Probióticos e Bem-Estar: Alívio Para o Estresse e a Ansiedade em Apenas Duas Semanas
- Lidi Garcia
- 20 de mai.
- 4 min de leitura

O uso diário de probióticos por quatro semanas ajudou a reduzir o humor negativo em adultos jovens saudáveis. Os efeitos começaram a aparecer após duas semanas, principalmente quando avaliados com acompanhamento diário. O estudo sugere que os probióticos podem ter um papel importante na saúde emocional, mesmo em pessoas sem transtornos mentais.
Nos últimos anos, muita gente tem buscado maneiras de cuidar melhor da saúde mental e evitar o surgimento de sintomas como ansiedade, estresse e depressão. Apesar dos avanços em áreas como psicologia, psiquiatria e neurociência, ainda é importante encontrar novas formas de tratamento, desde medicamentos e terapias até mudanças na alimentação.
Um tema que tem despertado bastante interesse é o microbioma intestinal, o conjunto de bilhões de microrganismos que vivem no nosso intestino. Pesquisas vêm mostrando que esses microrganismos podem afetar o funcionamento do cérebro, o comportamento e até as emoções.
Em estudos com animais, por exemplo, já foi possível observar que ao transferir as bactérias intestinais de uma pessoa deprimida para um rato, o animal também passa a apresentar comportamentos semelhantes à depressão.

Esses efeitos acontecem porque o intestino se comunica com o cérebro por meio de vias nervosas, do sistema imunológico e de hormônios. Já foi comprovado, por exemplo, que certos probióticos (bactérias "do bem", encontradas em suplementos ou alimentos fermentados) podem reduzir sintomas de ansiedade e depressão em animais, mas só quando os nervos que ligam o intestino ao cérebro estão funcionando.
Esses probióticos também parecem diminuir substâncias inflamatórias e hormônios do estresse, tanto em animais quanto em humanos.
Diante disso, pesquisadores da Leiden University, Holanda, decidiram investigar se o uso de probióticos também poderia trazer benefícios emocionais em pessoas saudáveis, principalmente no que diz respeito à regulação emocional, a capacidade de lidar com emoções intensas, como tristeza ou raiva. Isso é importante porque dificuldades em regular as emoções estão presentes em vários transtornos mentais.
Para isso, foi feito um estudo com jovens adultos saudáveis. As pessoas participantes não podiam estar tomando antibióticos ou probióticos recentemente, nem ter doenças crônicas, problemas psicológicos, uso frequente de álcool ou drogas, nem restrições alimentares severas. Ao todo, cerca de 90 voluntários foram selecionados.

O estudo foi feito com muito rigor: os participantes foram divididos em dois grupos de forma aleatória. Um grupo tomou por 28 dias um probiótico em pó (com 9 tipos diferentes de bactérias), e o outro grupo tomou um placebo (um pó sem efeito, mas com aparência e gosto idênticos ao probiótico).
Ninguém, nem os participantes, nem os pesquisadores, sabia quem estava tomando o quê, até o fim do experimento. Isso é chamado de estudo "duplo-cego", e serve para garantir que os resultados não sejam influenciados por expectativas.
Antes de começar e depois de terminar os 28 dias, todos fizeram os mesmos testes emocionais e responderam a questionários. Durante as quatro semanas, também preenchiam diariamente um diário simples, relatando como estavam se sentindo. Isso ajudou os cientistas a acompanhar as mudanças de humor ao longo do tempo com mais precisão.
O resultado principal foi que, mesmo em pessoas sem problemas psicológicos, os probióticos ajudaram a reduzir o humor negativo já a partir da segunda semana de uso. No entanto, quando os pesquisadores compararam apenas os testes feitos antes e depois do tratamento (como a maioria dos estudos costuma fazer), poucas mudanças apareceram. Isso mostra que o acompanhamento diário foi essencial para perceber os efeitos reais.

Mudança nas pontuações diárias de humor durante a intervenção de 4 semanas. Os gráficos mostram a média e o erro padrão para o humor negativo e o humor positivo, com o grupo probiótico mostrado em azul e o grupo placebo em vermelho.
Em resumo, o estudo sugere que os probióticos podem melhorar a saúde emocional mesmo em pessoas saudáveis, embora o efeito seja mais sutil e melhor percebido com ferramentas de avaliação mais frequentes.
Os pesquisadores acreditam que, no futuro, será possível identificar melhor quem se beneficia mais dos probióticos, e talvez usá-los como parte da prevenção em pessoas com maior risco de desenvolver problemas emocionais.
LEIA MAIS:
Probiotics reduce negative mood over time: the value of daily self-reports in detecting effects
Katerina V.A. Johnson, and Laura Steenbergen
npj Mental Health Res 4, 10 (2025)
Abstract:
The burgeoning field of the microbiome–gut–brain axis has inspired research into how the gut microbiome can affect human emotion. Probiotics offer ways to investigate microbial-based interventions but results have been mixed, with more evidence of beneficial effects in clinically depressed patients. Using a randomised, double-blind, placebo-controlled design in 88 healthy volunteers, we conduct a comprehensive study into effects of a multispecies probiotic on emotion regulation and mood through questionnaires, emotional processing tests and daily reports. We find clear evidence that probiotics reduce negative mood, starting after two weeks, based on daily monitoring, but few other changes. Our findings reconcile inconsistencies of previous studies, revealing that commonly used pre- versus post-intervention assessments cannot reliably detect probiotic-induced changes in healthy subjects’ emotional state. We conclude that probiotics can benefit mental health in the general population and identify traits of individuals who derive greatest benefit, allowing future targeting of at-risk individuals.



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