Excesso De Trabalho Não Afeta Só A Mente, Mas Também A Estrutura Do Cérebro
- Lidi Garcia
- 12 de jun.
- 4 min de leitura

Trabalhar muitas horas por semana pode afetar não só o bem-estar, mas também a estrutura do cérebro. Um estudo com profissionais da saúde mostrou que o excesso de trabalho está ligado a mudanças em áreas cerebrais responsáveis por decisões e emoções. Isso ajuda a explicar por que quem está sobrecarregado costuma se sentir mais estressado, cansado e com dificuldade de pensar com clareza.
O excesso de trabalho, especialmente quando envolve muitas horas semanais, está se tornando um problema sério de saúde pública no mundo moderno. Trabalhar demais não afeta apenas a qualidade de vida, mas também a saúde física e mental das pessoas.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho, mais de 800 mil pessoas morrem por ano devido a longas jornadas de trabalho, o que mostra o tamanho do impacto desse hábito.
Já se sabe que trabalhar demais aumenta o risco de problemas como doenças cardíacas, diabetes, depressão e ansiedade. No entanto, ainda há muito a aprender sobre o que acontece no cérebro das pessoas que vivem nessa rotina.

Com os avanços em tecnologias de imagem cerebral, como as usadas em exames de ressonância magnética, cientistas agora conseguem observar como o ambiente e o estilo de vida influenciam a estrutura e o funcionamento do cérebro.
Estudos recentes sugerem que o estresse constante e a falta de descanso, dois elementos comuns em quem trabalha demais, podem alterar a forma como o cérebro é estruturado e como ele se conecta internamente.
Isso poderia explicar por que muitas pessoas sobrecarregadas apresentam dificuldades de concentração, piora na tomada de decisões e maior sensibilidade emocional. No entanto, poucas pesquisas haviam investigado diretamente como o excesso de trabalho muda fisicamente o cérebro.

Para entender melhor essa relação, os pesquisadores da Chung-Ang University, Korea, analisaram imagens do cérebro de 110 profissionais da saúde, dividindo-os em dois grupos: os que trabalhavam muitas horas por semana (52 horas ou mais) e os que tinham uma jornada padrão.
Eles usaram métodos sofisticados de análise de imagem para comparar o volume de diferentes regiões do cérebro entre esses dois grupos. Além disso, controlaram fatores como idade, sexo e tamanho geral do cérebro para garantir que os resultados fossem confiáveis.
Os resultados mostraram que aqueles que trabalhavam mais apresentavam mudanças significativas em áreas do cérebro relacionadas ao pensamento lógico, tomada de decisão e controle emocional, funções que são essenciais para o dia a dia.

Especificamente, os pesquisadores encontraram um aumento de 19% no volume de uma parte do cérebro chamada giro frontal médio esquerdo, que está ligada ao controle executivo (ou seja, a capacidade de planejar, organizar e tomar decisões).
Também foram observadas mudanças em outras áreas, como a ínsula e o giro temporal superior, que estão relacionadas às emoções e à percepção. Quanto mais horas as pessoas trabalhavam por semana, maiores eram essas alterações.

A imagem mostra em vermelho as areas cerebrais significativamente maiores no grupo sobrecarregadoquando foi comparado com o grupo com horas de trabalho normais.
Em resumo, este estudo mostra, pela primeira vez com esse nível de detalhe, que trabalhar demais pode literalmente mudar a estrutura do cérebro. Essas alterações acontecem em regiões que controlam nossas emoções e nossa capacidade de pensar com clareza.
Embora mais pesquisas sejam necessárias para entender completamente o que essas mudanças significam a longo prazo, os resultados reforçam a importância de políticas de trabalho saudáveis e de equilíbrio entre vida pessoal e profissional para preservar a saúde mental e cognitiva dos trabalhadores.
LEIA MAIS:
Overwork and changes in brain structure: a pilot study
Wonpil Jang, Sungmin Kim, YouJin Kim, Seunghyun Lee, Joon Yul Choi, and Wanhyung Lee
Occupational and Environmental Medicine. Volume 82, Issue 3, 1 March 2025
DOI: 10.1136/oemed-2025-110057
Abstract:
To investigate the effects of overwork on brain structure to better understand its impact on workers’ cognitive and emotional health. The goal was to provide evidence for the potential neurological risks associated with prolonged working hours. A total of 110 healthcare workers were classified into overworked (≥52 hours/week; n=32) and non-overworked groups (n=78). Brain volume differences were assessed using voxel-based morphometry (VBM) and atlas-based analysis. General linear models adjusted for age, sex and total intracranial volume were applied, and correlation analyses explored relationships between weekly working hours and brain volume in regions with significant differences. Overworked individuals exhibited significant changes in brain regions associated with executive function and emotional regulation. Atlas-based analysis revealed a 19% increase in left caudal middle frontal gyrus volume in the overworked group compared with the non-overworked group (p=0.006). VBM showed peak increases in 17 regions, including the middle frontal gyrus, insula and superior temporal gyrus (p<0.05). Correlation analyses indicated a positive association between weekly working hours and brain volume changes in the middle frontal gyrus and insula. This study provides preliminary evidence that overwork is associated with structural brain changes, particularly in regions linked to cognition and emotion. These findings provide novel neurobiological evidence linking prolonged working hours to structural brain changes, emphasising the need for further research to understand the long-term cognitive and emotional implications of overwork.
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