Cannabis Mostra Potencial No Combate à Insônia e Ansiedade
- Lidi Garcia
- 4 de set.
- 4 min de leitura

A insônia é um distúrbio do sono que afeta milhões de pessoas no mundo, dificultando dormir ou manter o sono e prejudicando a saúde física, mental e a qualidade de vida. Os tratamentos atuais, como terapia cognitivo-comportamental e medicamentos, nem sempre funcionam bem a longo prazo. Pesquisas recentes sugerem que medicamentos à base de cannabis podem melhorar a qualidade do sono e reduzir sintomas de ansiedade em pacientes com insônia, mas ainda faltam estudos maiores e de longo prazo para confirmar sua eficácia e segurança.
A insônia é um dos distúrbios do sono mais comuns. Ela acontece quando a pessoa tem dificuldade para pegar no sono, acorda várias vezes durante a noite ou desperta muito cedo de manhã e não consegue voltar a dormir. Para que seja considerado um problema clínico, essas dificuldades precisam ocorrer pelo menos três vezes por semana, durante mais de três meses, mesmo quando a pessoa tem condições adequadas para dormir.
Aproximadamente um terço da população apresenta sintomas de insônia em algum momento da vida, e cerca de 10% dos adultos em todo o mundo sofrem de insônia de forma persistente. Além do desconforto, a insônia pode trazer sérias consequências para a saúde, como maior risco de desenvolver doenças mentais, problemas cardiovasculares, redução da qualidade de vida e queda de produtividade no trabalho.
A causa da insônia é complexa e envolve vários fatores. Um dos principais é a chamada “hiperexcitação”, que significa que o corpo e a mente permanecem em estado de alerta mesmo quando deveriam relaxar para dormir. Isso pode alterar a estrutura normal do sono, reduzindo fases importantes como o sono profundo e o sono com movimentos rápidos dos olhos.

Alterações no relógio biológico, que regula os ciclos de sono e vigília, também podem contribuir. Além disso, desequilíbrios em substâncias químicas do cérebro, como o ácido gama-aminobutírico (um neurotransmissor que ajuda a relaxar), têm papel importante nesse distúrbio.
O corpo humano possui um sistema chamado endocanabinoide, que ajuda a regular diversas funções, incluindo o sono. Esse sistema é formado por substâncias naturais produzidas pelo próprio organismo, seus receptores no cérebro e enzimas que controlam seu funcionamento.
Pesquisas mostram que esse sistema participa diretamente no início e na manutenção do sono. Por isso, cientistas começaram a investigar se os medicamentos feitos à base de cannabis, que atuam nesses mesmos receptores, poderiam ter efeito positivo no tratamento da insônia.
O tratamento mais recomendado atualmente para insônia é a terapia cognitivo-comportamental, um tipo de psicoterapia que ajuda a modificar hábitos e pensamentos que atrapalham o sono. No entanto, o acesso a esse tipo de tratamento ainda é limitado.

Os medicamentos mais utilizados são aqueles que aumentam a ação do ácido gama-aminobutírico, como os benzodiazepínicos e os chamados “remédios Z”. Eles funcionam no curto prazo, mas o uso prolongado pode causar dependência e efeitos colaterais. Outros medicamentos, como a melatonina, têm perfil mais seguro, mas sua eficácia em muitos casos ainda é incerta.
Recentemente, surgiram também os chamados antagonistas de orexina, que atuam em outro sistema do cérebro ligado à vigília, mas ainda não estão amplamente disponíveis.
Os medicamentos à base de cannabis contêm substâncias como o tetraidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD). O THC tem ação semelhante a algumas substâncias naturais do organismo que promovem o sono, enquanto o CBD pode equilibrar os efeitos do THC e aumentar a disponibilidade dessas substâncias naturais.

Estudos iniciais mostram que esses medicamentos podem melhorar a qualidade do sono em pessoas com insônia, incluindo pesquisas em humanos e em animais. Alguns trabalhos sugerem que combinações com mais CBD em relação ao THC podem ser mais eficazes e seguras.
Apesar desses resultados promissores, ainda há poucas pesquisas de grande porte que confirmem de forma definitiva os benefícios da cannabis medicinal para insônia. Muitos estudos foram feitos com poucos pacientes, durante pouco tempo ou em pessoas que tinham outros problemas de saúde além da insônia.
Além disso, existem dúvidas sobre os efeitos do uso prolongado, já que a interrupção do consumo pode causar piora do sono.
Em um estudo recente realizado no Reino Unido com mais de 100 pacientes diagnosticados com insônia, o tratamento com cannabis medicinal resultou em melhora significativa na qualidade do sono, na redução da ansiedade e no bem-estar geral.

Os efeitos colaterais relatados foram leves e nenhum caso grave foi registrado. Ainda assim, os cientistas reforçam que são necessários mais estudos clínicos, de maior duração e com mais participantes, para avaliar os reais benefícios e a segurança desse tratamento.
Em resumo, a insônia é um problema de saúde pública que afeta milhões de pessoas. Os tratamentos atuais ajudam, mas têm limitações. A cannabis medicinal surge como uma opção promissora, que pode oferecer alívio para muitos pacientes, mas ainda precisa ser melhor estudada antes de ser recomendada de forma ampla.
LEIA MAIS:
UK Medical Cannabis Registry: A clinical outcomes analysis for insomnia
Arushika Aggarwal, Simon Erridge, Isaac Cowley, Lilia Evans, Madhur Varadpande, Evonne Clarke, Katy McLachlan, Ross Coomber, James J. Rucker,
Mark W. Weatherall, and Mikael H. Sodergren
PLOS Ment Health 2(8): e0000390. https://doi.org/10.1371/journal.pmen.0000390
Abstract:
Insomnia affects approximately 10% of adults globally. Current treatments have their limitations, and there is growing evidence on the therapeutic potential of cannabis-based medicinal products for insomnia. This study aimed to assess changes in sleep-specific and general patient-reported outcome measures (PROMs) in individuals prescribed cannabis-based medicinal products for insomnia and to assess the incidence of adverse events. A case series was analysed with patients diagnosed with primary insomnia from the UK Medical Cannabis Registry (UKMCR). The primary outcome examined changes in the Single-Item Sleep Quality Scale (SQS), Generalised Anxiety Disorder-7 (GAD-7), and EuroQol-5 Dimension-5 Level (EQ-5D-5L). Changes in PROMs were assessed from baseline to 1-, 3-, 6-, 12- and 18-months. Adverse events were classified according to the CTCAE version 4.0. The inclusion criteria were met by 124 participants. SQS scores showed improvement from baseline (2.66 ± 2.41) to 1- (5.67 ± 2.65; p < 0.001), 3- (5.41 ± 2.69; p < 0.001), 6- (4.80 ± 2.89; p < 0.001), 12- (4.24 ± 3.01; p < 0.001) and 18-months (3.81 ± 2.90; p < 0.001). GAD-7 scores improved from baseline to 1-, 3-, 6-, 12- and 18-months (p < 0.050). There were also improvements in EQ-5D-5L dimensions of usual activities, pain/discomfort, anxiety/depression, and index values (p < 0.001). Eleven (8.87%) participants reported a total of 112 (90.32%) adverse events, but none were disabling or life-threatening. The study demonstrated improvements in subjective sleep quality and other captured PROMs in insomnia patients treated with cannabis-based medicinal products. Although the treatment was generally well-tolerated, randomised controlled trials are needed to confirm the effectiveness and safety of cannabis-based medicinal products



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