top of page

De Injustiças Pessoais A Conspirações Globais: A Psicologia Por Trás Da Crença

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 15 de ago.
  • 4 min de leitura
ree

O estudo investiga como a predisposição individual para se sentir vítima de injustiça, chamada “sensibilidade à justiça da vítima” (VJS), influencia a crença em teorias da conspiração. Embora pesquisas anteriores focassem na vitimização coletiva (quando um grupo inteiro se vê como alvo), este trabalho mostra que a vitimização percebida no nível individual também está ligada a acreditar em conspirações, como sobre vacinas ou mudanças climáticas. Análises em 15 países revelaram que pessoas com alta VJS tendem a acreditar mais nessas teorias, independentemente de fatores econômicos, culturais ou políticos nacionais.


Crenças conspiratórias são ideias que afirmam que certos acontecimentos ou situações de interesse público não são fruto do acaso ou de decisões transparentes, mas sim de ações secretas planejadas por grupos poderosos e com más intenções. 


Essas teorias costumam retratar as pessoas comuns como vítimas indefesas, enganadas ou prejudicadas por essas supostas conspirações. Por exemplo, algumas teorias dizem que vacinas seriam parte de um plano para manipular mentalmente a população ou até espalhar doenças propositalmente. 


Outras, ligadas às mudanças climáticas, afirmam que líderes mundiais querem restringir liberdades individuais usando a “proteção do meio ambiente” como desculpa. Quem acredita nessas ideias, muitas vezes, se vê como vítima direta dessas forças ocultas. 

ree

Pesquisas mostram que essas crenças estão relacionadas a um sentimento chamado de “vitimização coletiva”, a sensação de que o grupo social ao qual a pessoa pertence foi injustiçado ou prejudicado por outro grupo. Isso é comum em comunidades que passaram por traumas históricos, como guerras, genocídios ou discriminação persistente.


Nesses casos, acreditar em conspirações pode ser uma forma de explicar e lidar com essas experiências de injustiça, e até de motivar ações contra quem é visto como responsável.


Mas não é só o senso de vitimização coletiva que importa. A pesquisa mais recente também considera a “vitimização individual”, quando a pessoa sente que ela, pessoalmente, foi alvo de injustiça, independentemente de seu grupo.


Isso pode vir de experiências como trapaças, traições ou bullying. Algumas pessoas desenvolvem uma predisposição duradoura para interpretar acontecimentos como ataques pessoais, e isso pode aumentar a chance de acreditarem em teorias da conspiração.


Essa visão individual está ligada a outras características psicológicas que se encontram com frequência em pessoas que acreditam em conspirações, como necessidade de se sentir especial,  desejo de ter controle sobre a própria vida e desconfiança em relação aos outros e às instituições.

ree

Pesquisas mostram que, muitas vezes, esses fatores individuais são até mais fortes que os fatores ligados à identidade de grupo na hora de prever quem vai acreditar em conspirações.


A partir daí, surge um conceito central: a “sensibilidade à justiça da vítima” (VJS). Esse termo descreve pessoas que, de forma consistente, percebem e reagem como se fossem vítimas de injustiça. Elas tendem a desconfiar mais dos outros, ficam mais atentas a sinais de exploração e, em situações ambíguas ou incertas, interpretam mais facilmente as ações alheias como prejudiciais. 


Além disso, costumam sentir que têm pouco controle sobre o mundo, mas, ao mesmo tempo, precisam muito recuperar esse controle. Essas características tornam a VJS um forte candidato a explicar por que certas pessoas aderem a teorias conspiratórias: essas crenças podem oferecer explicações simples para situações confusas e dar a sensação de que se recuperou parte do controle perdido.

ree

Para investigar isso, os pesquisadores da Universidade de Kent, em colaboração com uma equipe internacional de mais de 70 pesquisadores de instituições da Europa, Américas, Ásia e Oceania, conduziram dois estudos. O primeiro, na Alemanha, analisou dados já existentes e mostrou que pessoas com maior VJS tendem a acreditar mais em conspirações, mesmo quando se consideram outros fatores, como a desconfiança geral. 


O segundo foi feito em 15 países e confirmou que essa relação se mantém em diferentes culturas e contextos, tanto para teorias conspiratórias gerais quanto para específicas (como sobre vacinas ou mudanças climáticas).


No entanto, as diferenças econômicas, políticas e culturais entre os países não explicaram por que a força dessa relação varia de um lugar para outro.


ree

Em resumo, essa pesquisa reforça a ideia de que, para entender a crença em teorias da conspiração, é preciso olhar não só para fatores coletivos (como história do grupo ou identidade social), mas também para características individuais, especialmente a tendência duradoura de se perceber como vítima de injustiça. 


Isso ajuda a compreender por que essas crenças surgem mesmo em contextos onde não houve um trauma coletivo óbvio, elas podem estar ligadas mais ao modo como a pessoa interpreta o mundo do que às circunstâncias objetivas.



LEIA MAIS:


Victims of Conspiracies? An Examination of the Relationship Between Conspiracy Beliefs and Dispositional Individual Victimhood

Daniel Toribio-Flórez, Marlene S. Altenmüller, Karen M. Douglas, Mario Gollwitzer, Indro Adinugroho, Mark Alfano, Denisa Apriliawati, Flavio Azevedo, Cornelia Betsch, Olga Białobrzeska, Amélie Bret, André Calero Valdez, Viktoria Cologna, Gabriela Czarnek, Sylvain Delouvée, Kimberly C. Doell, Simone Dohle, Dmitrii Dubrov, Małgorzata Dzimińska, Christian T. Elbaek, Matthew Facciani, Antoinette Fage-Butler, Marinus Ferreira, Malte Friese, Simon Fuglsang, Albina Gallyamova, Patricia Garrido-Vásquez, Mauricio E. Garrido Vásquez, Oliver Genschow, Omid Ghasemi, Theofilos Gkinopoulos, Claudia González Brambila, Hazel Clare Gordon, Dmitry Grigoryev, Alma Cristal Hernández-Mondragón, Tao Jin, Sebastian Jungkunz, Dominika Jurgiel, John R. Kerr, Lilian Kojan, Elizaveta Komyaginskaya, Claus Lamm, Jean-Baptiste Légal, Neil Levy, Mathew D. Marques, Sabrina J. Mayer, Niels G. Mede, Taciano L. Milfont, Panagiotis Mitkidis, Jonas P. Nitschke, Mariola Paruzel-Czachura, Michal Parzuchowski, Ekaterina Pronizius, Katarzyna Pypno-Blajda, Gabriel Gaudencio Rêgo, Robert M. Ross, Philipp Schmid, Samantha K. Stanley, Stylianos Syropoulos, Ewa Szumowska, Claudia Teran-Escobar, Boryana Todorova, Iris Vilares, Izabela Warwas, Marcel Weber, Mareike Westfal, and Adrian Dominik Wojcik

European Journal of Social Psychology, 17 July 2025 


Abstract: 

 

Conspiracy beliefs have been linked to perceptions of collective victimhood. We adopt an individual perspective on victimhood by investigating the relationship between conspiracy beliefs and the individual disposition to perceive and react to injustice as a victim, i.e., victim justice sensitivity (VJS). Data from two German samples (Ns = 370, 373) indicated a positive association between VJS and conspiracy mentality beyond conceptually related covariates (e.g., mistrust). In a multinational sample from 15 countries (N = 14,978), VJS was positively associated with both general and specific conspiracy beliefs (about vaccines and climate change) within countries, though these associations varied across countries. However, economic, sociopolitical and cultural country-level factors that might explain the cross-country variability (e.g., GDP, Human Freedom Index, individualism–collectivism), including indices of collective exposure to direct violence, did not moderate the studied associations. Future research should investigate the relationship between victimhood and conspiracy beliefs, considering both intraindividual and intergroup perspectives.

 
 
 

Comentários


© 2020-2025 by Lidiane Garcia

bottom of page