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O Veneno Invisível: Toxinas do Cotidiano No Corpo De 90% De Crianças Pequenas Nos EUA

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 21 de jul.
  • 5 min de leitura
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Crianças pequenas estão sendo expostas diariamente a dezenas de substâncias químicas presentes em plásticos, cosméticos, alimentos e no ar,  muitas delas potencialmente perigosas e nem sequer monitoradas oficialmente. Um estudo com mais de 200 crianças mostrou que, em muitos casos, elas têm mais toxinas no corpo do que suas mães tinham durante a gravidez. Isso preocupa porque essas substâncias podem afetar o desenvolvimento do cérebro, hormônios e a saúde a longo prazo.


Nos primeiros anos de vida, o corpo humano passa por um crescimento intenso e um desenvolvimento extremamente delicado, especialmente no cérebro e no sistema imunológico. É justamente nesse momento que as crianças estão mais vulneráveis a influências externas, incluindo a exposição a substâncias químicas presentes no ambiente. 


Embora muito se fale sobre os cuidados durante a gravidez, um novo estudo revela que o período após o nascimento também é crítico. Substâncias tóxicas podem continuar a entrar no organismo das crianças por meios simples e cotidianos, como o contato com brinquedos, alimentos, roupas, móveis, produtos de higiene e até o ar que respiram. 

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Um estudo recente e abrangente, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH) e conduzido dentro do programa ECHO (Environmental influences on Child Health Outcomes), analisou amostras de urina de 201 crianças com idades entre 2 e 4 anos, moradoras de quatro estados americanos (Califórnia, Geórgia, Nova York e Washington). 


O objetivo foi avaliar a presença de diferentes substâncias químicas no corpo dessas crianças e compará-las com os níveis encontrados em suas mães durante a gravidez. O estudo foi publicado na revista Environmental Science & Technology e trouxe dados preocupantes: as crianças apresentaram uma mistura surpreendente de produtos químicos em seus corpos, com níveis em muitos casos superiores aos encontrados nas mães durante a gestação.


Foram testadas 111 substâncias químicas diferentes, e 96 delas foram detectadas em pelo menos cinco crianças. Mais da metade dos participantes apresentavam 48 dessas substâncias, e 34 estavam presentes em mais de 90% das amostras, incluindo nove compostos que nem sequer são monitorados pelas pesquisas nacionais oficiais de saúde, como a Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição dos EUA (NHANES). 

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Essas substâncias são oriundas de diversas fontes comuns, como plásticos, pesticidas, cosméticos, produtos de limpeza e materiais usados na construção de móveis.


Entre as substâncias mais encontradas estão os ftalatos, usados em brinquedos e embalagens; os parabenos, comuns em xampus, loções e cosméticos; os bisfenóis, presentes em plásticos e recibos de papel térmico; pesticidas agrícolas e domésticos; retardantes de chama, aplicados em móveis e tecidos; e até bactericidas, encontrados em sabonetes antibacterianos. 


Também foram encontrados compostos como o triclosan, benzofenonas (usadas em protetor solar), e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HAPs), que são subprodutos da queima de combustíveis, cigarros e alimentos grelhados.


Essas substâncias chegam ao corpo das crianças por vias simples: pelo ar que respiram, pelos alimentos que consomem, pelas superfícies que tocam ou até por levarem as mãos à boca, algo que fazem com frequência nessa fase da vida. Além disso, por pesarem pouco, qualquer quantidade de substância tóxica tem um impacto proporcionalmente maior em seu organismo.

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O estudo também revelou disparidades importantes. Crianças mais novas (com 2 anos) apresentavam concentrações maiores de químicos em comparação com as mais velhas (3 e 4 anos). Crianças que não são primogênitas, ou seja, têm irmãos mais velhos, tendem a ter níveis mais altos de substâncias. E aquelas pertencentes a grupos étnicos e raciais minoritários também mostraram níveis mais elevados de compostos como parabenos e ftalatos, o que sugere desigualdades sociais e ambientais.


Outro dado relevante foi a comparação entre as substâncias encontradas nas crianças e aquelas presentes na urina de suas mães durante a gravidez. Em vários casos, como no bisfenol S (um substituto do BPA), em pesticidas como o 3-PBA e o trans-DCCA, e em dois tipos de ftalatos, os níveis eram maiores nas crianças do que nas mães. Isso indica que a exposição a essas substâncias não apenas continua após o nascimento, ela pode até se intensificar.


Apesar de algumas boas notícias, como a queda nos níveis de triclosan, parabenos e certos ftalatos ao longo do período analisado (2010 a 2021), outras substâncias estão em alta. É o caso do plastificante alternativo DINCH e de pesticidas mais recentes como a acetamiprida (um neonicotinoide) e os piretroides. Isso reforça a necessidade de ampliar o monitoramento de novas substâncias químicas que entram constantemente no mercado e no ambiente.

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O grande alerta dos cientistas é claro: a exposição precoce a essas substâncias pode ter efeitos  negativos de longo prazo, como alterações hormonais, dificuldades de aprendizado, distúrbios no desenvolvimento neurológico e até problemas imunológicos.


Como explica Deborah H. Bennett, professora da Universidade da Califórnia (UC Davis) e uma das autoras do estudo, "a infância é uma janela crítica para o desenvolvimento do cérebro e do corpo". Por isso, os impactos dessa exposição nesse período podem ser profundos e duradouros.


Os pesquisadores pedem ações mais rigorosas por parte das autoridades de saúde pública. Isso inclui o aumento do biomonitoramento, ou seja, do rastreamento constante dessas substâncias no organismo das pessoas, e regulamentações mais severas sobre o uso de compostos potencialmente tóxicos, especialmente em produtos voltados ao público infantil.

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Embora seja praticamente impossível eliminar completamente o contato com produtos químicos no mundo atual, há algumas atitudes simples que as famílias podem tomar para reduzir esse risco:


- Evite produtos com fragrância, parabenos e ftalatos, leia os rótulos.


- Prefira embalagens e brinquedos livres de BPA e outros plásticos nocivos (evite os plásticos com os números 3, 6 e 7).


- Lave bem as mãos das crianças com frequência, especialmente antes de comer.


- Ventile bem os ambientes e, se possível, use filtros de ar do tipo HEPA.


- Lave frutas e verduras com cuidado e, sempre que possível, opte por alimentos orgânicos.


- Limpe o chão e os móveis com pano úmido, evitando o acúmulo de poeira, que pode conter resíduos químicos.


Esse estudo serve como um importante sinal de alerta para pais, profissionais de saúde, educadores e formuladores de políticas públicas. Proteger as crianças de exposições químicas prejudiciais deve ser uma prioridade urgente, pois está em jogo o bem-estar das próximas gerações.



LEIA MAIS:


Exposures to Contemporary and Emerging Chemicals among Children Aged 2 to 4 Years in the United States Environmental Influences on the Child Health Outcome (ECHO) Cohort

Jiwon Oh, Jessie P. Buckley, Kurunthachalam Kannan, Edo Pellizzari, Rachel L. Miller, Theresa M. Bastain, Anne L. Dunlop, Christian Douglas, Frank D. Gilliland, Julie B. Herbstman, Catherine Karr, Christina A. Porucznik, Irva Hertz-Picciotto, Rachel Morello-Frosch, Sheela Sathyanarayana, Rebecca J. Schmidt, Tracey J. Woodruff, Deborah H. Bennett, and the ECHO Cohort Consortium

Environmental Science & Technology. 30 June 2025

DOI: 10.1021/acs.est.4c13605


Abstract: 


Prenatal and early life exposure to environmental chemicals can increase the risk of multiple adverse child health outcomes. However, biomonitoring data for young children remain limited. This study leveraged the nationwide Environmental influences on Child Health Outcomes (ECHO) Cohort to assess chemical exposures in 201 children aged 2–4 years between 2010 and 2021. A total of 111 analytes across multiple chemical classes were simultaneously quantified in single spot urine specimens collected from each child and their mother during pregnancy, and concentrations were compared between child and prenatal maternal samples. Among the 111 analytes, 96 were detected in at least five children and 48 analytes in over 50% of children. Thirty-four were ubiquitously detected (>90%), nine of which have not been included in U.S. national biomonitoring: benzophenone-1, triethyl phosphate, and metabolites of six phthalates and one alternative plasticizer. Concentrations of bisphenol S, three pesticide biomarkers, and two phthalate biomarkers were higher in children than in mothers, while those of triclosan and monoethyl phthalate were higher in mothers. This study reveals frequent exposure to multiple chemicals in young U.S. children, often exceeding prenatal levels. Expanded biomonitoring of emerging chemicals of concern and studies of their health effects in this vulnerable population are warranted.

 
 
 

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