O Lado Tóxico Da Vaidade: Substâncias Cancerígenas Encontradas Em Cremes, Shampoos e Alisantes
- Lidi Garcia
- 9 de jun.
- 5 min de leitura

O formaldeído é uma substância tóxica e cancerígena usada como conservante em muitos produtos de beleza, como cremes e alisantes de cabelo. Mesmo sem estar claramente indicado no rótulo, ele pode estar presente e ser absorvido pela pele ou inalado. Estudos mostram que mulheres negras e latinas estão mais expostas a esses produtos, o que levanta preocupações de saúde e justiça social. Regulamentações estão sendo propostas para proteger os consumidores, mas ainda são limitadas.
Formaldeído é um químico muito usado como conservante em produtos de higiene e beleza, como xampus, cremes e maquiagem. Esse composto também pode ser encontrado nos rótulos dos produtos com os nomes paraformaldeído (formaldeído polimérico), metilenoglicol (equivalente a formaldeído) e quatérnio-15 (PRF).
Além de evitar o crescimento de fungos e bactérias, ele também pode ajudar a manter a textura e a eficácia dos produtos por mais tempo.
Alguns produtos liberam formaldeído aos poucos (chamados conservantes liberadores de formaldeído, ou PRFs) para continuar protegendo contra microrganismos. No entanto, o formaldeído pode ser absorvido pela pele ou inalado enquanto a pessoa usa o produto, e isso traz risco à saúde.

O formaldeído é considerado altamente tóxico e classificado como cancerígeno para humanos. Estudos mostram que a exposição prolongada a esse químico aumenta a chance de desenvolver cânceres no nariz, olhos, seios da face e até em células do sangue.
Além disso, formaldeído e conservantes liberadores de formaldeído podem causar alergia de contato na pele, estima-se que cerca de 8 em cada 100 pessoas nos EUA tenham sensibilidade a esses conservantes, manifestando coceira, vermelhidão e irritação.
Apesar do grande risco, ainda não sabemos exatamente quantos produtos de cuidados pessoais contêm formaldeído ou PRFs. Uma análise de 546 itens descobriu que 13% listavam algum PRF na embalagem, especialmente em produtos para cabelos e pele.

E outros estudos mediram formaldeído em produtos que nem sequer informavam esse ingrediente na lista, o que levanta preocupação sobre fontes ocultas de contaminação.
O uso de produtos para alisamento de cabelo ganhou atenção especial porque muitas técnicas liberam doses elevadas de formaldeído durante o procedimento. Em 2011, órgãos de saúde no trabalho alertaram salões de beleza sobre o perigo para cabeleireiros e clientes, e o FDA (órgão que regula alimentos e remédios nos EUA) começou a investigar a segurança desses alisantes em 2015.
Em 2021, o FDA alertou que um tratamento conhecido como “Brazilian Blowout” continha formaldeído acima do recomendado. Em 2023, o órgão chegou a propor regras para banir o formaldeído de alisantes capilares, mas essas normas ainda não entraram em vigor.

Alguns lugares já tomaram medidas mais duras: a União Europeia proibiu formaldeído como ingrediente de cosméticos desde 2009 e exige alerta nas embalagens se o produto liberar algum formaldeído.
Na Califórnia e em Washington, a partir de 2025, estarão proibidos formaldeído e alguns conservantes liberadores de formaldeído em qualquer cosmético vendido nos estados. Outros territórios americanos também vêm criando leis para limitar esses conservantes.
Além dos riscos de saúde, a presença de formaldeído em produtos de beleza também envolve questões de justiça social. Pesquisas mostram que mulheres negras e latinas são mais expostas a esses químico, em parte porque sofrem discriminação capilar e podem se sentir pressionadas a usar alisantes para se encaixar em padrões de beleza.

Da mesma forma, esmaltes e outros produtos para unhas, muito populares nessas comunidades, podem conter formaldeído. Até agora, pouco se estudou sobre a exposição em produtos de cuidado com a pele, mesmo que muitas mulheres negras e latinas usem loções, cremes e sabonetes que podem liberar formaldeído.
Para entender melhor essa situação, pesquisadores do Taking Stock Study (TSS) analisaram a lista de ingredientes de mais de 1.100 produtos usados por 70 mulheres negras e latinas no sul de Los Angeles.
Cada participante registrou os produtos que usava em um aplicativo de celular, permitindo uma visão detalhada do que entra em contato diariamente com a pele. Em seguida, compararam esses dados com o Chemical and Products Database (CPDat) da Agência de Proteção Ambiental dos EUA, um grande banco de informações sobre ingredientes em cosméticos e outros itens de consumo.

Número de produtos exclusivos em cada subcategoria utilizados pelos participantes do estudo TSS. As barras cinza-escuras indicam o número de produtos em cada subcategoria que listam formaldeído (n = 1 produto) ou PRFV (n = 41 produtos) como ingredientes. Subcategorias de produtos agrupadas por categoria (cuidados com a pele, produtos para o cabelo e cosméticos).
O estudo revelou que mais da metade das participantes (53%) usava ao menos um produto que mencionava formaldeído ou um conservantes liberadores de formaldeído na embalagem.
Em contraponto, apenas 4% dos produtos do TSS e 8% dos produtos listados no Chemical and Products Database tinham formaldeído ou PRFs explicitamente indicados.

Entre os ingredientes mais comuns estava a DMDM hidantoína, um conservante liberador de formaldeído encontrado em muitas loções e limpadores. Esses resultados mostram que, mesmo quando a maioria dos produtos não parece conter formaldeído, um número significativo de pessoas acaba exposto a ele sem saber.
Entender onde e como o formaldeído aparece em produtos de uso diário é essencial para proteger a saúde da população, especialmente de grupos mais vulneráveis, como mulheres negras e latinas que enfrentam maior exposição e têm menos voz em pesquisas de beleza.

Com essas informações, legisladores e agências reguladoras podem criar regras mais eficazes para limitar ou proibir formaldeído e PRFs em cosméticos, garantindo produtos mais seguros para todos.
LEIA MAIS:
Formaldehyde and Formaldehyde Releasing Preservatives in Personal Care Products Used by Black Women and Latinas
Robin E. Dodson, Elissia T. Franklin, Ami R. Zota, René LaPointe Jameson, Janette Robinson Flint, Lariah Edwards, Emily B. Weaver, and Bhavna Shamasunder
Environmental Science & Technology Letters. 7 May 2025
DOI: 10.1021/acs.estlett.5c00242
Abstract:
Formaldehyde and formaldehyde releasing preservatives (FRPs) are used in personal care products (PCPs) to prevent microbial growth and extend the shelf life. Several countries and U.S. states have banned or restricted the use of these chemicals due to carcinogenicity and other health concerns. However, the prevalence of these chemicals in PCPs used by the public, particularly by Black women and Latinas, remains poorly documented. We examined the prevalence of formaldehyde and FRPs listed as ingredients on PCPs from the Taking Stock Study (TSS), a community-engaged study in which 70 Black women and Latinas in South Los Angeles logged their PCP use with a smartphone application. We contextualized our results using EPA’s Chemical and Products Database (CPDat), a public ingredient database. More than half of the TSS participants (53%) reported using at least one PCP with formaldehyde or FRPs despite only 4% of TSS PCPs and 8% of CPDat PCPs listing formaldehyde and/or FRPs as ingredients. We found formaldehyde and FRPs listed in frequently used products such as lotions and cleansers. The most common FRP was 1,3-dimethylol-5,5-dimethylhydantoin (DMDM) hydantoin. These results could inform the types of regulations needed to protect the U.S. population from adverse health risks due to formaldehyde exposure from PCP use.
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