Meninas com TDAH: Risco Maior de Ansiedade na Adolescência
- Lidi Garcia
- 8 de mai.
- 4 min de leitura

Ansiedade e TDAH são comuns em crianças e adolescentes, e muitas vezes acontecem juntos. Este estudo descobriu que, nas meninas, a desatenção pode levar à ansiedade com o tempo, e a ansiedade também pode aumentar a desatenção na adolescência. Já nos meninos, a impulsividade na infância pode aumentar o risco de ansiedade. Esses resultados mostram que os sintomas se relacionam de formas diferentes entre meninos e meninas, o que pode ajudar a melhorar os tratamentos.
Os transtornos de ansiedade e o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) são muito comuns entre crianças e adolescentes em todo o mundo. Cerca de 1 em cada 3 jovens pode apresentar algum tipo de ansiedade, enquanto quase 1 em cada 10 pode ter TDAH.
Ambos os transtornos podem causar dificuldades significativas na vida, como problemas para aprender na escola, se relacionar com os outros e lidar com situações do dia a dia. Além disso, é comum que ansiedade e TDAH apareçam juntos, algo chamado de comorbidade, o que torna o diagnóstico e o tratamento ainda mais desafiadores.
O TDAH é caracterizado por dois grupos principais de sintomas: desatenção (como dificuldade de concentração ou de seguir instruções) e hiperatividade-impulsividade (como inquietação ou agir sem pensar).

Pesquisas mostram que essas duas dimensões do TDAH podem se relacionar de formas diferentes com os sintomas de ansiedade, mas ainda não sabemos exatamente como isso acontece, principalmente ao longo do crescimento da criança e levando em conta as diferenças entre meninos e meninas.
Estudos anteriores já indicaram que TDAH e ansiedade podem influenciar um ao outro com o tempo. Em outras palavras, crianças com TDAH podem desenvolver ansiedade mais tarde, e o contrário também pode acontecer.
No entanto, a maioria dessas pesquisas não conseguiu separar bem o que muda dentro da mesma criança ao longo dos anos (mudanças individuais) do que varia entre crianças diferentes (diferenças de grupo). Isso é importante porque fatores como genética ou ambiente familiar estável podem interferir nesses resultados.

Outro desafio para os estudos nessa área é a forma como os dados são coletados. Questionários e entrevistas nem sempre apresentam os mesmos resultados, já que as escalas de avaliação muitas vezes não consideram todos os critérios de diagnóstico, como quanto tempo o sintoma dura, o quanto ele atrapalha o dia a dia ou o sofrimento que causa.
Além disso, pais e filhos podem ter percepções diferentes sobre os mesmos comportamentos. Os pais, por exemplo, tendem a subestimar sintomas internos como ansiedade, enquanto as crianças muitas vezes não percebem o quanto seus comportamentos impulsivos ou desatentos impactam os outros.
Este estudo buscou entender melhor como os sintomas de TDAH e ansiedade se influenciam ao longo do tempo, levando em conta as duas dimensões do TDAH separadamente, as diferenças entre meninos e meninas, e também as fases do desenvolvimento infantil.
Para isso, os pesquisadores acompanharam duas grandes amostras de crianças na Noruega, dos 4 aos 16 anos, com avaliações feitas a cada dois anos. Eles usaram entrevistas com os pais para entender como os sintomas evoluíam ao longo do tempo.

Os resultados mostraram padrões diferentes para meninas e meninos. Nas meninas, sintomas de desatenção na infância estavam ligados ao surgimento de ansiedade na adolescência. Além disso, quando meninas apresentavam ansiedade por volta dos 12 e 14 anos, elas também tendiam a desenvolver mais desatenção depois disso.
Já nos meninos, a relação foi diferente: sintomas de hiperatividade e impulsividade aos 6 e 8 anos estavam associados ao aumento da ansiedade dois anos depois. No entanto, para eles, a ansiedade não levou a mais sintomas de TDAH no futuro.
Esses achados indicam que as duas dimensões do TDAH (desatenção e hiperatividade-impulsividade) influenciam a ansiedade de formas diferentes, dependendo do sexo da criança.
Isso sugere que os tratamentos e as estratégias de prevenção também precisam ser adaptados: meninas com sintomas de desatenção podem se beneficiar de um apoio precoce para evitar o desenvolvimento de ansiedade, enquanto meninos com muita impulsividade podem precisar de ajuda nessa área para prevenir o surgimento de ansiedade.
Além disso, tratar a ansiedade nas meninas pode ajudar a reduzir os sintomas de desatenção durante a adolescência.
LEIA MAIS:
Reciprocal relations between dimensions of attention-deficit/hyperactivity and anxiety disorders from preschool age to adolescence: sex differences in a birth cohort sample
Mojtaba Habibi Asgarabad, Silje Steinsbekk, Cynthia M. Hartung, Lars Wichstrøm
Journal of Child Psychology and Psychiatry, Volume 66, Issue2
February 2025. Pages 154-166
Abstract:
Symptoms of anxiety and attention-deficit/hyperactivity disorder (ADHD) are prospectively related from childhood to adolescence. However, whether the two dimensions of ADHD—inattention and hyperactivity-impulsivity—are differentially related to anxiety and whether there are developmental and sex/gender differences in these relations are unknown. Two birth cohorts of Norwegian children were assessed biennially from ages 4 to 16 (N = 1,077; 49% girls) with diagnostic parent interviews used to assess symptoms of anxiety and ADHD. Data were analyzed using a random intercept cross-lagged panel model, adjusting for all unobserved time-invariant confounding effects. In girls, increased inattention, but not hyperactivity-impulsivity, predicted increased anxiety 2 years later across all time-points and increased anxiety at ages 12 and 14 predicted increased inattention but not hyperactivity-impulsivity. In boys, increased hyperactivity-impulsivity at ages 6 and 8, but not increased inattention, predicted increased anxiety 2 years later, whereas increased anxiety did not predict increased inattention or hyperactivity-impulsivity. The two ADHD dimensions were differentially related to anxiety, and the relations were sex-specific. In girls, inattention may be involved in the development of anxiety throughout childhood and adolescence and anxiety may contribute to girls developing more inattention beginning in early adolescence. In boys, hyperactivity-impulsivity may be involved in the development of anxiety during the early school years. Effective treatment of inattention symptoms in girls may reduce anxiety risk at all time-points, while addressing anxiety may decrease inattention during adolescence. Similarly, treating hyperactivity-impulsivity may reduce anxiety risk in boys during late childhood (at ages 8–10).



Comentários