhamento continue, eles marcam um avanço importante no tratamento de perdas auditivas genéticas e oferecem esperança para muitas famílias.



LEIA MAIS:


AAV gene therapy for autosomal recessive deafness 9: a single-arm trial

Jieyu Qi, Liyan Zhang, Ling Lu, Fangzhi Tan, Cheng Cheng, Yicheng Lu, Wenxiu Dong, Yinyi Zhou, Xiaolong Fu, Lulu Jiang, Chang Tan, Shanzhong Zhang, Sijie Sun, Huaien Song, Maoli Duan, Dingjun Zha, Yu Sun, Xia Gao, Lei Xu, Fan-Gang Zeng, and Renjie Chai 

Nature Medicine (2025)


Abstract: 


Gene therapy for congenital deafness has shown promising results in children but lacks data in older populations. We conducted a single-arm trial of adeno-associated virus (AAV)-OTOF gene therapy using the Anc80L65 capsid in ten participants with autosomal recessive deafness 9 aged 1.5 to 23.9 years at five sites in China. The primary endpoints were safety and tolerability within 5 years, and secondary endpoints assessed auditory function. Initial findings from the ten patients with 6–12 months of follow-up, including one patient who received two injections, revealed that the therapy was well tolerated, with 162 grade I/II adverse events. Decreased neutrophil percentage was the most common event (16 of 162). All ten participants had at least 6 months of follow-up and improved their pure-tone-average hearing level from baseline 106 ± 9 (mean ± s.d.) to 52 ± 30 decibels (dB). Other secondary endpoints showed similar improvements, including the average click auditory brainstem response (ABR) threshold, the tone-burst ABR threshold and the auditory steady-state response (101 ± 1 to 48 ± 26 dB, 91 ± 4 to 57 ± 19 dB and 80 ± 14 to 64 ± 21 dB, respectively). Post hoc analyses were conducted to evaluate the timecourse and factors contributing to the hearing improvement. Therapeutic effect was rapid, taking 1 month to achieve most of the overall hearing improvement. On an individual level, click and tone-burst ABR thresholds, but not the auditory steady-state response, reliably predicted the behavioral pure-tone-average thresholds after 4 months (R2 = 0.68, 0.73 and 0.17, respectively). An age-dependent therapeutic effect was observed, with optimal outcomes in 5- to 8-year-olds. These preliminary results show that AAV-OTOF was safe and well tolerated in patients ranging from toddlerhood to adulthood. The trial remains ongoing and requires extended follow-up to confirm the long-term safety and efficacy. ClinicalTrials.gov registration: NCT05901480.

 
 
 

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