Nova Descoberta Mostra Que Bactérias Intestinais Podem Desencadear Esclerose Múltipla
- Lidi Garcia
- há 4 dias
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A esclerose múltipla (EM) é uma doença em que o sistema imunológico ataca o cérebro e a medula. Além de fatores genéticos e ambientais, cientistas descobriram que as bactérias do intestino também podem influenciar no surgimento da doença. Um estudo com gêmeos idênticos mostrou que certas bactérias intestinais, presentes em pessoas com esclerose múltipla, podem causar sintomas da doença em camundongos. Isso ajuda a entender melhor a esclerose múltipla e pode levar a novos tratamentos no futuro.
A esclerose múltipla (EM) é uma doença que afeta o sistema nervoso central, ou seja, o cérebro e a medula espinhal. Ela ocorre quando o sistema imunológico do próprio corpo ataca uma parte dos nervos chamada mielina, que funciona como um “revestimento protetor” dos neurônios. Isso causa problemas na comunicação entre o cérebro e o resto do corpo.
Os sintomas mais comuns incluem fadiga intensa, dificuldade para andar, fraqueza muscular, dormência ou formigamento nos braços e pernas, problemas de visão (como visão dupla ou embaçada), desequilíbrio, tontura e dificuldades cognitivas, como problemas de memória e concentração.
Os sintomas podem aparecer em surtos e depois melhorar parcialmente, ou progredir de forma mais contínua ao longo do tempo.

A esclerose múltipla é considerada uma doença inflamatória crônica, e embora as causas exatas ainda não sejam totalmente conhecidas, acredita-se que ela aparece em pessoas que já têm uma predisposição genética e que foram expostas a certos fatores do ambiente.
Esses fatores de risco podem incluir mais de 200 alterações genéticas comuns, além de hábitos e condições como fumar, ter baixos níveis de vitamina D, obesidade e infecção por um vírus chamado Epstein-Barr.
Nos últimos anos, os cientistas começaram a estudar também o papel das bactérias que vivem no intestino, conhecidas como microbiota intestinal, como possíveis causadoras ou influenciadoras da esclerose múltipla.

Estudos mostraram que pessoas com esclerose múltipla têm uma composição diferente dessas bactérias em comparação com pessoas saudáveis. No entanto, os resultados variam muito de um estudo para outro, o que pode ser causado por diferenças na genética, na alimentação e no estilo de vida das pessoas analisadas.
Para investigar melhor essa relação, os cientistas usam camundongos que são modificados geneticamente para desenvolver uma doença semelhante à esclerose múltipla chamada EAE (encefalomielite autoimune experimental). Esses camundongos só desenvolvem a doença quando têm bactérias no intestino.
Quando eles são mantidos em ambientes sem microrganismos (livres de germes), eles não ficam doentes. Mas se forem expostos à microbiota de camundongos ou de pessoas com esclerose múltipla, a doença aparece. Isso sugere que as bactérias intestinais podem ter um papel direto no desenvolvimento da esclerose múltipla.

Em estudos anteriores, os cientistas já haviam notado essa ligação entre a microbiota intestinal e o aparecimento da esclerose múltipla, mas ainda não sabiam exatamente quais bactérias estavam envolvidas nem onde no intestino elas estavam localizadas.
Para resolver essa questão, foi criada uma nova estratégia. Os pesquisadores estudaram gêmeos idênticos (mesmo DNA), onde apenas um deles tinha esclerose múltipla. Isso ajudou a eliminar o fator genético como causa das diferenças observadas.
Eles analisaram as bactérias do intestino desses gêmeos e depois transplantaram essas bactérias para camundongos geneticamente modificados e livres de germes.

Os resultados mostraram que os camundongos que receberam bactérias de pessoas com esclerose múltipla tinham muito mais chances de desenvolver a doença do que aqueles que receberam bactérias de pessoas saudáveis.
Além disso, descobriu-se que duas bactérias específicas do intestino, chamadas Eisenbergiella tayi e Lachnoclostridium, ambas da família Lachnospiraceae, podem estar diretamente ligadas ao aumento da ocorrência da esclerose múltipla. Essas bactérias foram encontradas principalmente na parte final do intestino delgado, chamada íleo.
Outro detalhe interessante foi que as fêmeas de camundongos ficaram mais doentes do que os machos, o que pode refletir o que também acontece em humanos, já que a esclerose múltipla é mais comum em mulheres.
Esse estudo é importante porque mostra que determinadas bactérias no intestino podem realmente contribuir para o início da esclerose múltipla. Saber isso pode ajudar a desenvolver novas formas de diagnóstico precoce e até tratamentos que envolvam o controle ou a modificação da microbiota intestinal.
LEIA MAIS:
Multiple sclerosis and gut microbiota: Lachnospiraceae from the ileum of MS twins trigger MS-like disease in germfree transgenic mice—An unbiased functional study
Hongsup Yoon, Lisa Ann Gerdes, Florian Beigel, and Anneli Peters
PNAS. 122 (18) e2419689122. April 21, 2025.
Abstract:
We developed a two-tiered strategy aiming to identify gut bacteria functionally linked to the development of multiple sclerosis (MS). First, we compared gut microbial profiles in a cohort of 81 monozygotic twins discordant for MS. This approach allowed to minimize confounding effects by genetic and early environmental factors and identified over 50 differently abundant taxa with the majority of increased taxa within the Firmicutes. These included taxa previously described to be associated with MS (Anaerotruncus colihominis and Eisenbergiella tayi), along with newly identified taxa, such as Copromonas and Acutalibacter. Second, we interrogated the intestinal habitat and functional impact of individual taxa on the development of MS-like disease. In an exploratory approach, we enteroscopically sampled microbiota from different gut segments of selected twin pairs and compared their compositional profiles. To assess their functional potential, samples were orally transferred into germfree transgenic mice prone to develop spontaneous MS-like experimental autoimmune encephalomyelitis (EAE) upon bacterial colonization. We found that MS-derived ileal microbiota induced EAE at substantially higher rates than analogous material from healthy twin donors. Furthermore, female mice were more susceptible to disease development than males. The likely active organisms were identified as Eisenbergiella tayi and Lachnoclostridium, members of the Lachnospiraceae family. Our results identify potentially disease-facilitating bacteria sampled from the ileum of MS affected twins. The experimental strategy may pave the way to functionally understand the role of gut microbiota in initiation of MS.
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