Novo Teste No Cabelo De Crianças Pode Identificar o Hormônio Do Estresse e Riscos a Saúde Mental
- Lidi Garcia
- 17 de set.
- 4 min de leitura

Crianças com doenças crônicas vivem sob muito estresse, o que pode aumentar o risco de depressão, ansiedade e problemas de comportamento. Este estudo acompanhou 244 crianças por quatro anos e mediu o cortisol no cabelo, um marcador de estresse crônico. Os pesquisadores descobriram que crianças com níveis sempre altos de cortisol apresentaram mais problemas psicológicos, enquanto aquelas cujo cortisol diminuiu ao longo do tempo tiveram menos sintomas. Isso mostra que analisar o cabelo pode ajudar a identificar crianças em maior risco e orientar cuidados precoces.
Entre 15% e 30% das crianças no mundo vivem com uma doença física crônica (DFC), como asma, artrite juvenil, diabetes tipo 1 ou epilepsia. Essas condições podem limitar bastante a vida diária, trazer preocupações familiares e exigir tratamentos difíceis.
Esse conjunto de fatores gera muito estresse e aumenta o risco de problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão ou dificuldades de comportamento. Estudos mostram que até metade das crianças com doença física crônica desenvolve algum tipo de problema psicológico.
Quando o corpo passa por estresse, ele libera um hormônio chamado cortisol. Esse hormônio é produzido por um sistema chamado eixo Hipotalamo-Pituitária-Adrenal (HPA). O problema é que, quando esse sistema é ativado repetidamente por causa de estresse constante, ele pode se desregular. Isso significa que o corpo pode acabar liberando cortisol demais ou de menos.
Pesquisas já mostraram que crianças com respostas alteradas de cortisol têm maior risco de desenvolver problemas psicológicos.

Até pouco tempo, o cortisol era medido em sangue, saliva ou urina, mas isso só mostrava o nível de estresse das últimas horas. Para estudar o estresse crônico, os cientistas começaram a usar o cabelo. Como o cabelo cresce cerca de 1 cm por mês, coletar uma mecha de 3 cm pode mostrar os níveis médios de cortisol acumulados nos últimos três meses. Além disso, é um método simples e não invasivo.
Os pesquisadores perceberam que os resultados sobre cortisol em cabelo e saúde mental em crianças ainda são inconclusivos: alguns estudos encontram relação positiva, outros negativa e alguns não encontram nenhuma. Uma hipótese é que diferentes padrões de cortisol estão ligados a diferentes tipos de sintomas. Por exemplo, o cortisol alto pode estar ligado a sintomas de ansiedade e depressão (internalizantes); e cortisol baixo pode estar ligado a comportamentos agressivos ou problemas de conduta (externalizantes).
Para entender melhor, os cientistas da University of Waterloo, Canada, analisaram 244 crianças entre 2 e 16 anos com doenças crônicas, acompanhadas por 48 meses no estudo MY LIFE no Canadá.
Coleta de cabelo: As crianças forneceram amostras de cabelo de 3 cm, usadas para medir os níveis médios de cortisol.
Avaliação psicológica: Os pais responderam a questionários padronizados sobre sintomas de ansiedade, depressão e comportamento.
Análises estatísticas: Em vez de tratar todas as crianças como se seguissem o mesmo padrão, os cientistas usaram um método que procura subgrupos com trajetórias diferentes de cortisol ao longo do tempo.

Os pesquisadores identificaram três padrões diferentes de como o cortisol. Esses padrões mostram como cada grupo reage de forma distinta ao estresse crônico.
O primeiro grupo, chamado de Hipersecreção, foi o maior e reuniu cerca de 68% das crianças. Elas apresentaram níveis de cortisol altos e constantes durante todo o período do estudo. Esse padrão sugere que essas crianças ficaram expostas a um estado contínuo de estresse elevado.
O segundo grupo, chamado de Hiposecreção, representou 9% das crianças. Nessas, os níveis de cortisol eram baixos de forma persistente. Esse padrão pode refletir um esgotamento do sistema de resposta ao estresse, que deixa de liberar o hormônio em quantidades esperadas.
O terceiro grupo, denominado Hiper-para-Hipo, correspondeu a cerca de 23% das crianças. Essas começaram com níveis altos de cortisol, mas ao longo do tempo esses níveis foram diminuindo. Ou seja, houve uma mudança clara de padrão, saindo do excesso para um nível mais baixo.

Quando os pesquisadores compararam os grupos, perceberam algo importante: as crianças do grupo Hiper-para-Hipo apresentaram menos sintomas de ansiedade, depressão e problemas de comportamento do que aquelas que permaneceram com cortisol sempre alto, no grupo de Hipersecreção. Esse achado indica que a redução dos níveis de cortisol ao longo do tempo pode ser um sinal de adaptação mais saudável ao estresse.
O estudo sugere que níveis cronicamente altos de cortisol podem prejudicar a saúde mental de crianças com doenças crônicas. Já aquelas cujo cortisol diminuiu ao longo do tempo tiveram menos sintomas psicológicos. Isso indica que o cabelo pode ser uma ferramenta útil para identificar crianças em maior risco e, futuramente, ajudar médicos a oferecer intervenções preventivas.
LEIA MAIS:
Association Between Hair Cortisol and Psychopathology in Children With a Chronic Physical Illness
Emma A. L. Littler, Zahid A. Butt, Andrea Gonzalez, and Mark A. Ferro
Stress & Health. Volume 41, Issue 4, August 2025. e70087
Abstract:
Children with a chronic physical illness (CPI) experience significant stress and are at a greater risk of psychopathology. However, little is known about chronic stress and its relationship with psychopathology in this population. Over the last decade, hair cortisol concentration (HCC) has emerged as a viable biomarker of chronic stress. This study identified trajectories of HCC in children with a CPI and examined their associations with psychopathology. The study included data from 244 children enroled in the Multimorbidity in Children and Youth across the Life-course (MY LIFE) study. MY LIFE is a prospective study of children aged 2–16 years with a CPI recruited from outpatient clinics at a Canadian paediatric hospital and followed for 48 months. Children provided 3-cm hair samples for cortisol assay and parents reported psychopathology symptoms using the Emotional Behavioural Scales. We identified three HCC trajectories: (1) Hypersecretion (n = 166, 68.03%); (2) Hyposecretion (n = 21, 8.61%); and (3) Hyper-to-Hypo (n = 57, 23.36%). When adjusting for sociodemographic and clinical characteristics, children in the Hyper-to-Hypo class had lower internalising (β = −3.17, p = 0.005) and externalising (β = −2.27, p = 0.007) psychopathology symptoms compared to the Hypersecretion class. This study provides evidence that children with a CPI follow distinct HCC trajectories. Children who followed a decreasing trajectory exhibited lower psychopathology symptoms compared to children who followed a consistently elevated trajectory, indicating that chronically high cortisol levels may contribute to the development of psychopathology.



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