Entre 27 e 36 Anos: O Ponto Alto Da Atenção Humana
- Lidi Garcia
- 8 de set.
- 4 min de leitura

Esse estudo investigou como a capacidade do cérebro de focar e ignorar distrações muda ao longo da vida. Os resultados mostraram que essa habilidade cresce durante a infância e adolescência, atinge seu auge entre os 27 e 36 anos e depois começa a diminuir com o envelhecimento. O cérebro também muda a forma de usar seus dois lados, possivelmente como forma de se adaptar às perdas.
Os cientistas sabem que muitas das nossas habilidades mentais mudam ao longo da vida. Durante a infância e adolescência, elas crescem rapidamente; já na fase adulta jovem, costumam atingir o auge; e, depois disso, começam a declinar de forma lenta, acompanhando o envelhecimento.
Entre essas habilidades está o chamado controle cognitivo, que é a capacidade de direcionar a atenção, organizar pensamentos, lidar com distrações e manter o foco em um objetivo. Essa função é essencial para atividades como planejar, tomar decisões, resolver problemas e até para coisas do dia a dia, como conseguir ler em silêncio em uma biblioteca mesmo quando há barulho em volta.
Em pessoas jovens e adultas, esse controle costuma estar em seu melhor funcionamento. Porém, em crianças, adolescentes e em idosos, ele pode não ser tão eficiente, o que afeta comportamentos e decisões.

Estudos anteriores já mostraram que essa habilidade segue um padrão em forma de “U invertido”: ela cresce durante a infância e adolescência, atinge o ponto máximo no início da vida adulta e depois diminui gradualmente com a idade. Esse padrão já havia sido observado tanto em testes comportamentais quanto em estudos sobre a estrutura do cérebro, como o tamanho e o volume da chamada substância cinzenta e da substância branca.
Apesar disso, ainda havia muitas dúvidas sobre como exatamente a atividade do cérebro relacionada ao controle cognitivo muda ao longo da vida. Em alguns estudos, idosos mostraram menos atividade cerebral, sugerindo declínio; em outros, mostraram mais atividade, o que pode ser um sinal de compensação do cérebro, que recruta outras áreas para manter o desempenho. Essas contradições tornaram necessário um estudo mais amplo para entender o que realmente acontece.
Para investigar isso, os pesquisadores Hangzhou Normal University, China, fizeram uma meta-análise, que é uma forma de reunir e analisar dados de muitos estudos diferentes. Em vez de examinar um único grupo de pessoas, eles combinaram resultados de 139 estudos de neuroimagem (técnicas que permitem observar o funcionamento do cérebro), somando 3.765 participantes entre 5 e 85 anos de idade.
Todos esses estudos usaram tarefas de conflito cognitivo, como a famosa tarefa Stroop, em que a pessoa deve dizer a cor da tinta de uma palavra mesmo quando a palavra escrita representa outra cor, ou a tarefa Flanker, em que é preciso focar em um estímulo central ignorando distrações ao lado. Essas tarefas são muito úteis porque testam diretamente a capacidade de manter o foco diante de informações conflitantes.

Tarefa Stroop
A metodologia foi bastante detalhada. Primeiro, os pesquisadores usaram técnicas estatísticas avançadas que permitem identificar quais regiões do cérebro ficam mais ativas durante essas tarefas em diferentes idades. Depois, eles aplicaram modelos matemáticos capazes de detectar padrões de mudança ao longo da vida.
Um desses modelos, chamado de modelo aditivo generalizado, foi especialmente importante, pois ele consegue capturar padrões não lineares, como o formato de U invertido. Eles também compararam vários modelos matemáticos para descobrir qual descrevia melhor as trajetórias de atividade cerebral.
Os resultados mostraram dois achados principais. Primeiro, a atividade do cérebro durante o controle cognitivo segue de fato uma trajetória em forma de U invertido. Ou seja, crianças apresentam níveis mais baixos, esses níveis aumentam e atingem o pico entre os 27 e 36 anos de idade, e depois começam a diminuir conforme a idade avança.
Segundo, os pesquisadores observaram diferenças interessantes na forma como os dois lados do cérebro (hemisférios esquerdo e direito) participam dessas tarefas. Jovens e idosos mostraram maior ativação no lado esquerdo em comparação com os adultos jovens, que exibem uma ativação mais equilibrada entre os hemisférios.

Em resumo, este estudo mostrou que a capacidade do cérebro de lidar com distrações e manter o foco atinge sua máxima eficiência no início da vida adulta e, depois, diminui com o envelhecimento. Além disso, ele revelou que o cérebro muda a forma como distribui suas atividades entre os hemisférios ao longo da vida, o que pode ser um sinal de adaptação.
Esses achados ajudam a entender melhor como a mente humana se desenvolve e envelhece, e podem abrir caminho para treinos cognitivos mais personalizados em diferentes fases da vida.
LEIA MAIS:
The lifespan trajectories of brain activities related to conflict-driven cognitive control
Zhenghan Li, Isaac T. Petersen, Lingxiao Wang, Joaquim Radua, Guochun Yang, and Xun Liu
Science Bulletin, Available online 23 August 2025
Abstract:
Cognitive control is fundamental to human goal-directed behavior. Understanding its trajectory across the lifespan is crucial for optimizing cognitive function throughout life, particularly during periods of rapid development and decline. While existing studies have revealed an inverted U-shaped trajectory of cognitive control in both behavioral and anatomical domains, the age-related changes in functional brain activities remain poorly understood. To bridge this gap, we conducted a comprehensive meta-analysis of 139 neuroimaging studies using conflict tasks, encompassing 3765 participants aged 5 to 85 years. We adopted the seed-based d mapping (SDM), generalized additive model (GAM), and model comparison approaches to investigate age-related changes in brain activities to characterize the lifespan trajectories of cognitive control. Our analyses revealed two key findings: (1) The predominant lifespan trajectory is inverted U-shaped, rising from childhood to peak in young adulthood (between 27 and 36 years) before declining in later adulthood; (2) Both the youth and the elderly show weaker brain activities and greater left laterality than young adults. These results collectively reveal the lifespan trajectories of cognitive control, highlighting systematic fluctuations in brain activities with age.



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