Resumo:
Resiliência psicológica é um recurso vital para enfrentar os desafios da vida, especialmente na velhice. Embora fatores como contágio emocional e condições sociais possam aumentar o sofrimento, entender esses processos permite criar estratégias para ajudar os idosos a viverem com mais saúde e bem-estar, mesmo em meio às adversidades. Este estudo lança luz sobre os fatores emocionais e sociais que contribuem para a ansiedade e a depressão em idosos, mostrando que lidar com emoções compartilhadas e construir redes de apoio pode ser essencial para promover um envelhecimento mentalmente saudável.
Resiliência psicológica é a capacidade de se adaptar e manter a saúde mental, mesmo quando enfrentamos adversidades e desafios ao longo da vida. É como um "amortecedor emocional" que nos ajuda a lidar com eventos difíceis, desde problemas cotidianos até situações mais graves.
Pesquisadores têm explorado esse conceito e concluíram que ele é multifacetado, ou seja, envolve uma combinação de fatores pessoais (como traços de personalidade), sociais (como apoio de amigos e familiares), e contextuais (como o momento e as circunstâncias em que os desafios acontecem).
Para que a resiliência seja testada, é necessário haver adversidade, que pode ser descrita como situações de estresse. Essas situações incluem tanto eventos graves, como a perda de um ente querido, quanto estressores crônicos, como cuidar de alguém doente por um longo período. A resiliência é essencial para impedir que o estresse leve ao sofrimento psicológico, como ansiedade ou depressão.
O sofrimento psicológico ocorre quando a pessoa não consegue lidar bem com o estresse e as adversidades, resultando em distúrbios emocionais que interferem na vida cotidiana.
Pode incluir sintomas leves, como tensão e preocupação, até mais graves, como tristeza profunda e perda de interesse por atividades. Esses sintomas são comuns na ansiedade e depressão e podem variar bastante de pessoa para pessoa.
Em idosos, os sintomas de ansiedade e depressão são especialmente preocupantes porque aumentam o risco de doenças físicas, como problemas cardíacos e diabetes, além de afetarem a qualidade de vida e a independência funcional.
Conforme envelhecemos, enfrentamos mudanças e desafios únicos, como declínio na saúde, perda de entes queridos e adaptação a novos papéis sociais. A resiliência desempenha um papel importante na capacidade de superar esses desafios, ajudando os idosos a manterem sua saúde mental.
No entanto, estudos mostram que o impacto do estresse pode ser mais forte em pessoas mais velhas, devido a mudanças no corpo, como o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que regula a resposta ao estresse.
Além disso, os estressores podem ser tanto explícitos (situações percebidas como ameaçadoras, como dificuldades financeiras) quanto implícitos (respostas automáticas a interações interpessoais, como absorver a tensão emocional de outras pessoas). Esse último fenômeno, chamado contágio emocional, é quando captamos e "espelhamos" as emoções de outras pessoas, muitas vezes sem perceber. Por exemplo, estar perto de alguém ansioso pode fazer você também se sentir tenso.
Algumas pessoas são mais propensas ao contágio emocional, devido a características como empatia. A empatia é a capacidade de entender o que os outros sentem, mas pode ser dividida em dois tipos:
Empatia cognitiva: compreender racionalmente as emoções de outra pessoa.
Empatia emocional: sentir as emoções do outro, o que pode levar ao espelhamento de sentimentos.
Quando a empatia emocional é alta, a pessoa pode ser mais vulnerável ao contágio emocional, o que pode dificultar o enfrentamento do estresse. Por isso, entender essa vulnerabilidade é crucial para promover resiliência, especialmente em situações estressantes.
Na velhice, os fatores de risco para sofrimento psicológico incluem tanto questões pessoais quanto sociais. Por exemplo, características sociodemográficas onde mulheres idosas tendem a relatar mais sintomas de ansiedade e depressão do que os homens, possivelmente devido a exposições diferentes a estressores, como responsabilidades familiares ou dificuldades financeiras.
Tambem condições de vida, quando idosos que vivem sozinhos ou têm renda baixa podem ter mais chances de desenvolver sofrimento psicológico. Por fim a autonomia funcional, a perda de independência física, muitas vezes causada por doenças crônicas ou quedas, aumenta o risco de depressão.
Promover resiliência na velhice exige reconhecer os fatores de risco e trabalhar para mitigá-los. Isso pode incluir:
Incentivar redes de apoio social.
Ajudar os idosos a desenvolver estratégias eficazes de enfrentamento do estresse.
Identificar e tratar sintomas iniciais de ansiedade e depressão.
Fomentar a prática de atividades físicas e hábitos saudáveis, que ajudam a manter a autonomia funcional.
Estudos também indicam que algumas intervenções, como terapia para melhorar a regulação emocional ou suporte psicológico focado em estressores específicos, podem fazer uma grande diferença na qualidade de vida dos idosos.
Este estudo, realizado por pesquisadores da University of Sousse, investigou como diferentes fatores podem influenciar o sofrimento psicológico em idosos, dividindo os participantes em três grupos: sem sofrimento, com ansiedade, e com ansiedade e depressão combinadas.
Foram analisados aspectos como características sociais e demográficas, autonomia, apoio social, estilos de enfrentamento emocional, empatia e uma sensibilidade especial chamada de "vulnerabilidade ao contágio emocional" — a tendência de "absorver" emoções de outras pessoas.
A pesquisa envolveu 170 adultos mais velhos e utilizou a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS) para medir os níveis de ansiedade e depressão. Quase dois terços dos participantes (65,9%) apresentaram algum grau de ansiedade ou depressão, seja em nível clínico ou leve. Com base nesses resultados, os participantes foram divididos em três perfis:
Sem sofrimento psicológico.
Com ansiedade.
Com ansiedade e depressão combinadas.
Os grupos foram analisados em relação a vários fatores, mas não houve diferenças significativas entre eles em termos de idade, escolaridade ou outras características demográficas — exceto pelo sexo, que mostrou alguma relação.
Três elementos se destacaram como influências importantes para pertencer aos grupos com sofrimento psicológico: a vulnerabilidade ao contágio emocional refere-se à facilidade com que uma pessoa é afetada pelas emoções dos outros, como absorver a tristeza ou ansiedade de amigos ou familiares.
Já a satisfação com a rede social indica o quanto as pessoas se sentem apoiadas e conectadas socialmente. Por fim os estilos de enfrentamento, que são estratégias que as pessoas usam para lidar com o estresse, como buscar apoio emocional ou adotar uma postura mais proativa.
Entre esses fatores, a vulnerabilidade ao contágio emocional mostrou ser o mais fortemente associado ao sofrimento psicológico, mesmo quando foram considerados outros elementos, como situações adversas vividas ou uso de medicamentos psicotrópicos.
Os resultados destacam a importância de compreender como fatores emocionais e sociais influenciam o bem-estar psicológico em idosos. A vulnerabilidade ao contágio emocional, em especial, parece desempenhar um papel significativo e sugere que intervenções que fortaleçam a regulação emocional podem ser úteis para mitigar ansiedade e depressão.
Pesquisas futuras, especialmente aquelas que acompanhem as pessoas ao longo do tempo (estudos longitudinais), podem ajudar a esclarecer melhor como esses fatores estão relacionados. Por exemplo, será possível descobrir se a vulnerabilidade ao contágio emocional aumenta o risco de sofrimento psicológico ou se, ao contrário, é o sofrimento psicológico que torna as pessoas mais suscetíveis a essas influências emocionais.
Resiliência psicológica é um recurso vital para enfrentar os desafios da vida, especialmente na velhice. Embora fatores como contágio emocional e condições sociais possam aumentar o sofrimento, entender esses processos permite criar estratégias para ajudar os idosos a viverem com mais saúde e bem-estar, mesmo em meio às adversidades.
Este estudo lança luz sobre os fatores emocionais e sociais que contribuem para a ansiedade e a depressão em idosos, mostrando que lidar com emoções compartilhadas e construir redes de apoio pode ser essencial para promover um envelhecimento mentalmente saudável.
LEIA MAIS:
The contribution of vulnerability to emotional contagion to the expression of psychological distress in older adults
Marie-Josée Richer, Sébastien Grenier, and Pierrich Plusquellec
PLOS Ment Health 1(5): e0000098.
Abstract:
This study examines the differential weight of a wide range of factors—sociodemographic factors, indicators of autonomy, social support, coping styles, vulnerability to emotional contagion, and empathy—in the presence of two profiles of psychological distress and in their absence. This cross-sectional study included 170 older adults. As assessed by the Hospital Anxiety and Depression Scale (HADS), 65.9% of the individuals in the sample had a clinical or subthreshold level of anxiety and depression (score > 1). Based on the HADS’s clinical cutoff scores for the anxiety and depression subscales, three profiles were created for the no distress, anxiety, and anxious depression groups. The profiles did not differ on demographic indicators except for sex. Vulnerability to emotional contagion, satisfaction with the social network and coping styles emerged as factors weighing the likelihood of being in either of the psychological distress groups relative to individuals with no distress. After controlling for adversity and psychotropic treatment, vulnerability to emotional contagion had the strongest relationship with both psychological distress profiles. Future research, such as a prospective longitudinal study, may provide an opportunity to explain the direction of the relationship between psychological distress and the factors studied, particularly vulnerability to emotional contagion.
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