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Quando o TikTok Fala Mais Alto Que a Ciência: Desinformação Sobre TDAH e Seus Riscos

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 8 de jul.
  • 5 min de leitura
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O TikTok tem muitos vídeos sobre TDAH, mas grande parte deles contém informações erradas. Um estudo com universitários mostrou que ver esses vídeos pode fazer as pessoas acreditarem que sabem mais do que realmente sabem, e ainda assim quererem buscar tratamento, inclusive métodos sem comprovação científica. Isso mostra como conteúdos populares, mesmo imprecisos, podem influenciar decisões de saúde mental.


Nos últimos anos, o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) ganhou enorme visibilidade nas redes sociais, especialmente no TikTok. O TikTok é uma plataforma de mídia social com alto tráfego, com 1,7 bilhão de usuários mensais, sendo a maior parte deles em idade universitária (18 a 24 anos). 


Há mais de 28 bilhões de visualizações em vídeos com #TDAH no TikTok, e a mídia social está entre as fontes mais frequentemente usadas para buscar informações sobre TDAH. Essa explosão de conteúdo coincide com o aumento do uso das redes por jovens adultos que buscam cada vez mais informações sobre saúde mental online. 


No entanto, essa popularidade também trouxe um problema preocupante: uma grande parte do conteúdo sobre TDAH no TikTok contém desinformação, ou seja, informações incorretas, porém não intencionalmente falsas. Isso levanta dúvidas sobre como esse conteúdo afeta o conhecimento real das pessoas, seus preconceitos sobre o transtorno e suas decisões sobre procurar tratamento.

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Estudos anteriores já mostraram que a maioria dos vídeos populares sobre TDAH no TikTok não são cientificamente precisos. Isso é preocupante, pois o acesso a informações incorretas pode dificultar o reconhecimento de sintomas reais e levar ao uso de tratamentos ineficazes. 


A teoria mais aceita sobre como as pessoas decidem procurar tratamento, o Modelo de Informação-Motivação-Comportamento (IMB), afirma que informação correta, motivação (como o desejo de melhorar a saúde e o baixo preconceito em relação ao transtorno) e habilidades práticas (como saber onde e como buscar ajuda) são essenciais para que uma pessoa procure atendimento adequado. 


Assim, a desinformação pode prejudicar esse processo ao reduzir o conhecimento preciso e aumentar o estigma.


Curiosamente, apesar da previsão do modelo IMB de que a desinformação levaria à menor busca por tratamento, está acontecendo o contrário: nos últimos anos, houve um aumento expressivo na procura por diagnóstico e tratamento de TDAH no mundo. Isso levou à escassez de medicamentos e ao crescimento das filas de espera por atendimento. 

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Uma possível explicação para essa contradição é que, embora o conteúdo do TikTok não seja sempre preciso, ele é visto como altamente crível ou confiável, muitas vezes por ser divertido, envolvente e apresentar pessoas com quem o público se identifica. Isso pode reforçar a sensação de que a pessoa “se reconhece” nos vídeos, mesmo quando eles não são cientificamente corretos.


Com base nessas questões, um estudo foi conduzido para avaliar experimentalmente os efeitos da desinformação sobre TDAH no TikTok. Foram recrutados 490 estudantes universitários, todos sem histórico de tratamento para TDAH, que foram divididos em três grupos: um que assistiu a vídeos com informações precisas sobre TDAH, outro com desinformação, e um grupo controle.  


Antes e depois de assistir aos vídeos, os participantes responderam a questionários sobre seus conhecimentos sobre TDAH, preconceitos e intenção de buscar tratamento.

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Os resultados mostraram que os participantes expostos à desinformação sabiam menos sobre o TDAH, mas, paradoxalmente, se sentiam mais confiantes em seu conhecimento. Além disso, esse grupo demonstrou maior intenção de buscar tratamento, tanto baseado em evidências (como medicamentos e psicoterapia) quanto em métodos não comprovados. 


O grupo que viu conteúdo preciso apresentou mais conhecimento verdadeiro e também aumentou a confiança no que sabia. Por outro lado, não houve diferença significativa no nível de estigma entre os grupos, ou seja, os vídeos não pareceram alterar o preconceito em relação ao TDAH.  

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Este gráfico mostra como o tipo de conteúdo assistido (informação precisa, desinformação ou nenhum conteúdo, controle) afeta o quanto as pessoas sabem sobre TDAH e o quanto elas confiam nesse conhecimento. À esquerda, vemos que quem assistiu a vídeos com desinformação teve uma queda na precisão do conhecimento sobre TDAH, enquanto quem viu informações corretas teve um pequeno aumento, e o grupo controle teve uma leve queda. À direita, vemos que tanto quem assistiu a desinformação quanto a informação correta aumentou sua confiança no que sabe sobre TDAH,  mesmo quando o conteúdo era falso. Isso mostra que vídeos no TikTok, mesmo quando incorretos, podem fazer as pessoas acreditarem que sabem mais do que realmente sabem.


Um achado importante foi que quanto mais os vídeos eram percebidos como entretenimento, maior era a intenção de buscar tratamento, mostrando como o fator emocional pode ser mais influente do que a veracidade das informações.


Em resumo, o estudo mostra que o TikTok pode ser uma arma de dois gumes: por um lado, ele ajuda a despertar interesse no TDAH e motiva as pessoas a procurar ajuda; por outro, ele pode disseminar informações erradas, o que aumenta a confiança em ideias falsas e pode levar ao uso de tratamentos inadequados.


Esses achados destacam a importância de criar estratégias para promover conteúdo confiável e acessível sobre saúde mental nas redes sociais, ajudando o público jovem a tomar decisões mais informadas e seguras sobre sua saúde.



LEIA MAIS:


Misinformation mayhem: the effects of TikTok content on ADHD knowledge, stigma, and treatment-seeking intentions

Ashley Schiros, Nick Bowman, and Kevin Antshel 

Eur Child Adolesc Psychiatry (2025). 


Abstract: 


Attention Deficit/Hyperactivity Disorder (ADHD) content on TikTok is popular among college students, yet ADHD misinformation is prevalent on TikTok. This study aims to experimentally investigate the effects of TikTok ADHD misinformation content on ADHD knowledge, stigma, and treatment-seeking intentions. An experimental design assessed the impact of ADHD (mis)information among treatment-naïve college students. A pilot phase was completed to develop TikTok stimuli, using a systematic content analysis, and provide initial evidence of feasibility. In the main study, participants (N = 490) were randomly assigned to one of three conditions (accurate ADHD information, ADHD misinformation, control) to view TikTok content. A baseline measure of ADHD knowledge was completed pre-content-viewing. Following content-viewing, participants completed measures assessing ADHD-related knowledge, stigma, and treatment-seeking intentions. Participants exposed to ADHD misinformation exhibited significantly less accurate ADHD knowledge, but higher confidence in their ADHD knowledge post-content-viewing. Participants exposed to accurate ADHD content exhibited significantly more ADHD knowledge and confidence in their knowledge post-content-viewing. The ADHD misinformation group reported higher intentions to seek both evidence-based and non-evidence-based ADHD treatment. No significant effects of content condition on ADHD stigma were found. Perceived entertainment of TikTok content was significantly associated with ADHD knowledge and treatment-seeking intentions. TikTok ADHD misinformation decreases ADHD knowledge yet increases confidence in that knowledge as well as ADHD treatment-seeking intentions. These findings provide an essential first step in understanding the potential harms of TikTok misinformation on the individual and public levels.

 
 
 

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