Estresse Não é Igual Para Todos: Como Ele Afeta Homens e Mulheres De Maneiras Diferentes
- Lidi Garcia
- 27 de ago.
- 4 min de leitura

O estudo mostrou que o estresse afeta machos e fêmeas de forma diferente. O estresse agudo aumentou a ansiedade nos machos e enfraqueceu proteínas que protegem o cérebro em ambos os sexos. Já o estresse crônico provocou sinais de depressão apenas nos machos, enquanto nas fêmeas pareceu ativar um mecanismo de proteção no cérebro. Esses achados ajudam a entender como o estresse pode impactar a saúde mental e física do cérebro de maneiras distintas.
O estresse é um fator importante para vários transtornos de humor, como ansiedade e depressão. Esses problemas estão ligados a mudanças no comportamento e também no funcionamento do cérebro. Além disso, já se sabe que homens e mulheres podem reagir de forma diferente ao estresse e que isso ajuda a explicar por que esses transtornos aparecem com maior frequência em um sexo do que em outro.
Outro ponto importante é que o estresse também pode afetar os vasos sanguíneos do cérebro e a chamada barreira hematoencefálica, que funciona como uma espécie de filtro protetor, controlando o que entra e sai da circulação sanguínea para o tecido cerebral. Quando essa barreira é prejudicada, aumenta o risco de inflamação e de doenças neurológicas.

Neste estudo, os cientistas investigaram como o estresse agudo (curto e intenso) e o estresse crônico (leve, mas repetitivo e imprevisível) afetam o comportamento e a saúde cerebral de ratos machos e fêmeas.
Para isso, eles usaram dois tipos de testes comportamentais. O primeiro foi o chamado “campo aberto”, em que os ratos são colocados em um espaço para avaliar sua atividade, movimento e sinais de ansiedade. O segundo foi o “teste de natação forçada”, em que o animal é colocado em um recipiente com água e observa-se quanto tempo ele nada em busca de saída e quanto tempo fica imóvel, o que é usado como um indicador de desânimo ou comportamento semelhante à depressão.
Os experimentos em animais, como os feitos com ratos nesse estudo, servem como modelos aproximados do que acontece em humanos. Esses estudos em animais não dão respostas definitivas para humanos, mas funcionam como mapas iniciais que orientam a pesquisa clínica. Claro, o cérebro humano é muito mais complexo, mas há várias razões pelas quais essas pesquisas são úteis:
- Semelhanças biológicas: ratos e humanos compartilham muitos processos básicos do sistema nervoso, incluindo proteínas da barreira hematoencefálica e mecanismos de resposta ao estresse. Isso permite observar tendências que provavelmente também ocorrem em pessoas.
- Controle experimental: em animais é possível controlar fatores como dieta, ambiente e tipo de estresse, algo impossível em seres humanos. Isso ajuda a isolar os efeitos específicos do estresse.
-Tradução para doenças humanas: comportamentos como “ansiedade” ou “desânimo” em ratos não são idênticos aos sintomas humanos, mas existem testes validados (como o de natação forçada) que indicam analogias com depressão ou estratégias de enfrentamento.

Teste do campo aberto
- Pistas para novos tratamentos: ao identificar quais proteínas ou regiões do cérebro mudam com o estresse em ratos, os cientistas podem investigar se os mesmos marcadores aparecem em pessoas, e assim criar estratégias de prevenção ou terapias mais direcionadas.
Além do comportamento, os pesquisadores também analisaram proteínas importantes do cérebro, especialmente no córtex pré-frontal, uma região ligada à tomada de decisões, às emoções e ao controle da ansiedade. Para isso, eles retiraram amostras do tecido cerebral e mediram a quantidade de proteínas envolvidas tanto na barreira hematoencefálica quanto em processos de inflamação.
Os resultados mostraram diferenças importantes. O estresse agudo aumentou a ansiedade apenas nos ratos machos, mas não teve esse efeito nas fêmeas. Por outro lado, tanto machos quanto fêmeas mostraram um tipo de comportamento de enfrentamento durante a natação, passando menos tempo imóveis. Já o estresse crônico levou a sinais de depressão apenas nos machos, enquanto não teve efeito claro nas fêmeas.
Quando olharam para as proteínas, os cientistas descobriram que o estresse agudo reduziu níveis de algumas moléculas importantes para a integridade da barreira hematoencefálica, como a ocludina e a proteína conhecida como VEGF. Isso sugere que mesmo episódios curtos de estresse já podem fragilizar a proteção do cérebro.

Em contrapartida, o estresse crônico aumentou os níveis de uma proteína chamada claudina-5 nas fêmeas, o que pode indicar que o cérebro delas tenta compensar os efeitos negativos do estresse prolongado.
Curiosamente, os dois tipos de estresse não tiveram impacto significativo em outras proteínas associadas à inflamação, como o fator de necrose tumoral e o complemento.
Esses resultados ajudam a entender melhor como o estresse pode afetar de forma diferente machos e fêmeas e como ele altera não só o comportamento, mas também a estrutura que protege o cérebro. O estudo reforça a ideia de que a saúde mental não pode ser dissociada da saúde física do cérebro e que compreender essas diferenças é essencial para criar novas formas de prevenção e tratamento para transtornos como depressão e ansiedade.
LEIA MAIS:
Distinct behavioural and neurovascular signatures induced by acute and chronic stress in rats
Daniela M. Simões, José Carreira, Alexandre Henrique, Rita Gaspar, Eliane S. Sanches, Filipa I. Baptista, and Ana Paula Silva
Behavioural Brain Research, Volume 493, 13 September 2025, 115706
Abstract:
Stress is a contributing factor for several mood disorders, including depression and anxiety which are associated with significant changes in behavioural and cellular domains. Additionally, sex differences in the prevalence of these neuropsychiatric disorders are well established. Emerging evidence suggests that stress is linked to cerebrovascular diseases and that blood-brain barrier (BBB) dysfunction contributes to the development and exacerbation of neuropathology and neuroinflammation. Despite these interesting findings, very little attention has been given to the effect of both acute and chronic stress (unpredictable chronic mild stress-uCMS) on the link between behavioural and BBB alterations. In this study we used the open field and forced swimming tests (FST) to evaluate locomotor activity, anxiety- and depressive-like behaviours in male and female Wistar rats. Western blotting or ELISA were used to quantify the levels of different proteins related to BBB components and neuroinflammation in the prefrontal cortex. We found that acute stress induced anxiety only in males, whereas uCMS had no effect. Additionally, acute stress decreased immobility time in the FST pointing to a coping strategy in both sexes. In contrast, uCMS increased immobility time only in males, indicating depressive-like behaviour. Additionally, both types of stress had no major impact on TNF-α, GFAP and C3/C3aR proteins. Nevertheless, acute stress significantly reduced occludin and VEGF protein levels in both sexes, highlighting significant alterations in the neurovasculature. Concerning uCMS, there was an upregulation in claudin-5 protein levels only in females suggesting a possible compensatory mechanism of the BBB in response to a prolonged situation of stress. In conclusion, acute and uCMS induce distinct behavioural and biochemical profiles, particularly affecting BBB proteins.
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