Quando Falta Sódio, Sobra Medo: A Química Oculta Da Ansiedade
- Lidi Garcia
- 2 de jul.
- 4 min de leitura

A hiponatremia crônica é quando o nível de sódio no sangue fica baixo por muito tempo. Esse problema, antes visto como sem sintomas importantes, pode causar ansiedade e mudanças no humor porque afeta substâncias químicas no cérebro, como a serotonina e a dopamina. Um estudo com camundongos mostrou que, ao corrigir o nível de sódio, esses sintomas melhoraram. Isso reforça a importância de tratar a hiponatremia para proteger a saúde mental.
A hiponatremia é uma condição médica caracterizada pela baixa concentração de sódio no sangue. O sódio é um mineral essencial para o funcionamento adequado do corpo, pois ajuda a manter o equilíbrio de fluidos dentro e fora das células e é importante para a transmissão de impulsos nervosos e para o funcionamento muscular.
Por muito tempo, a hiponatremia, especialmente quando ocorre de forma crônica (ou seja, por um período prolongado), foi considerada um problema sem sintomas relevantes, já que o cérebro consegue se adaptar ao ambiente com pouco sódio.
Porém, pesquisas mais recentes, como o estudo realizado pela equipe do Professor Yoshihisa Sugimura na Universidade de Saúde de Fujita, no Japão, indicam que essa adaptação do cérebro tem um custo: pode gerar alterações no comportamento e até sintomas psicológicos, como ansiedade.

O estudo em questão teve como objetivo entender se a hiponatremia crônica (HCC) poderia estar ligada ao surgimento de comportamentos semelhantes à ansiedade e de que forma isso ocorre no cérebro.
Para isso, os cientistas criaram um modelo com camundongos que simulava uma condição humana chamada síndrome da antidiurese inapropriada (SIAD), uma das causas comuns da hiponatremia.
Eles fizeram isso administrando uma substância chamada desmopressina, que imita o hormônio vasopressina, e oferecendo uma dieta líquida, o que levou os camundongos a desenvolverem hiponatremia crônica.

Durante os experimentos, foi possível observar que os animais com baixos níveis de sódio no sangue apresentavam mais comportamentos típicos de ansiedade em testes comportamentais usados na ciência para avaliar esse tipo de emoção, como o teste de transição claro/escuro (que mede o medo de ambientes abertos e iluminados) e o teste de campo aberto (que avalia a disposição para explorar novos espaços).
Além dos testes de comportamento, os pesquisadores também analisaram o cérebro dos camundongos e descobriram algo interessante: os níveis de dois neurotransmissores muito importantes para o humor e as emoções, serotonina e dopamina, estavam reduzidos na amígdala, uma área do cérebro que tem papel central no processamento do medo e da ansiedade.

Exemplo de teste comportamental para ansiedade. Areas abertas e desprotegidas sao traduzidas como perigosas. A ansiedade é relacionada com o medo excessivo de estar em essas areas. Quanto mais tempo o camundongo passa nas areas abertas e desprotegidas, menos ansiedade ele tem.
Além disso, os cientistas observaram uma diminuição na atividade de uma proteína chamada ERK, envolvida na regulação de respostas emocionais. Isso sugere que o baixo nível de sódio no sangue interfere na química do cérebro de forma que pode aumentar a ansiedade.
Um dos pontos mais relevantes do estudo foi a demonstração de que essas alterações são reversíveis. Quando os pesquisadores interromperam a administração da desmopressina e voltaram a oferecer uma dieta sólida, os níveis de sódio dos camundongos voltaram ao normal.
Como consequência, os comportamentos semelhantes à ansiedade diminuíram e os níveis de serotonina, dopamina e a atividade da proteína ERK na amígdala também se normalizaram. Esses resultados indicam que o tratamento adequado da hiponatremia crônica não só corrige o problema físico do baixo sódio, mas também pode aliviar sintomas psicológicos como a ansiedade, melhorando a qualidade de vida dos pacientes.

Em resumo, esse estudo reforça a importância de identificar e tratar a hiponatremia crônica de forma eficiente. Ele também abre caminho para novas abordagens terapêuticas que considerem o impacto da hiponatremia no cérebro e no comportamento, além dos efeitos no corpo como um todo.
Para médicos e profissionais da saúde, isso significa estar atento não apenas aos exames laboratoriais, mas também aos sinais emocionais e comportamentais dos pacientes com essa condição.
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Chronic Hyponatremia Potentiates Innate Anxiety-Like Behaviors Through the Dysfunction of Monoaminergic Neurons in Mice
Haruki Fujisawa, Nobuhiko Magara, Shogo Nakayama, Sachiho Fuse, Naoko Iwata, Masaya Hasegawa, Hisayoshi Kubota, Hirotaka Shoji, Satoko Hattori, Hideo Hagihara, Hidetsugu Fujigaki, Yusuke Seino, Akihiro Mouri, Tsuyoshi Miyakawa, Toshitaka Nabeshima, Atsushi Suzuki, and Yoshihisa Sugimura
Mol Neurobiol (2025)
Abstract:
Hyponatremia is the most common clinical electrolyte disorder. Once thought to be asymptomatic in response to adaptation by the brain, recent evidence suggests that chronic hyponatremia (CHN) may induce neurological manifestations, including psychological symptoms. However, the specific psychological symptoms induced by CHN, the mechanisms underlying these symptoms, and their potential reversibility remain unclear. Therefore, this study aimed to determine whether monoaminergic neurotransmission is associated with innate anxiety-like behaviors potentiated by CHN in a mouse model of CHN secondary to the syndrome of inappropriate antidiuresis. In the present study, using a mouse model of the syndrome of inappropriate antidiuresis presenting with CHN, we showed that the sustained reduction of serum sodium ion concentrations potentiated innate anxiety-like behaviors in the light/dark transition and open field tests. We also found that serotonin and dopamine levels in the amygdala were significantly lower in mice with CHN than in controls. Additionally, phosphorylation of extracellular signal-regulated kinase (ERK) in the amygdala was significantly reduced in mice with CHN. Notably, after correcting for CHN, the increased innate anxiety-like behaviors, decreased serotonin and dopamine levels, and reduced phosphorylation of ERK in the amygdala were normalized. These findings further underscore the importance of treating CHN and highlight potential therapeutic strategies for alleviating anxiety in patients with CHN, which will improve their quality of life.



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