Exercício Que Combate O Câncer: Treino Reduz Em Até 30% o Crescimento De Células Tumorais
- Lidi Garcia
- 1 de ago.
- 6 min de leitura

O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer em mulheres, e o risco de retorno da doença continua mesmo após o tratamento. Pesquisas mostram que o exercício físico pode ajudar a reduzir esse risco. Um estudo recente comparou os efeitos de uma única sessão de musculação (treinamento resistido) e de HIIT em mulheres que sobreviveram ao câncer de mama. Os resultados mostraram que ambos os treinos aumentaram substâncias no sangue (miocinas) que ajudam a combater células cancerígenas. Isso indica que o exercício pode ter efeito direto na prevenção da recorrência do câncer.
O câncer de mama é uma das doenças que mais afetam a saúde das mulheres no mundo. Em 2022, mais de 2 milhões de novos casos foram registrados e cerca de 660 mil mulheres morreram em consequência dessa doença. Isso faz com que o câncer de mama seja o tipo mais comum de câncer e a principal causa de morte por câncer entre mulheres.
Mesmo após o tratamento, muitas pacientes ainda correm o risco de o câncer voltar, em alguns casos, isso pode acontecer até anos depois. A chance de recorrência varia bastante, dependendo do tipo de tumor, do estágio da doença quando foi descoberta, da idade da mulher e se ela já passou pela menopausa ou não. Por isso, é fundamental buscar novas formas de prevenir o retorno da doença e melhorar os tratamentos atuais.
Nos últimos anos, o exercício físico tem se mostrado uma ferramenta importante no combate ao câncer de mama. Além dos tratamentos tradicionais, como cirurgia, quimioterapia e radioterapia, a prática de atividade física vem sendo recomendada por médicos e cientistas do mundo todo.

Estudos comprovam que se exercitar durante ou após o tratamento pode trazer vários benefícios: melhora o cansaço, aumenta a qualidade de vida, fortalece os músculos, ajuda no controle do peso e melhora a saúde geral.
Além disso, mulheres que se exercitam têm cerca de 20% menos risco de ter o câncer de volta ou de morrer por causa dele. Isso acontece porque o exercício físico melhora a força muscular e a capacidade cardiorrespiratória, e esses fatores estão ligados a uma menor mortalidade em pacientes com câncer.
Uma vantagem do exercício em comparação com outros tratamentos é que ele tem poucos ou nenhum efeito colateral. Apesar disso, os mecanismos que explicam como a atividade física ajuda a combater o câncer ainda não são totalmente compreendidos.
Uma das descobertas mais recentes da ciência é que os músculos, quando se contraem durante o exercício, produzem substâncias chamadas miocinas. Essas moléculas são liberadas na corrente sanguínea e podem influenciar diferentes órgãos do corpo, como ossos, fígado, cérebro, gordura e até mesmo células cancerígenas.
Diversas miocinas já foram estudadas por seus efeitos contra o câncer, entre elas a interleucina 6 (IL-6), a decorina, o SPARC e a oncostatina M (OSM). Essas substâncias podem agir diretamente sobre as células do câncer de mama, ajudando a impedir que elas cresçam, se multipliquem ou se espalhem para outras partes do corpo.
Por exemplo, a IL-6 pode provocar a morte das células cancerígenas e impedir sua multiplicação. A oncostatina M pode manter as células do câncer “adormecidas”, ou seja, sem se desenvolver. A decorina atua bloqueando sinais que estimulam o crescimento do tumor. E o SPARC atrapalha a migração das células tumorais e modifica o ambiente ao redor do tumor para torná-lo menos favorável ao câncer.

Estudos feitos em laboratório mostraram que o sangue de pessoas que acabaram de se exercitar consegue inibir o crescimento de células cancerígenas, inclusive as de câncer de mama. Mas ainda são poucos os estudos que analisaram esse efeito em pacientes reais, ou seja, em mulheres que já tiveram câncer de mama. Isso é importante porque o próprio câncer e os tratamentos, como hormonioterapia, podem alterar o funcionamento do corpo e a resposta ao exercício.
Quando falamos em exercício, existem diferentes tipos. Entre os mais estudados estão o treinamento aeróbico (como caminhada ou bicicleta), o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) e o treinamento de força (ou resistido), que inclui musculação.
Estudos anteriores testaram esses tipos de exercício separadamente, mas nenhum havia comparado diretamente o impacto do HIIT e do treinamento de força sobre a liberação de miocinas anticancerígenas e seus efeitos sobre as células do câncer de mama.
Por isso, um novo estudo investigou exatamente isso: comparar os efeitos de uma única sessão de musculação (treinamento resistido) e de HIIT na liberação dessas miocinas e no comportamento das células cancerígenas em laboratório.

Participaram do estudo 32 mulheres que já tinham vencido o câncer de mama. Elas foram divididas em dois grupos: um fez musculação e o outro fez HIIT. Foram coletadas amostras de sangue antes, logo depois e 30 minutos após os exercícios.
Os cientistas analisaram os níveis de IL-6, decorina, SPARC e oncostatina M e também testaram esse sangue em células de câncer de mama (linha MDA-MB-231) para ver se ele conseguia impedir o crescimento das células cancerosas.
Os resultados mostraram que, após o exercício, os níveis de miocinas aumentaram consideravelmente. Substâncias como IL-6, decorina e SPARC subiram de 9 a 47% logo após o treino, em ambos os grupos.

Níveis de miocina em grupos de treinamento de resistência e treinamento intervalado de alta intensidade. Legenda: pg = picograma; ng = nanograma; BA = linha de base; 0P = imediatamente após o exercício; 30P = 30 min após o exercício; RT = treinamento de resistência; HIIT = treinamento intervalado de alta intensidade; * = p < 0,0167 em comparação com a linha de base.
A IL-6 continuou elevada meia hora depois do exercício em todos os participantes, e a oncostatina M ficou alta apenas no grupo que fez musculação.
O sangue coletado após o treino foi capaz de reduzir o crescimento das células de câncer de mama entre 19 e 29%, tanto no grupo da musculação quanto no do HIIT. Porém, o HIIT teve um efeito maior imediatamente após o exercício.
Esses achados são importantes porque mostram que até mesmo uma única sessão de exercício pode estimular a liberação de substâncias que combatem o câncer. Isso reforça o papel do exercício físico como uma parte essencial do tratamento e do cuidado com a saúde das mulheres que tiveram câncer de mama.
A prática de musculação ou de HIIT pode, além de melhorar a saúde geral, ajudar a reduzir o risco de o câncer voltar, com poucos riscos e muitos benefícios.

Resultados nos grupos de treinamento de resistência e treinamento intervalado de alta intensidade mostrando melhoras significativas logo após e em ate 30 minutos após o exercício. Legenda: RT = treinamento de resistência; HIIT = treinamento intervalado de alta intensidade; BA = linha de base; 0P = imediatamente após o exercício; 30P = 30 min após o exercício.
LEIA MAIS:
A single bout of resistance or high-intensity interval training increases anti-cancer myokines and suppresses cancer cell growth in vitro in survivors of breast cancer
Francesco Bettariga, Dennis R. Taaffe, Cristina Crespo-Garcia, Timothy D. Clay, Mauro De Santi, Giulia Baldelli, Sanjeev Adhikari, Elin S. Gray, Daniel A. Galvão, and Robert U. Newton
Breast Cancer Research and Treatment, Volume 213, pages 171–180, (2025)
DOI: 10.1007/s10549-025-07772-w
Abstract:
Breast cancer is the leading cause of cancer-related death in women, highlighting the need for strategies to mitigate recurrence and mortality. We examined the effects of a single bout of resistance training (RT) versus high-intensity interval training (HIIT) on anti-cancer myokines and in vitro cancer cell suppression. Thirty-two survivors of breast cancer were randomly allocated to a single bout of RT (n = 16) or HIIT (n = 16). Blood was collected before, immediately post (0P) and 30 min post (30P) exercise. We measured serum levels of decorin, interleukin 6 (IL-6), secreted protein acidic and rich in cysteine (SPARC), and oncostatin M (OSM) and cell growth of MDA-MB-231 cells in vitro using real time cellular analysis at each time point. Decorin, IL-6, and SPARC significantly increased (9 to 47%, p < 0.05) from baseline to 0P in both groups. IL-6 remained elevated in both groups at 30 min post-intervention (30P), while OSM levels were elevated only in the RT group at 30P. Between groups, IL-6 was significantly increased in HIIT at 0P (p = 0.001). Cancer cell growth was significantly reduced at 0P and 30P compared to baseline in RT (20 to 21%, p < 0.05) and HIIT (19 to 29%, p < 0.05), with significantly greater effects on MDA-MB-231 cell growth reduction in favour of HIIT at 0P (p = 0.001). A single bout of RT or HIIT can increase levels of anti-cancer myokines and reduce the growth of MDA-MB-231 cells in vitro in survivors of breast cancer, potentially contributing to a lower risk of recurrence. This highlights the importance of exercise as a treatment with promising anti-cancer effects.



Comentários