Maior Estudo Já Feito Descarta Relação Entre Alumínio Em Vacinas e Autismo Ou TDAH
- Lidi Garcia
- 17 de jul.
- 5 min de leitura

Vacinas infantis usam alumínio para reforçar a resposta do sistema imune, mas muita gente teme que isso cause autismo, alergias ou doenças autoimunes. Um novo estudo com mais de 1,2 milhão de crianças na Dinamarca mostrou que não há aumento no risco dessas doenças relacionado à quantidade de alumínio recebida nas vacinas. Ou seja, vacinas com alumínio são seguras, mesmo com uso desde os primeiros anos de vida.
Durante muitos anos, circularam preocupações, especialmente em redes sociais e entre grupos antivacina, de que o alumínio usado nas vacinas infantis pudesse causar problemas como autismo, doenças autoimunes ou alergias.
Muitas vacinas aplicadas na infância, como as contra hepatite B, tétano, difteria, coqueluche e pneumococo, usam uma substância chamada alumínio como adjuvante. Esse componente não é o "princípio ativo" da vacina, mas sim um reforço que ajuda o corpo a gerar uma resposta imune mais forte e duradoura ao antígeno.
O uso de adjuvantes à base de alumínio existe há muitas décadas, e essas vacinas fazem parte de programas nacionais de vacinação infantil em vários países, incluindo o Brasil e a Dinamarca.

No entanto, apesar de sua longa história e aprovação por agências de saúde ao redor do mundo, preocupações persistem em parte da população sobre possíveis efeitos colaterais do alumínio, especialmente no desenvolvimento neurológico e imunológico das crianças.
Essas preocupações vêm principalmente de estudos antigos em animais ou análises limitadas em humanos, muitas vezes com pouca base científica sólida. Alguns desses estudos sugeriram que o alumínio presente nas vacinas poderia estar ligado a problemas autoimunes, doenças alérgicas ou até distúrbios do neurodesenvolvimento, como autismo ou TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade).
Isso gerou medo e desinformação, alimentando teorias da conspiração sobre as vacinas. No entanto, os dados em humanos que realmente sustentem esses riscos são frágeis e inconclusivos, em geral, são estudos pequenos, observacionais e sem o rigor necessário para tirar conclusões confiáveis.
O que faltava até agora era uma análise abrangente, em grande escala e com dados reais de vacinação e saúde ao longo do tempo.

Foi exatamente isso que pesquisadores dinamarqueses fizeram neste novo estudo, um dos mais robustos já conduzidos sobre o tema. Aproveitando uma particularidade do sistema de saúde da Dinamarca, que mantém registros nacionais detalhados sobre vacinação, diagnósticos médicos e histórico de saúde de toda a população, os cientistas estudaram mais de 1,2 milhão de crianças nascidas entre 1997 e 2018, acompanhadas até 2020.
Como o programa de vacinação infantil do país sofreu alterações ao longo dos anos, com a troca de vacinas e mudanças na formulação, a quantidade de alumínio recebida pelas crianças variou naturalmente entre diferentes gerações.
Durante o estudo, os cientistas calcularam a quantidade cumulativa de alumínio que cada criança recebeu pelas vacinas até os dois anos de idade. Em seguida, investigaram se havia alguma relação entre essa exposição e o risco futuro de desenvolver 50 doenças crônicas diferentes.
Entre elas estavam condições autoimunes (como lúpus, diabetes tipo 1, doenças da tireoide e doenças reumáticas), alérgicas ou atópicas (como asma, dermatite atópica, rinite alérgica e alergias alimentares) e distúrbios do neurodesenvolvimento, como autismo e TDAH.

O resultado foi muito claro: não houve nenhuma associação entre a quantidade de alumínio recebida nas vacinas e o risco de desenvolver qualquer uma dessas doenças. Ou seja, mesmo quando a dose de alumínio aumentava, o risco não aumentava, na verdade, os números indicaram uma leve tendência de redução, especialmente para transtornos do neurodesenvolvimento, embora essa queda não tenha sido considerada clinicamente significativa.
A razão de risco ajustada foi de 0,98 para doenças autoimunes, 0,99 para doenças alérgicas e 0,93 para transtornos do neurodesenvolvimento, valores que indicam ausência de aumento de risco.
Além disso, para a maioria das doenças, os intervalos de confiança excluíram até mesmo aumentos moderados (por exemplo, 10% ou 30%) no risco, o que dá ainda mais força ao resultado.
Um dos pontos fortes do estudo é que ele usou dados reais, de alta qualidade, de uma população inteira, com acompanhamento por mais de 20 anos. Também é importante destacar que a dinâmica das vacinas ao longo do tempo gerou variações no teor de alumínio sem que isso fosse afetado por decisões dos pais ou características socioeconômicas, um dos motivos pelos quais os resultados são considerados confiáveis.

A principal limitação é que os prontuários médicos individuais não foram revisados manualmente; os diagnósticos vieram de registros eletrônicos. Mesmo assim, esses registros são reconhecidos pela alta qualidade e uso rotineiro em pesquisas epidemiológicas.
A conclusão geral do estudo é tranquilizadora: não há evidência de que as vacinas contendo alumínio causem autismo, doenças autoimunes ou alergias.
Esse trabalho representa um forte contraponto às alegações de que o alumínio em vacinas seria perigoso. Ele mostra, com base em dados sólidos e em uma população muito grande, que essas vacinas continuam sendo seguras e essenciais para a proteção das crianças.
Embora o estudo não possa descartar efeitos muito pequenos (particularmente para doenças muito raras), ele afasta com segurança qualquer risco relevante que justifique preocupações generalizadas. Trata-se, portanto, de uma resposta científica importante a um mito que vem sendo perpetuado por décadas, e que nunca teve base concreta.
LEIA MAIS:
Aluminum-Adsorbed Vaccines and Chronic Diseases in Childhood: A Nationwide Cohort Study
Niklas Worm Andersson, Ingrid Bech Svalgaard, Stine Skovbo Hoffmann, and Anders Hviid
Annals of Internal Medicine. Epub 15 July 2025.
doi:10.7326/ANNALS-25-00997
Abstract:
Aluminum is used as an adjuvant in nonlive vaccines administered in early childhood. Concerns persist about potential associations between vaccination with aluminum-adsorbed vaccines and increased risk for chronic autoimmunity, atopy or allergy, and neurodevelopmental disorders. Large-scale safety data remain limited. To assess the association between cumulative aluminum exposure from early childhood vaccination and risk for autoimmune, atopic or allergic, and neurodevelopmental disorders. A cohort study linking nationwide registry data on childhood vaccinations, outcome diagnoses, and potential confounders, leveraging the variations in the aluminum content of childhood vaccines over time. Denmark, 1997 to 2020. 1 224 176 children born in Denmark between 1997 and 2018 who were alive and residing in the country at age 2 years. Cumulative aluminum amount received (per 1-mg increase) through vaccination during the first 2 years of life. Incident events of 50 chronic disorders, including autoimmune (dermatologic, endocrinologic, hematologic, gastrointestinal, and rheumatic), atopic or allergic (asthma, atopic dermatitis, rhinoconjunctivitis, and allergy), and neurodevelopmental (autism spectrum disorder and attention deficit–hyperactivity disorder). Cumulative aluminum exposure from vaccination during the first 2 years of life was not associated with increased rates of any of the 50 disorders assessed. For groups of combined outcomes, adjusted hazard ratios per 1-mg increase in aluminum exposure were 0.98 (95% CI, 0.94 to 1.02) for any autoimmune disorder, 0.99 (CI, 0.98 to 1.01) for any atopic or allergic disorder, and 0.93 (CI, 0.90 to 0.97) for any neurodevelopmental disorder. For most individually analyzed outcomes, the upper bounds of the 95% CIs were incompatible with relative increases greater than 10% or 30%. Individual medical records were not reviewed. This nationwide cohort study did not find evidence supporting an increased risk for autoimmune, atopic or allergic, or neurodevelopmental disorders associated with early childhood exposure to aluminum-adsorbed vaccines. For most outcomes, the findings were inconsistent with moderate to large relative increases in risk, although small relative effects, particularly for some rarer disorders, could not be statistically excluded.



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