Nova Descoberta: Células Imunes Vivem No Cérebro Saudável e Mantêm a Mente em Equilibrio
- Lidi Garcia
- há 2 dias
- 4 min de leitura

Pesquisadores descobriram que certas células T, importantes para a defesa do corpo, também vivem permanentemente dentro do cérebro, algo que antes se pensava não acontecer. Essas células ajudam a manter o cérebro saudável, se comunicam com outras células cerebrais e sua presença está ligada ao equilíbrio entre intestino, gordura corporal e cérebro. Essa descoberta pode abrir novos caminhos para entender doenças neurológicas e como o sistema imunológico protege o cérebro.
As células T são um tipo de célula do sistema imunológico que tem um papel central na defesa do corpo contra infecções e doenças. Elas fazem parte da chamada "imunidade adaptativa", que é a parte do sistema imunológico que aprende a reconhecer e lembrar de invasores específicos, como vírus e bactérias. Existem diferentes tipos de células T, mas, em geral, elas ajudam a coordenar a resposta imune e a destruir células infectadas.
As células T desempenham um papel fundamental no tratamento do câncer, especialmente por meio das chamadas terapias imunológicas. Elas têm a capacidade de reconhecer e destruir células tumorais, o que tem sido explorado em abordagens como a terapia com células CAR-T, na qual células T do próprio paciente são modificadas em laboratório para atacar células cancerígenas de forma mais eficaz.
Essas terapias têm mostrado resultados promissores, especialmente em certos tipos de leucemia e linfoma, e estão sendo continuamente aprimoradas para tratar outros tipos de câncer sólidos.

Celula T (vermelho) atacando celula cancerigena (azul)
Até recentemente, acreditava-se que as células T não viviam dentro do cérebro, mas apenas o protegiam a partir das estruturas que o rodeiam, como as meninges.
Um novo estudo, realizado por pesquisadores da Yale School of Medicine, USA, e publicado na Nature, revelou que algumas células T do tipo CD4, chamadas de "células T αβ", realmente vivem dentro do cérebro, mais especificamente em uma região chamada órgão subfornical (SFO), tanto em camundongos quanto em humanos.

Essa é uma descoberta importante porque até então se pensava que o cérebro não abrigava células do sistema imunológico adaptativo de forma permanente. Essas células T no cérebro são diferentes daquelas que ficam nas meninges, que são as membranas ao redor do cérebro. Elas não estão nos vasos sanguíneos, mas sim dentro do próprio tecido cerebral.
Além disso, elas têm um comportamento único: produzem uma substância chamada interferon gama (IFNγ), que ajuda a manter o equilíbrio e o bom funcionamento do sistema nervoso central. Elas também expressam proteínas especiais, como a CXCR6, que ajudam essas células a se fixarem no cérebro.

Surpreendentemente, essas células T que vivem no cérebro são “preparadas” em outras partes do corpo, como o intestino e o tecido adiposo (gordura). O estudo mostrou que o microbioma intestinal (as bactérias que vivem no nosso intestino) e a gordura corporal influenciam diretamente a presença dessas células T no cérebro. Elas viajam a partir desses locais para o cérebro, onde se instalam no órgão subfornical.
Essa descoberta mostra que existe uma comunicação constante entre o sistema imunológico, o cérebro, o intestino e a gordura corporal. As células T no cérebro ajudam a manter sua estabilidade e bom funcionamento, algo conhecido como homeostase.

Se houver mudanças no microbioma intestinal ou na composição da gordura do corpo, isso pode afetar a quantidade dessas células no cérebro, e possivelmente, a saúde mental e neurológica como um todo.
Em resumo, o estudo revelou que o cérebro possui suas próprias células T residentes, diferentes das células nas meninges, e que elas têm um papel ativo na manutenção da saúde do cérebro. Essa conexão entre o sistema imune, o intestino, a gordura e o cérebro abre novas portas para entender doenças neurológicas e o impacto da saúde corporal geral sobre o cérebro.
LEIA MAIS:
The subfornical organ is a nucleus for gut-derived T cells that regulate behaviour
Tomomi M. Yoshida, Mytien Nguyen, Le Zhang, Benjamin Y. Lu, Biqing Zhu, Katie N. Murray, Yann S. Mineur, Cuiling Zhang, Di Xu, Elizabeth Lin, Joseph Luchsinger, Sagar Bhatta, Daniel A. Waizman, Mackenzie E. Coden, Yifan Ma, Kavita Israni-Winger, Anthony Russo, Haowei Wang, Wenzhi Song, Jafar Al Souz, Hongyu Zhao, Joseph E. Craft, Marina R. Picciotto, Jaime Grutzendler, Marcello Distasio, Noah W. Palm, David A. Hafler, and Andrew Wang
Nature (2025). 28 May 2025
Abstract:
Specialized immune cells that reside in tissues orchestrate diverse biological functions by communicating with parenchymal cells1. The contribution of the innate immune compartment in the meninges and the central nervous system (CNS) is well-characterized; however, whether cells of the adaptive immune system reside in the brain and are involved in maintaining homeostasis is unclear2,3,4. Here we show that the subfornical organ (SFO) of the brain is a nucleus for parenchymal αβ T cells in the steady-state brain in both mice and humans. Using unbiased transcriptomics, we show that these extravascular T cells in the brain are distinct from meningeal T cells: they secrete IFNγ robustly and express tissue-residence proteins such as CXCR6, which are required for their retention in the brain and for normal adaptive behaviour. These T cells are primed in the periphery by the microbiome, and traffic from the white adipose and gastrointestinal tissues to the brain. Once established, their numbers can be modulated by alterations to either the gut microbiota or the composition of adipose tissue. In summary, we find that CD4 T cells reside in the brain at steady state and are anatomically concentrated in the SFO in mice and humans; that they are transcriptionally and functionally distinct from meningeal T cells; and that they secrete IFNγ to maintain CNS homeostasis through homeostatic fat–brain and gut–brain axes.
Commentaires