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O Parkinson Pode Aparecer Nos Seus Olhos Antes de Afetar Seu Corpo

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 26 de mai.
  • 5 min de leitura

A doença de Parkinson, além de causar tremores e rigidez muscular, também pode afetar a visão desde os estágios iniciais. Um exame simples chamado eletrorretinografia (ERG), que avalia a resposta da retina à luz, pode identificar essas alterações visuais precoces. Este estudo mostrou que tanto em camundongos quanto em pessoas com Parkinson recente, especialmente mulheres, há sinais claros de disfunção na retina. Esses achados indicam que o ERG pode ajudar no diagnóstico precoce e no acompanhamento da doença.


A doença de Parkinson (DP) é um distúrbio neurológico progressivo, mais conhecido por seus efeitos sobre o movimento, como tremores, rigidez muscular e lentidão para se mover. Esses sintomas ocorrem porque há uma perda gradual de neurônios que produzem dopamina, um neurotransmissor essencial para o controle motor, em uma área específica do cérebro chamada substância negra. Essa degeneração neuronal está associada a formas tóxicas da proteína α-sinucleína (aSyn).


Mas o Parkinson não afeta apenas o corpo: ele também causa uma série de outros problemas, como depressão, distúrbios do sono, dificuldades de memória e até alterações no funcionamento do sistema nervoso autônomo, que controla funções automáticas como a respiração ou os batimentos cardíacos.


Alguns desses sintomas, como perda do olfato e problemas durante o sono, podem até surgir anos antes dos sintomas motores.


Nos últimos anos, os pesquisadores passaram a investigar outros sinais precoces da doença de Parkinson, e os olhos se tornaram um foco especial de atenção. Isso porque a retina, que é a parte do olho responsável por captar a luz e transmitir sinais visuais ao cérebro, também parece sofrer alterações em pessoas com Parkinson. 

Problemas como dificuldade para enxergar contrastes, perceber cores ou processar imagens podem estar ligados a falhas nas células da retina. Uma das maneiras mais eficazes de detectar essas alterações é por meio da eletrorretinografia (ERG), um exame simples e indolor que mede como a retina reage à luz. Ele funciona como um “eletrocardiograma do olho”, revelando se as células da retina estão funcionando bem ou não. 


A eletrorretinografia gera diferentes formas de onda, cada uma associada a um tipo de célula ou processo visual. Por exemplo, a “onda a” indica a resposta dos fotorreceptores (que captam a luz), enquanto a “onda b” mostra a atividade das células bipolares, que transmitem essas informações adiante. 


Há ainda respostas específicas para as células ganglionares, que são as últimas a processar os sinais antes de enviá-los ao cérebro. Em pessoas com Parkinson, várias dessas ondas parecem enfraquecidas ou atrasadas, sugerindo que a retina também sofre com a doença. 

A) Posicionamento do dispositivo para registros oculares usando eletrorretinografia (ERG). B) Exemplo de respostas de ERG a estímulos de flash padrão adaptados à luz. C) Tela do dispositivo mostrando a configuração de registro de ERG, com olho visível e pupila detectada (destacada pelo círculo azul). D) Respostas ao estímulo de cintilação de 30 Hz padrão adaptado à luz. Copyright © 2023 Omar A. Mahroo


O estudo que estamos discutindo foi feito tanto em camundongos geneticamente modificados para imitar a doença de Parkinson quanto em humanos diagnosticados precocemente. Sendo a idade média de 63 anos, duração da doença de 4 anos, um total de 12 homens e 8 mulheres e controles saudáveis ​​pareados por idade média de 61anos, sendo 9 homens, e 11 mulheres.


Os pesquisadores descobriram que, já nas fases iniciais, os camundongos apresentavam alterações no funcionamento da retina, principalmente em fêmeas. As ondas do exame eletrorretinografia mostraram menor atividade em células responsáveis por processar luz e enviar sinais visuais ao cérebro. 

Essa imagem mostra uma parte do olho (a retina) de camundongos analisada com uma técnica especial de fluorescencia para destacar diferentes células. As áreas azuis indicam os núcleos das células, o branco mostra um tipo específico de célula da retina que expressa Calbindina, e o ciano (um tom de azul-claro) revela uma alteração na proteína alfa-sinucleína,  uma marca típica do Parkinson. Essa alteração foi vista apenas nos camundongos com um modelo genético da doença de Parkinson (M83 ho), e não nos camundongos saudáveis (B6). Essas mudanças aparecem em uma área da retina responsável por processar a luz, sugerindo que os sinais da doença podem começar a afetar o olho antes mesmo dos sintomas motores clássicos surgirem. GCL (camada de células ganglionares), IPL (camada plexiforme interna), INL (camada nuclear interna), OPL (camada plexiforme externa), ONL (camada nuclear externa).


Essas alterações foram confirmadas por análises do tecido da retina, que mostraram sinais claros da proteína anormal α-sinucleína, uma das principais responsáveis pelos danos no Parkinson.


O mesmo padrão foi observado em humanos com diagnóstico recente da doença: mulheres apresentaram alterações similares nas respostas retinianas, com sinais mais fracos vindos das células bipolares, ganglionares e amácrinas (um tipo de célula que ajuda na regulação dos sinais visuais). Isso sugere que esses exames podem servir como marcadores precoces, isto é, sinais detectáveis que indicam o início da doença antes mesmo que os sintomas mais conhecidos apareçam.


Em resumo, o estudo indica que mudanças na retina, detectadas por um exame simples e acessível como o eletrorretinografia, podem se tornar uma ferramenta útil para o diagnóstico precoce da doença de Parkinson, especialmente em mulheres. Isso abre novas possibilidades para acompanhar a progressão da doença e iniciar tratamentos mais cedo, o que pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes.



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Early detection of Parkinson’s disease: Retinal functional impairments as potential biomarkers

Victoria Soto Linan, Véronique Rioux, Modesto Peralta, Nicolas Dupré, Marc Hébert and Martin Lévesque

Neurobiology of Disease. Volume 208, May 2025, 106872DOI: 10.1016/j.nbd.2025.106872


Abstract:


Parkinson's disease is typically diagnosed after substantial neurodegeneration despite early non-motor symptoms manifesting decades earlier. These changes offer a promising avenue for diagnostic exploration, especially within the eye, which has been proposed as a “window to the brain.” The aim was to identify biomarkers by validating the use of electroretinography, a non-invasive technique, to detect early retinal function anomalies reflecting central dysfunction. Homozygous M83 transgenic mice (n = 10 males, 11 females), overexpressing human A53T α-synuclein, underwent behavioral tests and electroretinography measurements. Histological evaluation was performed at four months to analyze synucleinopathies and neurodegeneration. Electroretinography was also conducted with idiopathic PD patients (mean age 63.35 ± 7.73; disease duration 4.15 ± 2.06; H&Y score 2.07 ± 0.59; n = 12 males, 8 females) and healthy age-matched controls (mean age 61.65 ± 8.39; n = 9 males, 11 females). Rodent electroretinography revealed reduced photopic b-wave, PhNR b-wave, and PhNR-wave amplitudes at two and four months, particularly in females, indicating bipolar and retinal ganglion cell impairment. Based on retinal histological assessment, these changes might arise from α-synuclein pathology occurring in outer retinal layers. Likewise, the scotopic b-wave and PhNR waveform were similarly impaired in female participants with Parkinson's disease. The scotopic oscillatory potentials isolated further identified an attenuated amacrine cell output in females. Findings from both mice and human cohorts indicate that retinal functional impairments can be detected early in the progression of Parkinson's disease, particularly among females. These tools show promise in facilitating early diagnosis, disease monitoring, therapeutic intervention, and ultimately enhancing patient outcomes.

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