Crianças Com Celular Antes Dos 13 Têm Mais Chances De Sofrer Com Ansiedade e Baixa Autoestima
- Lidi Garcia
- há 3 dias
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Crianças que recebem um smartphone muito cedo podem ter mais riscos para a saúde mental no futuro. Um grande estudo internacional mostrou que quem ganha o aparelho antes dos 13 anos apresenta mais problemas emocionais, como baixa autoestima, dificuldades de lidar com sentimentos e até pensamentos suicidas. Por isso, especialistas sugerem que a posse de smartphones nessa idade seja adiada e acompanhada de educação digital e maior responsabilidade das empresas de tecnologia.
Desde o início dos anos 2000, os smartphones passaram a ocupar um papel central na vida de crianças e adolescentes. Esses aparelhos funcionam como uma espécie de chave de acesso para um mundo digital guiado por sistemas de inteligência artificial. Eles oferecem muitas oportunidades, como manter contato com amigos, aprender coisas novas e se entreter. Porém, junto com os benefícios, surgem também riscos importantes.
Isso acontece porque os algoritmos que controlam as redes sociais, ou seja, os sistemas automáticos que escolhem e recomendam o que aparece na tela de cada usuário, não têm como prioridade o bem-estar das crianças. O objetivo principal é manter a pessoa conectada o maior tempo possível.
Para isso, esses sistemas selecionam conteúdos que geram engajamento, mesmo que sejam inadequados, violentos, pornográficos ou que incentivem ideias extremistas. Além disso, esse uso constante pode atrapalhar o sono, reduzir o tempo de interação presencial e influenciar negativamente a autoestima e as escolhas pessoais.

Um problema adicional é que, embora muitas plataformas estabeleçam oficialmente a idade mínima de 13 anos, essa regra raramente é seguida de fato. Assim, cada vez mais crianças estão recebendo seu primeiro smartphone ainda no ensino fundamental e passando muitas horas por dia nesses dispositivos.
Esse cenário levanta uma questão importante: até que ponto esse uso precoce afeta o desenvolvimento da mente e da saúde mental a longo prazo?
Para responder a essa pergunta, os cientistas recorreram ao Projeto Global Mind, um esforço internacional que coleta informações sobre saúde mental em diferentes países. A ideia não foi olhar apenas para sintomas específicos, como depressão ou ansiedade, mas sim analisar um conceito mais amplo de saúde mental.
Esse conceito inclui aspectos emocionais, sociais e cognitivos, por exemplo, a capacidade de lidar com desafios, manter relacionamentos saudáveis, regular emoções e funcionar bem no dia a dia.
O método consistiu em analisar a idade em que os participantes receberam seu primeiro smartphone e comparar esses dados com indicadores de saúde mental e bem-estar coletados em larga escala. Para isso, foram usadas amostras de diferentes regiões do mundo, permitindo observar tendências comuns e também diferenças entre contextos culturais.
Essa abordagem é mais robusta que estudos anteriores, que muitas vezes se limitaram a períodos curtos de acompanhamento ou a grupos específicos de jovens.

Os resultados mostraram um padrão claro: quem recebeu um smartphone antes dos 13 anos apresentou, em média, piores indicadores de saúde mental na juventude. Esse efeito foi ainda mais evidente em mulheres jovens, que relataram níveis mais altos de pensamentos suicidas, maior dificuldade em lidar com as emoções, sensação de desconexão da realidade e queda na autoestima.
Entre os fatores que ajudam a explicar essa relação estão a exposição precoce às redes sociais, o cyberbullying, a interrupção do sono e problemas nos relacionamentos familiares.
Além disso, esses efeitos foram observados em praticamente todas as regiões do mundo, mas se mostraram mais fortes em países de língua inglesa, como Estados Unidos e Reino Unido. Isso sugere que o impacto do uso precoce de smartphones não é apenas individual, mas também influenciado por fatores culturais e sociais.

Com base nesses achados, os pesquisadores defendem a adoção de medidas preventivas, inspiradas em políticas já usadas para outras substâncias ou produtos que afetam o desenvolvimento, como o álcool e o tabaco.
As propostas incluem: restringir o acesso de crianças menores de 13 anos a smartphones e redes sociais, implementar programas de educação digital nas escolas e exigir maior responsabilidade das empresas de tecnologia sobre os efeitos de seus produtos. O objetivo dessas medidas é proteger a saúde mental das novas gerações e garantir que crianças e adolescentes tenham condições mais seguras para crescer, aprender e florescer como indivíduos.
LEIA MAIS:
Protecting the Developing Mind in a Digital Age: A Global Policy Imperative
Tara C. Thiagarajan, Jennifer Jane Newson, and Shailender Swaminathan
Journal of Human Development and Capabilities. 26(3), 493–504.
DOI: 10.1080/19452829.2025.2518313
Abstract:
The global rise in smartphone and social media use has dramatically reshaped childhood and adolescence, with algorithmically engineered digital environments increasingly influencing young people’s capabilities and functionings. This paper draws on data from the Global Mind Project to examine the population-level impacts of childhood smartphone ownership on mind health and wellbeing in young adulthood. Our analysis reveals that receiving a smartphone before age 13 is associated with poorer mind health outcomes in young adulthood, particularly among females, including suicidal thoughts, detachment from reality, poorer emotional regulation, and diminished self-worth. These correlations are mediated through several factors, including social media access, cyberbullying, disrupted sleep, and poor family relationships. This trend appears consistently across all global regions with the magnitude greatest in English-speaking nations. Based on these findings, we advocate for the adoption of a precautionary principle. We propose the implementation of a developmentally appropriate, society-wide policy approach, similar to those regulating access to alcohol and tobacco, that restricts smartphone and social media access for children under 13, mandates digital literacy education, and enforces corporate accountability. These measures aim to protect the foundational elements of mind health and wellbeing that underpin the capabilities and functionings for human flourishing in future generations.
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