Remédio Semanal Para Esquizofrenia Promete Mais Liberdade E Adesão
- Lidi Garcia
- há 20 horas
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Cientistas criaram uma cápsula que precisa ser tomada apenas uma vez por semana para tratar a esquizofrenia. Dentro do estômago, ela se abre e libera o remédio aos poucos, mantendo o efeito durante vários dias. Isso ajuda quem tem dificuldade de lembrar de tomar o remédio todo dia e pode evitar recaídas. Os resultados mostraram que ela funciona tão bem quanto o comprimido diário e tem poucos efeitos colaterais.
A esquizofrenia é um transtorno mental crônico que pode causar alucinações, delírios, dificuldades no pensamento e alterações no comportamento. Para manter os sintomas sob controle, é essencial que os pacientes tomem os medicamentos corretamente e de forma regular.
Porém, na prática, muitas pessoas com esquizofrenia esquecem ou têm dificuldade em seguir o tratamento diariamente, o que pode levar ao agravamento dos sintomas, recaídas e até internações.
Para tentar resolver esse problema, cientistas desenvolveram uma nova cápsula chamada LYN-005, que precisa ser ingerida apenas uma vez por semana, mas mantém o remédio agindo no corpo durante vários dias.

Essa cápsula contém um dispositivo especial, criado por pesquisadores do MIT em parceria com a empresa Lyndra Therapeutics. Quando a pessoa engole a cápsula (que tem o tamanho aproximado de um multivitamínico), ela se dissolve no estômago e libera um pequeno dispositivo em forma de estrela com seis braços dobráveis.
Esses braços se abrem dentro do estômago, fazendo com que o dispositivo fique grande demais para sair pela saída do estômago (o piloro). Assim, ele permanece lá durante cerca de uma semana, liberando aos poucos a risperidona, que é o remédio usado no controle da esquizofrenia. Após liberar todo o medicamento, o dispositivo se parte em pedaços menores que são eliminados naturalmente pelo sistema digestivo.

A cápsula ingerível tem aproximadamente o tamanho de um multivitamínico e, uma vez ingerida, expande-se em forma de estrela, o que a ajuda a permanecer no estômago até que todo o medicamento seja liberado.
Para verificar se essa nova forma de administração do remédio era segura e eficaz, os pesquisadores realizaram um estudo de fase 3, envolvendo 83 pessoas com esquizofrenia ou transtorno esquizoafetivo.
Esses participantes estavam clinicamente estáveis e permaneceram internados em centros especializados nos Estados Unidos por cinco semanas, com exceção de alguns dias em que podiam ficar fora.
Durante o estudo, eles receberam cinco doses semanais da nova cápsula LYN-005, além de uma pequena dose diária de risperidona apenas na primeira semana para ajudar na adaptação. Os cientistas acompanharam de perto a quantidade do remédio no sangue (farmacocinética) e os efeitos sobre os sintomas.

Os resultados mostraram que a cápsula semanal conseguiu manter os níveis de risperidona no sangue dentro da faixa considerada ideal para controlar os sintomas, de forma parecida ao que ocorre quando a pessoa toma o comprimido tradicional todos os dias.
Além disso, os pacientes permaneceram clinicamente estáveis durante todo o estudo. Houve também menos variações no nível do remédio ao longo da semana, o que é importante para garantir um tratamento mais constante.
Os efeitos colaterais observados foram geralmente leves, sendo os mais comuns os relacionados ao sistema gastrointestinal, como refluxo ácido e constipação (intestino preso), principalmente no início do tratamento.
Apenas um caso mais grave foi registrado, e não houve sinais inesperados de risco à saúde. Esse resultado foi considerado um marco importante na busca por formas de tratamento que sejam mais fáceis e práticas para os pacientes.

Hoje em dia, além dos comprimidos diários, existem formas injetáveis de risperidona que podem ser aplicadas a cada duas semanas, mensalmente ou a cada dois meses, mas que precisam ser dadas por profissionais de saúde e nem sempre agradam aos pacientes.
A nova cápsula oferece uma opção oral (ou seja, que o próprio paciente pode tomar) que mantém o efeito prolongado, o que pode ajudar muito na adesão ao tratamento, principalmente para quem prefere evitar injeções ou tem dificuldades em lembrar de tomar o remédio todos os dias.
Os pesquisadores agora pretendem fazer estudos maiores para confirmar esses resultados e buscar a aprovação da FDA (agência reguladora dos EUA). Além disso, já estão planejando testar essa tecnologia com outros medicamentos, como anticoncepcionais.

Giovanni Traverso, professor associado de engenharia mecânica no MIT, gastroenterologista no Hospital Brigham and Women's, membro associado do Broad Institute e autor do estudo. Crédito: Adam Glanzman
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Long-acting oral weekly risperidone (LYN-005) for schizophrenia in the USA (STARLYNG-1): a multicentre, open-label, non-randomised phase 3 trial
Leslie Citrome, Nayana Nagaraj, Giovanni Traverso, Todd Dumas and Richard Scranton
The Lancet Psychiatry, Volume 12, Issue 7, 504 - 512
DOI: 10.1016/S2215-0366(25)00135-X
Abstract:
Medication non-adherence and insufficiently managed disease worsen outcomes in people with schizophrenia. We aimed to compare the bioavailability of a long-acting oral weekly formulation of risperidone, LYN-005, with daily oral risperidone at steady state. In this open-label, non-randomised, phase 3 trial, clinically stable participants with schizophrenia or schizoaffective disorder were enrolled from five sites across the USA while residing in an inpatient facility for 5 weeks (with the exception of days 9–13). After a 7-day run-in period with immediate-release risperidone (2 mg or 6 mg), participants received five doses of long-acting oral weekly LYN-005 (15 mg or 45 mg, respectively), with a supplemental half dose of daily immediate-release risperidone during week 1. Primary endpoints compared pharmacokinetic parameters of LYN-005 (minimum concentration [Cmin] at weeks 1 and 5, and maximum concentration [Cmax] and average concentration [Cavg] at week 5) with those of immediate-release risperidone on the last day of the run-in period. Prespecified primary endpoint criteria were geometric mean ratios for Cmin at week 1 and week 5 (90% CI ≥0·8), Cmax at week 5 (90% CI ≤1·25), and Cavg at week 5 (0·8 ≤90% CI ≤1·4). No people with lived experience were involved in the study design. This study was registered with ClinicalTrials.gov, NCT05779241, and has been completed. Between April 13, 2023 and Dec 1, 2023, 83 participants were enrolled in the study (62 [75%] male and 21 [25%] female; 67 [81%] Black or African American, mean age 49·3 years [SD 11·5]), of whom 47 participants completed the 5-week study. In the pharmacokinetic analysis (n=44), sustained release of the active moiety was observed across all doses of LYN-005. Geometric mean ratios of LYN-005 versus immediate-release risperidone were 1·02 (90% CI 0·93–1·12) for Cmin at week 1, and 1·04 (90% CI 0·87–1·23), 0·84 (0·77–0·92), and 1·03 (0·93–1·13) for Cmin, Cmax, and Cavg, respectively, at week 5 and met predetermined criteria. In individuals taking LYN-005 (n=67), gastrointestinal treatment-emergent adverse events were most common (44 [66%] participants), with one serious treatment-emergent adverse event reported. Weekly LYN-005 provided sustained release of risperidone at therapeutic concentrations with similar bioavailability to immediate-release risperidone. Patients remained clinically stable and no unexpected safety signals emerged. This offers a novel long-acting oral drug delivery technology for schizophrenia and schizoaffective disorder.
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