Remédio Para Tosse Barato e Popular Pode Ter Efeito Protetor No Cérebro Com Parkinson
- Lidi Garcia
- 10 de jul.
- 4 min de leitura

Um estudo testou o uso do ambroxol, um remédio comum para tosse, em pessoas com demência causada pela doença de Parkinson. A ideia era ver se ele ajudaria a proteger o cérebro, já que aumenta uma enzima ligada à limpeza de proteínas tóxicas. O remédio foi seguro e aumentou essa enzima no cérebro, mas não melhorou a memória nem o raciocínio dos pacientes. Mais pesquisas, com mais pessoas e por períodos mais longos, serão necessárias para saber se esse medicamento poderá de fato ajudar no tratamento da demência na doença de Parkinson.
A doença de Parkinson é conhecida principalmente por afetar os movimentos, como tremores, rigidez e lentidão, mas em muitos casos, ela também evolui para problemas de memória e raciocínio, levando à demência. Isso é chamado de demência da doença de Parkinson (DDP).
Pesquisadores já sabem que uma substância chamada β-glicocerebrosidase, que ajuda a limpar resíduos nas células do cérebro, tem um papel importante nisso. Quando há uma variação genética que afeta essa substância, o risco de desenvolver demência na doença de Parkinson aumenta.
Além disso, níveis mais altos dessa enzima podem ajudar a reduzir o acúmulo de uma proteína chamada α-sinucleína, que está ligada aos danos cerebrais no Parkinson.

Pensando nisso, cientistas resolveram estudar o ambroxol, um medicamento comum usado para aliviar a tosse, mas que também atua como uma “chaperona”, ou seja, ajuda a enzima β-glicocerebrosidase a funcionar melhor e a chegar onde é necessária.
O objetivo do estudo foi verificar se o ambroxol é seguro para pacientes com demência da doença de Parkinson e se ele pode, de alguma forma, melhorar ou retardar o avanço dos problemas cognitivos (de memória e pensamento).
Esse estudo foi feito como um ensaio clínico rigoroso, do tipo chamado randomizado, duplo-cego e controlado por placebo. Isso significa que os participantes foram sorteados para tomar o medicamento ou um placebo (uma substância sem efeito), e nem os pacientes nem os médicos sabiam quem estava recebendo o quê, para evitar influências nos resultados.
O estudo envolveu pacientes com mais de 50 anos que tinham Parkinson há pelo menos um ano e que já apresentavam sinais leves ou moderados de demência. Todos estavam em tratamento estável e acompanhados por um parceiro (como familiar ou cuidador). O estudo durou cerca de um ano.

Os participantes foram divididos em três grupos: um tomou dose baixa de ambroxol (525 mg por dia), outro tomou dose alta (1050 mg por dia), e o terceiro grupo recebeu placebo. Ao longo do estudo, os pesquisadores acompanharam os pacientes para ver se o medicamento causava efeitos colaterais, se era bem tolerado, e se ajudava em aspectos como memória, cognição e bem-estar geral.
No total, 55 pessoas participaram do estudo. Como esperado, o grupo que tomou ambroxol teve mais efeitos colaterais leves, principalmente no sistema digestivo, como desconforto gástrico. No entanto, os efeitos foram considerados toleráveis.
Quando os cientistas analisaram os dados, eles viram que o ambroxol realmente aumentou os níveis da enzima β-glicocerebrosidase no sangue e no líquido ao redor do cérebro, o que mostra que ele estava atingindo seu alvo.

Apesar desse avanço biológico, o ambroxol não mostrou uma melhora clara nos sintomas de memória ou cognição em comparação com o placebo. Ou seja, embora tenha havido um aumento da enzima desejada, isso ainda não se traduziu em benefício clínico visível para os pacientes ao longo do tempo do estudo.
Em resumo, o estudo mostrou que o ambroxol é seguro e atinge seu objetivo biológico em pessoas com demência associada ao Parkinson. No entanto, ainda não há evidência de que ele melhore os sintomas cognitivos. Mais pesquisas, com mais pessoas e por períodos mais longos, serão necessárias para saber se esse medicamento poderá de fato ajudar no tratamento da demência na doença de Parkinson.
LEIA MAIS:
Ambroxol as a Treatment for Parkinson Disease Dementia
A Randomized Clinical Trial
Carolina R. A. Silveira, Kristy K. L. Coleman, Kathy Borron, Rommel G. Tirona, Charles A. Rupar, Guangyong Zou, Robert A. Hegele,
Cheryl Wellington, Sophie Stukas, Elizabeth C. Finger, Robert Bartha, Sarah A. Morrow, Jennie L. Wells, Michael J. Borrie, Don Mahuran, Penny A. MacDonald, Mary E. Jenkins, Mandar S. Jog, George Dresser, Susan Fox,
Richard Camicioli, Brian Feagan, Daniel A. Mendonça, Michael Mayich, Manas D. Sharma, Sachin K. Pandey, and Stephen H. Pasternak
JAMA Neurol. Published Online: June 30, 2025
doi: 10.1001/jamaneurol.2025.1687
Abstract:
Carrying a variation in the gene for β-glucocerebrosidase is a major risk factor for Parkinson disease dementia (PDD), and raising β-glucocerebrosidase levels lowers α-synuclein in cell and animals. Ambroxol is a chaperone for β-glucocerebrosidase, which increases the levels of β-glucocerebrosidase. To examine the safety and tolerability of ambroxol in PDD, test the efficacy of ambroxol in improving or slowing the progression of cognitive deficits, and acquire pharmacological data. This was a 52-week, phase 2, double-blind, placebo-controlled, randomized clinical trial conducted from February 2015 to June 2023. The study took place at a single center and was referral based. Included were patients with PDD who were older than 50 years, had Parkinson disease for at least 1 year before cognitive impairment, had mild to moderate dementia, were taking stable medications, and had a study partner. Ambroxol low dose (525 mg per day), high dose (1050 mg per day), or placebo. Safety and tolerability outcomes were adverse events. Primary efficacy outcomes were the Alzheimer Disease Assessment Scale–cognitive subscale, version 13 (ADAS-Cog-13) and Clinician’s Global Impression of Change (CGIC). A total of 75 patients were screened, and 55 were randomized. Thirty-one individuals received ambroxol, with 8 patients (mean [SD] age, 78.8 [3.4] years, all male) in the low-dose group and 22 patients (mean [SD] age, 70.7 [7.6]; 19 male [86.4%]) in the high-dose group. One patient was excluded from the high-dose group due to a diagnosis of progressive supranuclear palsy. A total of 24 patients (mean [SD] age, 72.7 [6.3] years; 19 male [79.2%]) were included in the placebo group. Participants receiving ambroxol (23 of 193 adverse events [12%]) showed more gastrointestinal adverse events than those receiving placebo (9 of 172 adverse events [5%]). Statistical analyses compared ambroxol high dose vs placebo. There was no evidence to suggest differences between groups on primary or secondary outcomes. Mean (SD) ambroxol high-dose concentrations were 7.48μM (3.17μM; 95% CI, 6.08-8.87μM) in plasma and 0.73μM (0.07μM; 95% CI, 0.64-0.81μM) in cerebrospinal fluid at the end of titration. Mean (SD) β-glucocerebrosidase levels were higher at week 26 (ambroxol, 12.45 [1.97] nmol/h/mg; 91% CI, 11.54-13.36 nmol/h/mg); placebo, 8.50 [1.96] nmol/h/mg; 91% CI, 7.65-9.34 nmol/h/mg; P = .05) in the ambroxol group compared with placebo. Results of this randomized clinical trial reveal that ambroxol was safe, well-tolerated, and demonstrated target engagement. However, the effect of ambroxol on cognition was not confirmed.
Trial Registration ClinicalTrials.gov Identifier: NCT02914366



Comentários