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Influência Invisível: Como Lesões Cerebrais Aumentam a Impulsividade e a Influência Social

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 14 de mai.
  • 6 min de leitura

Este estudo investigou como diferentes partes do cérebro ajudam nas decisões que tomamos sozinhos ou influenciados por outras pessoas. Eles descobriram que danos na parte superior do córtex pré-frontal medial (dmPFC) deixam as pessoas mais vulneráveis à influência dos outros, especialmente se o outro for impulsivo. Já danos na parte inferior do córtex pré-frontal medial (vmPFC) fazem as pessoas preferirem recompensas imediatas, mostrando maior impulsividade. Isso mostra que diferentes partes do córtex pré-frontal medial têm papéis diferentes: uma ajuda a resistir à pressão social e outra ajuda no controle da impulsividade. Essas descobertas ajudam a entender melhor como o cérebro nos guia em decisões sociais e econômicas.


O córtex pré-frontal medial (mPFC) é uma região do cérebro envolvida em tomar decisões e lidar com informações sociais, como entender o que os outros pensam ou querem. Por muito tempo, cientistas acreditaram que diferentes partes dessa área têm funções distintas: a parte de cima (chamada dorsomedial, ou dmPFC) estaria mais envolvida em pensar sobre os outros, enquanto a parte de baixo (ventromedial, ou vmPFC) estaria mais voltada para pensamentos sobre si mesmo. 


No entanto, muitas dessas descobertas vêm de estudos que observam o cérebro em ação, mas que não conseguem provar causa e efeito. Isso tem gerado debates, pois ainda não se sabe exatamente o que cada parte do mPFC faz, especialmente quando o assunto é comportamento social ou decisões econômicas.


Uma das ideias mais discutidas é que existe uma espécie de “gradiente” dentro do mPFC: a parte mais de baixo ajudaria a pensar sobre si mesmo, e a parte mais de cima ajudaria a pensar sobre os outros. Mas até essa ideia vem sendo questionada. 

Por exemplo, a parte ventral do mPFC, que teoricamente ajudaria só a pensar sobre si mesmo, também parece estar envolvida em entender as preferências de outras pessoas, em tomar decisões por elas e até em misturar as preferências de si mesmo com as dos outros. 


Do outro lado, a parte dorsal (dmPFC), que supostamente seria mais social, também aparece em situações onde a pessoa está avaliando suas próprias escolhas. Isso sugere que nenhuma dessas regiões é exclusiva para informações sociais ou individuais. Para esclarecer essas funções, seria ideal ter estudos com evidência causal, como com pessoas que sofreram lesões cerebrais específicas, e com amostras grandes.


Uma forma de estudar decisões sociais e econômicas ao mesmo tempo é usar uma tarefa chamada “escolha intertemporal delegada”. Nela, os participantes precisam escolher entre receber um valor menor imediatamente ou um valor maior depois. 


Isso mede o quanto cada pessoa é impulsiva ou paciente. Curiosamente, estudos mostram que as preferências de uma pessoa sobre isso podem mudar só por saber o que outras pessoas preferem. 


Quando alguém precisa fazer essas escolhas em nome de outra pessoa (mesmo que seja um estranho), ela tende a ajustar suas decisões para se parecer mais com as do outro. Isso mostra como somos influenciados socialmente, um fenômeno conhecido como influência social ou “contágio social”. 

Estudos de neuroimagem sugerem que o córtex pré-frontal medial, especialmente sua parte dorsal, é ativado quando as pessoas seguem a opinião da maioria. Em outras palavras, essa parte do cérebro parece ser importante para a conformidade social. 


Outras pesquisas mostram que tanto o córtex pré-frontal medial dorsal quanto o córtex pré-frontal medial ventral participam de decisões econômicas e sociais. Uma teoria é que o cérebro muda a forma como representa os valores das escolhas quando está sob influência de outras pessoas, e essa mudança ocorre no córtex pré-frontal medial. 


No entanto, mesmo com essas observações, ainda não sabemos se o córtex pré-frontal medial é realmente necessário para que essas influências aconteçam, pois a maioria dos estudos só observa correlações, e não causa e efeito.


Além disso, o córtex pré-frontal medial também aparece envolvido em decisões que não têm a ver com os outros, por exemplo, escolher entre receber uma recompensa agora ou esperar por uma maior. Há estudos mostrando que sua atividade, e sua conexão com outras áreas do cérebro, se relaciona com essa preferência.  

Alguns estudos com pessoas que sofreram lesões nessa região mostraram que elas ficaram mais impulsivas, mas esses estudos foram com muito poucas pessoas. E nas imagens cerebrais, às vezes, as regiões ventrais do córtex pré-frontal medial são difíceis de observar com precisão por causa de limitações técnicas. Por isso, é muito importante usar estudos com mais pessoas e abordagens mais robustas para descobrir o verdadeiro papel do córtex pré-frontal medial nessas funções.


Neste estudo em particular, os pesquisadores reuniram um grupo relativamente grande de pessoas que sofreram lesões especificamente no córtex pré-frontal medial (33 pessoas) e os compararam com dois outros grupos: um grupo com lesões em outras partes do cérebro (17 pessoas) e um grupo de controle saudável, sem lesões (71 pessoas).  

Localização das lesões nos grupos mPFC e controle da lesão. (a) Os participantes do grupo com lesão mPFC (N = 33) apresentaram dano focal no mPFC, com as lesões se estendendo para as secções laterais (área 13) do mPFC bilateral e incluindo sub-regiões da superfície medial (áreas 9, 14, 25 e 32). (b) Os participantes do grupo controle da lesão (N = 17) também sofreram danos causados ​​principalmente por hemorragia subaracnóidea, mas em áreas fora do mPFC.


Todos fizeram uma tarefa para medir o quão impulsivos ou pacientes eram em suas decisões. Depois, foram apresentados às escolhas de duas outras pessoas (na verdade, escolhas simuladas pelos pesquisadores): uma mais impulsiva e outra mais paciente. Em seguida, os participantes repetiram a tarefa para ver se mudaram suas próprias preferências após conhecer as dos outros. Para medir isso com precisão, os cientistas usaram modelos matemáticos avançados e analisaram os resultados junto com imagens das lesões cerebrais.


Os resultados mostraram que pessoas com lesões no córtex pré-frontal medial eram mais influenciadas pelas preferências dos outros, especialmente quando esses outros eram impulsivos. 


Isso não aconteceu com tanta força nos outros grupos. Ou seja, o córtex pré-frontal medial parece ser importante para resistir à influência social. Mais especificamente, as lesões na parte dorsal (dmPFC) estavam ligadas à maior suscetibilidade à influência de decisões impulsivas. Já lesões na parte ventral (vmPFC) estavam associadas a uma tendência geral maior à impulsividade nas próprias escolhas, mesmo antes de qualquer influência social.

Lesões no mPFC aumentam a impulsividade temporal sem afetar a incerteza de preferência. (a) Ilustração do modelo de preferência-incerteza (KU). No modelo KU, as preferências de desconto temporal das pessoas são representadas por uma distribuição de probabilidade. A média (km) dessa distribuição indica impulsividade temporal, enquanto o desvio padrão (ku) reflete o nível de incerteza de preferência. (b) A comparação da impulsividade temporal (km) e da incerteza de preferência (ku) dos participantes, derivadas do modelo de preferência-incerteza (KU), entre os grupos revelou que as lesões no mPFC aumentaram a impulsividade temporal, mas não a incerteza de preferência, em comparação com controles saudáveis.


Em resumo, o estudo mostrou que diferentes partes do córtex pré-frontal medial têm papéis distintos: o dmPFC está envolvido na forma como somos influenciados socialmente, enquanto o  vmPFC está mais ligado ao controle da impulsividade. Esse estudo fornece evidências fortes de que essas áreas realmente causam esses efeitos, o que ajuda a entender melhor como o cérebro lida com decisões sociais e econômicas.



LEIA MAIS:


Dorsomedial and ventromedial prefrontal cortex lesions differentially impact social influence and temporal discounting

Zhilin Su, Mona M. Garvert, Lei Zhang, Todd A. Vogel, Jo Cutler,

Masud Husain, Sanjay G. Manohar, and Patricia L. Lockwood 

PLoS Biol 23(4): e3003079.


Abstract:


The medial prefrontal cortex (mPFC) has long been associated with economic and social decision-making in neuroimaging studies. Several debates question whether different ventral mPFC (vmPFC) and dorsal mPFC (dmPFC) regions have specific functions or whether there is a gradient supporting social and nonsocial cognition. Here, we tested an unusually large sample of rare participants with focal damage to the mPFC (N = 33), individuals with lesions elsewhere (N = 17), and healthy controls (N = 71) (total N = 121). Participants completed a temporal discounting task to estimate their baseline discounting preferences before learning the preferences of two other people, one who was more temporally impulsive and one more patient. We used Bayesian computational models to estimate baseline discounting and susceptibility to social influence after learning others’ economic preferences. mPFC damage increased susceptibility to impulsive social influence compared to healthy controls and increased overall susceptibility to social influence compared to those with lesions elsewhere. Importantly, voxel-based lesion-symptom mapping (VLSM) of computational parameters showed that this heightened susceptibility to social influence was attributed specifically to damage to the dmPFC (area 9; permutation-based threshold-free cluster enhancement (TFCE) p < 0.025). In contrast, lesions in the vmPFC (areas 13 and 25) and ventral striatum were associated with a preference for seeking more immediate rewards (permutation-based TFCE p < 0.05). We show that the dmPFC is causally implicated in susceptibility to social influence, with distinct ventral portions of mPFC involved in temporal discounting. These findings provide causal evidence for sub-regions of the mPFC underpinning fundamental social and cognitive processes.

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