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Gaza: Reconstruindo Cérebros Depois Das Bombas

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 10 de out.
  • 4 min de leitura
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A guerra entre Israel e Hamas começou em outubro de 2023 com um ataque surpresa do grupo terrorista Hamas, desencadeando uma longa ofensiva militar israelense. Essa violência deixa marcas profundas no cérebro de quem viveu o conflito: medo constante, problemas de memória, controle emocional comprometido, risco de transtornos mentais. Crianças sofrem mais, e os efeitos podem ultrapassar gerações. A paz traz oportunidade de cura, mas ela exige muito apoio, cuidado e reconstrução.


A guerra entre Israel e Hamas começou em 7 de outubro de 2023, quando o grupo terrorista palestino Hamas lançou um ataque surpresa contra território israelense a partir da Faixa de Gaza. Esse ataque incluiu foguetes, incursões terrestres, sequestros de civis, e houve muitos mortos. 


Em resposta, Israel declarou guerra e iniciou uma ofensiva militar sobre Gaza, que incluiu bombardeios aéreos, operações terrestres e bloqueios. A guerra se prolongou por anos, transformando-se numa crise humanitária de larga escala.


A guerra deixa marcas que não se veem em fotos nem em ruínas. Elas ficam dentro do corpo, mais precisamente, dentro do cérebro. Agora que a paz finalmente foi selada em Gaza, começa outro tipo de reconstrução: a reconstrução neurológica e emocional.


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Meses de bombardeios, medo, perdas e isolamento afetaram milhões de cérebros em desenvolvimento. A ciência mostra que o trauma prolongado muda literalmente a forma e o funcionamento do cérebro humano.


Quando uma pessoa vive em estado constante de medo, ouvindo sirenes, explosões, gritos, perdendo familiares, o cérebro entra em hipervigilância. A amígdala, região que detecta perigo, fica aumentada e hiperativa, reagindo mesmo a sons inofensivos.


O hipocampo, responsável pela memória e pela orientação no tempo e espaço, encolhe. Isso causa confusão, pesadelos e dificuldade em distinguir o passado do presente. Já o córtex pré-frontal, que controla impulsos e raciocínio, perde conexões. A pessoa se torna mais impulsiva, ansiosa e tem dificuldade em tomar decisões ou planejar o futuro.


Essas alterações são típicas de TEPT (Transtorno de Estresse Pós-Traumático), mas em zonas de guerra o impacto é mais profundo: o cérebro deixa de aprender que o mundo pode ser seguro.


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Por outro lado, os reféns israelenses que permaneceram em cativeiro por meses, ou até anos, sofreram impactos profundos no cérebro, semelhantes aos observados em vítimas de tortura ou guerra prolongada. 


A privação de liberdade, o medo constante da morte e a ausência de controle sobre o próprio destino provocam hiperativação crônica da amígdala, área responsável pelo medo e alerta, e uma redução funcional do hipocampo, que processa memória e orientação temporal. Isso leva a lapsos de memória, dificuldade de concentração, distorção da noção de tempo e episódios de dissociação (sensação de “desligar” da realidade). 


Com o tempo, a exposição prolongada ao estresse extremo altera também o córtex pré-frontal, responsável pela tomada de decisões e empatia, resultando em sintomas duradouros de transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), insônia, pesadelos e até perda de identidade emocional.


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Nas crianças, o trauma não apenas afeta emoções, ele interrompe o desenvolvimento cerebral.A exposição prolongada ao estresse libera cortisol, o “hormônio do estresse”, em níveis tóxicos.  Isso danifica as conexões neuronais, especialmente em áreas ligadas à linguagem, atenção e empatia.


Muitas dessas crianças crescerão com sintomas de:


  • Ansiedade crônica e pesadelos,


  • Atrasos cognitivos e dificuldades de aprendizado,


  • Comportamento agressivo ou retraído,


  • Dificuldades de confiar em adultos e formar vínculos.


Sem apoio psicológico e educacional, há risco de formar uma geração com memórias gravadas na dor, e não na esperança.


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Além disso, a fome agrava todos os efeitos neurológicos da guerra, porque o cérebro depende de uma nutrição constante para funcionar e se desenvolver. A falta de alimentos reduz níveis de  glicose, ferro, vitaminas do complexo B e ômega-3, todos essenciais para neurotransmissores como serotonina e dopamina, que regulam humor e memória. 


Em crianças, a desnutrição pode causar atrofia cerebral, atraso cognitivo e emocional, e maior vulnerabilidade a transtornos como ansiedade, depressão e TEPT. Em adultos, o estresse da fome intensifica a irritabilidade, o desespero e a perda de controle emocional, o que torna a recuperação psicológica após o conflito muito mais difícil.


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A neurociência moderna mostra que o trauma não para na geração que o vive. Pessoas expostas à guerra por longos períodos sofrem mudanças epigenéticas, ou seja, certas substâncias químicas se prendem ao DNA e alteram a forma como os genes se expressam, sem mudar o código genético em si.


Essas alterações podem ser transmitidas aos filhos, afetando o equilíbrio hormonal e aumentando a vulnerabilidade ao estresse e à depressão. Isso explica por que filhos e netos de sobreviventes de guerras (como o Holocausto ou Ruanda) têm mais risco de transtornos de ansiedade e depressão, mesmo sem viver o conflito diretamente. A paz, portanto, precisa durar várias gerações para que o cérebro coletivo se cure. 


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Mas o cérebro também é plástico, ele pode se regenerar. Com tempo, segurança, apoio comunitário, arte, educação e vínculos afetivos, as conexões neurais podem se refazer. O hipocampo pode crescer novamente, e a amígdala pode se acalmar.


Programas de terapia em grupo, música, desenho e ensino em ambiente seguro são poderosos restauradores cerebrais. A neurociência chama isso de “reprogramação positiva do circuito de medo”, o processo de ensinar o cérebro que a vida pode voltar a ser previsível, boa e humana.Em outras palavras: o cérebro aprende a acreditar na paz.


By Lidiane Garcia

 
 
 

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