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Ansiedade Na Juventude Pode Começar Antes Mesmo Do Nascimento

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 16 de jun.
  • 4 min de leitura
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A ansiedade é uma emoção natural que nos ajuda a ficar alertas diante de perigos. Mas quando o corpo se prepara para um ambiente cheio de ameaças e isso não acontece de verdade, essa preparação pode virar um problema e causar ansiedade desnecessária. Pesquisas mostram que o estresse vivido pela mãe na gravidez e os cuidados nos primeiros anos de vida podem influenciar o desenvolvimento do cérebro da criança e aumentar o risco de ansiedade na adolescência. Por isso, é importante cuidar da saúde mental desde o começo da vida, com apoio para pais e crianças.


A ansiedade é uma emoção natural e necessária para nossa sobrevivência. Do ponto de vista da evolução, ela surgiu como um mecanismo para manter os indivíduos em estado de alerta diante de possíveis perigos no ambiente, como predadores ou situações de ameaça. Esse estado de prontidão ajuda o organismo a se preparar para lutar ou fugir, aumentando as chances de sobrevivência. 


Nos animais, por exemplo, fatores como a presença de predadores, a falta de alimento ou a alta densidade populacional geram estresse. Esse estresse pode influenciar o desenvolvimento dos filhotes antes mesmo de nascerem, por meio de sinais transmitidos pela mãe durante a gestação e nos primeiros momentos após o nascimento. 


Esses sinais funcionam como uma espécie de “aviso”, ajudando a preparar os filhotes para um ambiente hostil. Esse fenômeno não acontece só em uma ou outra espécie, mas em vários grupos de animais, indicando que é um mecanismo bastante antigo e difundido na natureza.

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O problema surge quando aquilo para o qual o organismo foi preparado não acontece na prática. Isso significa que, se o ambiente para o qual a criança foi “programada” ainda na fase pré-natal e na primeira infância não corresponde ao ambiente real em que ela vive depois, essa preparação pode acabar sendo prejudicial. 


Em outras palavras, uma criança que, por influência do estresse materno, se desenvolve mais sensível a ameaças e pronta para enfrentar perigos, pode crescer em um ambiente seguro, sem ameaças reais. 


Nessa situação, o estado constante de alerta pode se transformar em ansiedade exagerada e desnecessária, atrapalhando o funcionamento social e pessoal da pessoa. Isso acontece porque as respostas emocionais que foram úteis em um contexto de ameaça acabam se tornando um peso em um contexto de segurança, levando a dificuldades de regulação emocional e ao surgimento de transtornos de ansiedade.

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Os cientistas Mark Hanson e Peter Gluckman defendem que a origem da ansiedade na adolescência muitas vezes está ligada a esses processos iniciais da vida. Eles mostram que os fatores ambientais presentes durante a gestação e na primeira infância, como o estresse vivido pela mãe, a qualidade do cuidado recebido e o ambiente ao redor,  podem ter um grande impacto sobre o desenvolvimento do cérebro da criança. 


Áreas cerebrais que regulam as emoções e as funções executivas, responsáveis por planejar, tomar decisões e controlar impulsos, são especialmente sensíveis a esses primeiros sinais. A intenção do corpo ao se adaptar a essas condições seria preparar a criança para o tipo de mundo que ela deverá enfrentar no futuro. 


O problema, como explicam os autores, ocorre quando as expectativas criadas pelo organismo não se confirmam na prática. Se a criança foi preparada para um ambiente cheio de ameaças, mas cresce em um ambiente seguro, a ativação excessiva dos circuitos de ansiedade pode trazer sofrimento desnecessário.

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Esse descompasso entre o ambiente previsto e o real tem se tornado ainda mais evidente devido às  rápidas mudanças sociais e tecnológicas do mundo atual. As crianças e adolescentes de hoje estão sendo expostos a novos tipos de estresse, como pressões nas redes sociais, mudanças na estrutura familiar e desafios acadêmicos, que não existiam há algumas gerações. 


Isso amplia o risco de que os mecanismos de adaptação inicial acabem contribuindo para o aumento dos transtornos de ansiedade entre os jovens. Os dados mostram que os casos de ansiedade em adolescentes têm crescido de forma significativa, e esse aumento não pode ser explicado apenas por eventos recentes, como a pandemia da COVID-19. 


Parece que há fatores mais antigos e profundos, relacionados ao desenvolvimento e ao ambiente em que as crianças crescem, que estão contribuindo para esse cenário preocupante.

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Diante disso, os especialistas reforçam a importância de se pensar em estratégias de prevenção que comecem logo no início da vida. Isso significa que os cuidados com a saúde mental devem começar muito antes dos primeiros sintomas aparecerem, envolvendo políticas públicas que apoiem os pais, ofereçam boas condições de cuidado nos primeiros anos de vida e promovam ambientes saudáveis para o desenvolvimento das crianças. 


A ideia é adotar uma visão que considere todo o curso da vida, e não apenas intervenções pontuais quando os problemas já estão instalados. Assim, seria possível reduzir o impacto dos transtornos de ansiedade e ajudar as novas gerações a crescerem mais saudáveis, resilientes e preparadas para os desafios do mundo moderno.



LEIA MAIS:


Growing anxious—Are preschoolers matched to their futures?

Evolutionary and developmental factors may contribute to anxiety in young people

MARK A. HANSON and PETER D. GLUCKMAN

SCIENCE, 29 May 2025, Vol 388, Issue 6750, pp. 918-919

DOI: 10.1126/science.adp3764


Abstract:


Anxiety is an emotion that, in evolutionary terms, can have an adaptive role in ensuring alertness to potential danger. In animals, stresses such as population density, predators, and food availability can act, through maternal cues, on the prenatal and early postnatal development of stress responses in offspring (1). Such maternal and perinatal effects, which operate across a wide range of taxa, lead to predictive adaptive responses in offspring, promoting Darwinian fitness (2). Mechanistically, epigenetic changes in neural pathways have been implicated in explaining how environmental factors can affect gene expression and thus development (3). What if anticipated conditions do not match those that triggered a predictive adaptive response? For example, over- or inappropriate expression of anxiety later in human life can turn out to be maladaptive, reducing an individual’s own or social functionality. Perhaps anxiety disorders can be understood as inappropriate socioemotional regulation in relation to actual, perceived, or anticipated challenges.

 
 
 

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