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Como o Cérebro Alterna Entre o Mundo Externo e o Mundo Interno

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 4 de ago.
  • 4 min de leitura
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Seu cérebro vive alternando entre dois mundos: o que está ao seu redor (sons, imagens, movimentos) e o que está dentro da sua mente (memórias, pensamentos, planos). Essa capacidade de focar ora no ambiente externo, ora em ideias internas, é essencial para tomar boas decisões no dia a dia. Cientistas agora estão começando a entender como o cérebro faz esse "corte de cena" tão rápido e automático, e por que isso é tão importante para nossa atenção, flexibilidade mental e saúde.


Todos os dias, nosso cérebro realiza uma tarefa extraordinária: alterna o foco entre o que acontece ao nosso redor (como sons, imagens e movimentos) e o que se passa dentro da nossa mente (como pensamentos, lembranças e planos). Esse equilíbrio entre atenção externa e interna é essencial para que possamos agir, tomar decisões e nos adaptar ao mundo.


Durante muito tempo, os cientistas estudaram principalmente como prestamos atenção ao ambiente externo, como percebemos estímulos sensoriais, como imagens e sons, e como o cérebro escolhe o que é mais importante para prestar atenção. Com isso, descobriu-se que determinadas áreas do cérebro, como as regiões frontais e parietais, trabalham juntas para destacar informações relevantes e ignorar distrações.


No entanto, a atenção não se limita ao que vemos e ouvimos. Também conseguimos "voltar a atenção para dentro", ou seja, focar em memórias, ideias ou planos. Esse tipo de atenção interna ajuda, por exemplo, a lembrar o que íamos dizer, planejar os próximos passos ou resolver problemas mentalmente.


Estudos recentes mostraram que podemos até melhorar a qualidade de uma memória apenas focando nela de forma consciente.

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Na vida real, porém, raramente usamos apenas um tipo de atenção por vez. Dirigir um carro, conversar com alguém ou cozinhar exige que o cérebro alterne o tempo todo entre o que está diante dos olhos e o que está na mente.


É como se o cérebro fosse um maestro que precisa reger dois conjuntos de instrumentos diferentes ao mesmo tempo, o externo e o interno, mantendo tudo em harmonia.


Pesquisas atuais mostram que, apesar de utilizarem algumas áreas cerebrais em comum, a atenção externa e a interna também acionam regiões diferentes. Por exemplo, focar na memória ou em ideias envolve áreas mais profundas do cérebro, como o córtex pré-frontal medial. 

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Supostas áreas de controle superordenadas envolvidas na mudança entre os modos externo e interno.


Além disso, mudar o foco entre esses dois modos pode ter um custo: geralmente somos mais lentos e cometemos mais erros quando trocamos do foco externo para o interno do que o contrário. Isso porque o mundo ao nosso redor é naturalmente mais chamativo e atrai nossa atenção com facilidade.


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Resultados de imagens de ressonância magnética funcional (fMRI) baseados em Wallis et al. As áreas azuis indicam ativação durante a atenção externa, as áreas laranja durante a atenção interna e as áreas verdes refletem regiões ativadas durante ambas. preSMA, área motora pré-suplementar; FEF, campo ocular frontal; MFG, giro frontal médio; IPS, sulco intraparietal; fO, córtex frontoinsular; TPJ, junção temporoparietal; MTG, giro temporal médio; iFEF, campo ocular frontal inferior; SPL, lóbulo parietal superior.


Outra descoberta interessante é que essa alternância entre os dois tipos de atenção pode seguir ritmos próprios. O cérebro parece oscilar entre os focos externo e interno em ciclos de milissegundos a horas, o que ajuda a equilibrar a aprendizagem com o mundo e o processamento de pensamentos e lembranças.


Há ainda um mistério não resolvido: o que comanda essa troca de foco? Alguns pesquisadores acreditam que existe uma espécie de "painel de controle" no cérebro, talvez no hipocampo ou em áreas frontais, que decide onde prestar atenção. Outros acham que não há um único centro de comando, e que a mudança acontece naturalmente, por competição entre estímulos internos e externos.

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Entender como essa alternância funciona é fundamental. Quando esse sistema falha, podem surgir dificuldades como desatenção, pensamentos repetitivos ou dificuldade de concentração, sintomas comuns em condições como TDAH, depressão e esquizofrenia.


Por isso, estudar como o cérebro realiza essas transições pode ajudar no desenvolvimento de terapias, treinamentos e até intervenções com tecnologia para melhorar o equilíbrio da atenção.

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Pontos de modulação durante mudanças de atenção entre domínios. (A) Um controle superordenado pode governar mudanças entre a atenção externa e interna. Este controlador pode determinar se a rede de atenção externa ou interna  tem prioridade, com apenas os conteúdos externos ou internos alvo de cada rede ativados, respectivamente. (B) Tais funções de controle também podem influenciar qualquer ou todos os estágios da modulação da atenção. (C) Um sistema de controle superordenado para mudar a atenção entre domínios pode não existir, e a atenção externa e interna podem competir diretamente pela dominância. Observe que mostrar as redes de controle externo e interno como distintas nesta figura não implica sua completa separação ou independência anatômica. As diferenças também podem simplesmente refletir modos funcionais de operação.


Em resumo, a atenção não é apenas uma “lanterna” que aponta para algo. Ela é um sistema complexo e dinâmico que equilibra o que vemos com o que pensamos, o que sentimos com o que lembramos. Aprender mais sobre esse equilíbrio pode nos ajudar a entender melhor o comportamento humano, e a encontrar novas formas de viver com mais foco, clareza e presença.



LEIA MAIS:


How the brain shifts between external and internal attention

Anna C. Nobre, and Daniela Gresch

Neuron. July 16, 2025

DOI: 10.1016/j.neuron.2025.06.013


Abstract: 


Focusing on relevant contents to guide adaptive behavior is a core property of the brain. For decades, scientists have investigated mechanisms to anticipate, select, prioritize, and prepare sensory signals according to goals, memories, and salient events. More recently, researchers have considered how these attention functions operate within internal representations. However, neither external nor internal attention in isolation captures everyday behavior. The brain frequently and seamlessly shifts between contents from the sensory stream and those held in mind. In this perspective, we ask how the brain shifts between external and internal attention. We describe similarities and differences between selective external and internal attention, present competing hypotheses regarding the operating principles of between-domain shifts, and highlight putative brain areas and mechanisms. We discuss the scarce experimental forays comparing attention shifts between vs. within domains and contemplate how these constrain theoretical and computational models. We conclude by suggesting open questions to guide investigation.

 
 
 

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