Diabetes Tipo 1: Primeiros Resultados De Terapia Celular Indicam Revolução No Tratamento
- Lidi Garcia
- 24 de jun.
- 4 min de leitura

Um novo tratamento experimental para diabetes tipo 1, chamado zimislecel, usa células-tronco transformadas em produtoras de insulina para tentar substituir as células destruídas pelo sistema imunológico. Em um pequeno estudo, a maioria dos participantes conseguiu parar de usar insulina e manter o açúcar no sangue sob controle, sem crises graves de hipoglicemia. Apesar dos resultados promissores, o tratamento ainda traz riscos, como infecções, e precisa de mais testes antes de estar disponível.
O diabetes tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune, ou seja, o próprio sistema imunológico da pessoa ataca e destrói as células do pâncreas responsáveis por produzir insulina. A insulina é essencial porque permite que o açúcar (glicose) no sangue entre nas células do corpo e seja usado como energia.
Quando essas células são destruídas, o açúcar se acumula no sangue, o que pode causar problemas graves de saúde se não for controlado. Por isso, pessoas com diabetes tipo 1 precisam tomar insulina todos os dias e controlar rigorosamente a alimentação e os níveis de glicose no sangue.
Mesmo assim, é difícil evitar oscilações perigosas no açúcar do sangue, que podem levar a situações como a hipoglicemia grave (quando o açúcar cai demais e a pessoa pode desmaiar ou ter convulsões).

O estudo em questão testou um tratamento novo e experimental chamado zimislecel, produzido pela Vertex. Essa terapia consiste em usar células-tronco, que são células “mãe” com capacidade de se transformar em vários tipos de células do corpo.
Os cientistas pegaram essas células e as transformaram em células semelhantes às do pâncreas, que conseguem produzir insulina. Essas novas células foram infundidas (injetadas) na veia que leva sangue ao fígado. A ideia é que essas células se instalem ali e passem a produzir insulina no corpo da pessoa, funcionando como um "novo pâncreas".
Para isso dar certo, os participantes precisaram tomar remédios chamados imunossupressores, que diminuem a ação do sistema imunológico para evitar que o corpo rejeite as novas células.

Estagios de novas terapias celulares no tratamento da diabetes tipo 1 em andamento na Vertex.
No estudo, 14 pessoas com diabetes tipo 1 grave participaram. Algumas receberam metade da dose prevista e outras receberam a dose completa. Todos eles tinham um histórico de dificuldade em controlar o diabetes e já tinham sofrido episódios graves de hipoglicemia.
Os resultados foram animadores, todos os participantes começaram a apresentar produção de insulina, algo que não acontecia antes do tratamento. Ao todo, 83% das pessoas que receberam a dose completa conseguiram parar de aplicar insulina no dia a dia até um ano depois do tratamento.
Todos os participantes que receberam a dose completa passaram a ter níveis de açúcar no sangue mais estáveis, ficando a maior parte do tempo dentro da faixa considerada saudável. Tambem, não houve casos novos de hipoglicemia grave após o tratamento entre essas pessoas.

Por outro lado, houve efeitos colaterais importantes, três participantes tiveram neutropenia, que é quando o número de glóbulos brancos (células de defesa) cai muito, aumentando o risco de infecções. Duas pessoas morreram durante o estudo: uma devido a uma infecção grave (meningite criptocócica) e outra devido à piora de um problema neurológico já existente.
Esses resultados mostram que o zimislecel tem potencial para ser um tratamento revolucionário para o diabetes tipo 1, porque ataca a causa do problema: a falta das células produtoras de insulina.
No entanto, ainda há riscos que precisam ser melhor compreendidos, e mais estudos são necessários para garantir a segurança e a eficácia dessa terapia antes que ela possa ser aprovada para uso geral.
LEIA MAIS:
Stem Cell–Derived, Fully Differentiated Islets for Type 1 Diabetes
Trevor W. Reichman, James F. Markmann, Jon Odorico, Piotr Witkowski, John J. Fung, Martin Wijkstrom, Fouad Kandeel, Eelco J.P. de Koning, Anne L. Peters, Chantal Mathieu, Leslie S. Kean, Bote G. Bruinsma, Chenkun Wang,
Molly Mascia, Bastiano Sanna, Gautham Marigowda, Felicia Pagliuca,
Doug Melton, and Michael R. Rickels
The New England Journal Of Medicine. June 20, 2025
DOI: 10.1056/NEJMoa2506549
Abstract:
Zimislecel is an allogeneic stem cell–derived islet-cell therapy. Data on the safety and efficacy of zimislecel in persons with type 1 diabetes are needed. We conducted a phase 1–2 study of zimislecel in persons with type 1 diabetes. In part A, participants received a half dose of zimislecel (0.4×109 cells) as a single infusion into the portal vein, with an option for a second half dose within 2 years. In parts B and C, participants received a full dose of zimislecel (0.8×109 cells) as a single infusion. All the participants also received glucocorticoid-free immunosuppressive therapy. The primary end point in part A was safety. The primary end point in part C was freedom from severe hypoglycemic events during days 90 through 365, with a glycated hemoglobin level of less than 7% or a decrease of at least 1 percentage point from baseline in the glycated hemoglobin level at one or more time points between days 180 and 365. Secondary end points in part C included safety and insulin independence between days 180 and 365. Assessment of the primary and secondary end points in part C involved the participants who received the full dose of zimislecel as a single infusion in part B or C. Detection of serum C-peptide during a 4-hour mixed-meal tolerance test was used to assess engraftment and islet function. All the analyses were interim and not prespecified. A total of 14 participants (2 in part A and 12 in parts B and C) completed at least 12 months of follow-up and were included in the analyses. C-peptide was undetectable at baseline in all 14 participants. After zimislecel infusion, all the participants had engraftment and islet function, as evidenced by the detection of C-peptide. Neutropenia was the most common serious adverse event, occurring in 3 participants. Two deaths occurred — one caused by cryptococcal meningitis and one by severe dementia with agitation owing to the progression of preexisting neurocognitive impairment. All 12 participants in parts B and C were free of severe hypoglycemic events and had a glycated hemoglobin level of less than 7%; these participants spent more than 70% of the time in the target glucose range (70 to 180 mg per deciliter). Ten of the 12 participants (83%) had insulin independence and were not using exogenous insulin at day 365. The results of this small, short-term study involving persons with type 1 diabetes support the hypothesis that zimislecel can restore physiologic islet function, warranting further clinical investigation. (Funded by Vertex Pharmaceuticals; VX-880-101 FORWARD ClinicalTrials.gov number, NCT04786262.)



Comentários