top of page

O "Glow Up" Não é Para Todos: Os Benefícios Do Exercício Para a Saúde Mental Dependem Do Contexto

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 14 de jul.
  • 4 min de leitura
ree

Mexer o corpo faz bem para a mente, mas o quanto, como e onde isso acontece pode fazer toda a diferença. Estudos mostram que exercícios no tempo livre ajudam a reduzir sintomas de depressão e ansiedade, mas nem toda atividade física tem o mesmo efeito. Além disso, o ambiente e a forma como o exercício é feito, como estar em grupo ou com apoio social,  também podem influenciar nos benefícios para a saúde mental.


A saúde mental é um dos principais temas de preocupação na sociedade atual, e pesquisadores têm buscado entender como diferentes fatores podem influenciar o bem-estar psicológico. Um dos aspectos mais estudados é a atividade física, que vai além de seus conhecidos benefícios para o corpo e pode também impactar positivamente a mente. 


Muitas pessoas já ouviram dizer que se exercitar melhora o humor, ajuda a reduzir o estresse e até alivia sintomas de depressão e ansiedade, mas será que todas as formas de atividade física ajudam igualmente? E será que esses efeitos são os mesmos para todas as pessoas? 


Embora o exercício físico seja amplamente reconhecido por seus benefícios à saúde mental, em alguns casos específicos ele pode agravar certos transtornos psicológicos. Indivíduos com transtornos de ansiedade, por exemplo, podem experimentar piora de sintomas devido à ativação fisiológica do exercício, como aumento da frequência cardíaca, que pode ser interpretada como sinal de perigo e desencadear crises.

ree

Em transtornos alimentares, o exercício pode ser usado de forma compulsiva e disfuncional, reforçando padrões de controle e punição corporal. Além disso, pessoas com depressão grave ou transtorno bipolar podem ter dificuldade em regular a intensidade ou a frequência da atividade, o que pode levar à exaustão ou desregulação do humor.


Por isso, a prática de exercícios deve ser adaptada ao contexto clínico de cada indivíduo e, idealmente, acompanhada por profissionais de saúde.


Este artigo, baseado em um colóquio da ACSM (American College of Sports Medicine) em 2023, discute justamente essas questões a partir de três tipos de estudos científicos: os epidemiológicos (que observam grandes populações), os ensaios clínicos (estudos controlados com voluntários) e pesquisas que analisam o contexto em que o exercício acontece. 

ree

Estudos epidemiológicos mostram que pessoas que praticam atividade física no tempo livre, como caminhar, correr, dançar ou ir à academia, geralmente relatam menos sintomas de depressão e ansiedade. Também é comum observar que quanto mais se exercitam, menores tendem a ser esses sintomas. 


No entanto, isso não significa que fazer muito exercício sempre traga mais benefícios. Em algumas pessoas, uma carga muito alta de atividade pode não ter mais efeito ou até causar o efeito contrário. É importante destacar que ainda não há boas evidências que liguem diretamente outras formas de atividade física, como trabalho pesado, tarefas domésticas ou caminhar para o trabalho,  a melhorias na saúde mental.


Além disso, os ensaios clínicos controlados, que testam a eficácia do exercício como tratamento, também apontam que a prática regular de atividade física pode ajudar no tratamento de problemas de saúde mental, principalmente em pessoas que já têm algum transtorno. Porém, esses estudos geralmente envolvem grupos pequenos, compostos por pessoas brancas de classe média ou alta, o que limita as conclusões para outros grupos da população. 

ree

E mesmo nesses estudos, os cientistas ainda não sabem exatamente por que o exercício funciona: os efeitos podem ser causados pelo próprio movimento físico, mas também podem estar ligados ao ambiente em que a atividade ocorre, à sensação de estar cuidando de si mesmo ou até a um efeito placebo (quando a pessoa melhora simplesmente por acreditar que algo vai ajudá-la).


Outro ponto importante é o papel do contexto, ou seja, das condições em que a atividade física acontece. Fatores como o apoio social durante os exercícios, a motivação do instrutor, a forma como o programa é conduzido e até o ambiente físico (como ao ar livre ou em grupo) podem influenciar o quanto a atividade realmente ajuda na saúde mental. 

ree

Embora algumas evidências indiquem que esses fatores contextuais podem fazer diferença, ainda não se sabe exatamente quais são os mais importantes ou como eles afetam diferentes pessoas.


Para avançar nesse campo, os cientistas precisam criar estudos que levem em conta não só o tipo e a intensidade do exercício, mas também o ambiente e as condições sociais em que ele é praticado. Assim, será possível entender melhor como tornar a atividade física uma ferramenta ainda mais eficaz para cuidar da saúde mental de forma personalizada e acessível para todos.



LEIA MAIS:


Up for Debate: Does Regular Physical Activity Really Improve Mental Health?

BUSTAMANTE E.E, BRELLENTHIN A.G, BROWN D.R, and O’CONNOR, P. J

Medicine & Science in Sports & Exercise 57(5):p 1056-1066, May 2025. 

DOI: 10.1249/MSS.0000000000003636


Abstract: 


Physical activity is frequently touted as beneficial for mental health. This article, based on a 2023 ACSM colloquium, highlights key strengths and limitations of the evidence regarding physical activity and mental health from three perspectives: epidemiological studies, randomized controlled trial experiments, and investigations that explicitly consider the potential role that contextual factors, such as the social climate in which physical activity is completed, can play in physical activity–mental health interactions. A large body of epidemiological evidence supports that regular leisure time physical activity is associated with less depression and anxiety. Higher amounts of physical activity are often associated with fewer depressive symptoms, but there may be a dose–response point where for some people more is not better but can plateau or even worsen. Epidemiological evidence is emerging but currently inadequate to support associations between mental health and occupational, transportation/active commuting, or domestic/household physical activity types. A large body of randomized controlled trials, typically small, short duration and conducted with samples biased toward middle-to-higher socioeconomic status Whites, supports that the adoption of regular exercise improves aspects of mental health; however, the mechanisms are unclear and for those without mental disorders the mean effects are small. Mental health benefits of exercise may be partially a placebo response or result from contextual factors surrounding exercise programs. A small body of evidence supports that contextual elements, such as the program implementation quality and social environment, can influence the mental health outcomes associated with physical activity programs, but the evidence is currently inadequate to identify which contextual variables have consistent moderate or larger effects. Greater progress will be made in this area when research designs are expanded to include consideration of the potential influence of contextual factors on relationships between physical activity and mental health.

 
 
 

Comentários


© 2020-2025 by Lidiane Garcia

bottom of page