Ciência Descobre Efeito Protetor Dos Psicodélicos No Cérebro Durante Traumas
- Lidi Garcia
- 21 de jul.
- 3 min de leitura

Estudos recentes sugerem que psicodélicos clássicos, como LSD e psilocibina, podem ajudar a reduzir os efeitos do estresse pós-traumático. Um estudo com sobreviventes de um ataque terrorista mostrou que quem estava sob efeito dessas substâncias teve menos ansiedade e sintomas traumáticos semanas depois, indicando que os psicodélicos podem influenciar positivamente como o cérebro lida com memórias traumáticas.
Nos últimos anos, cientistas e médicos têm voltado sua atenção para os compostos psicodélicos, substâncias que alteram a percepção, o humor e os pensamentos, como possíveis aliados no tratamento de transtornos mentais, especialmente o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Esse transtorno pode surgir após a vivência de experiências extremamente traumáticas, como guerras, acidentes ou ataques violentos, e se manifesta por meio de lembranças intrusivas, ansiedade intensa, insônia e outros sintomas que prejudicam profundamente a qualidade de vida da pessoa.
Embora os psicodélicos estejam sendo estudados com entusiasmo, ainda é pouco compreendido como exatamente essas substâncias agem no cérebro para reduzir ou prevenir esses sintomas. Um caminho importante para entender isso é investigar como essas drogas afetam a maneira como as memórias traumáticas são formadas no momento do trauma.

Um estudo recente, realizado por pesquisadores da Reichman University, Israel, explorou justamente essa questão de forma inédita. Ele analisou o caso de 343 adultos que sobreviveram a um grande ataque terrorista ocorrido durante um festival.
O que torna essa situação particular interessante para os pesquisadores é que, no momento do ataque, essas pessoas estavam sob diferentes estados mentais: algumas haviam consumido psicodélicos chamados "clássicos", como LSD ou psilocibina (o princípio ativo de certos cogumelos), outras tinham usado MDMA (também conhecido como ecstasy), e uma parte do grupo não havia consumido nenhum tipo de substância psicodélica.
Três semanas após o ataque, os cientistas entrevistaram esses sobreviventes para avaliar seus níveis de ansiedade e os sintomas relacionados ao trauma que haviam desenvolvido desde então.
Os resultados mostraram algo impressionante: aqueles que estavam sob o efeito de psicodélicos clássicos no momento do ataque apresentaram níveis significativamente mais baixos de estresse e sintomas traumáticos em comparação com os outros grupos. Em outras palavras, essas pessoas pareciam ter sido, de alguma forma, "protegidas" contra os efeitos mentais duradouros do trauma.

Outro dado importante observado no estudo foi que esse efeito protetor dos psicodélicos clássicos foi mais forte nas pessoas que não haviam consumido outras drogas recreativas além dos psicodélicos.
Isso sugere que o benefício pode estar ligado diretamente aos efeitos dessas substâncias específicas sobre o cérebro, e não a uma combinação de drogas ou ao uso recreativo generalizado.
Esses achados são importantes porque indicam que os psicodélicos clássicos podem influenciar diretamente como o cérebro registra e armazena experiências traumáticas, possivelmente reduzindo a intensidade com que essas memórias afetam a pessoa no futuro.
Em termos mais técnicos, isso significa que os psicodélicos clássicos, como a psilocibina e o LSD, parecem interagir com receptores específicos do cérebro, especialmente os receptores de serotonina do tipo 5-HT2A, que estão ligados à percepção, ao processamento emocional e à formação de memórias.

Durante uma situação traumática, esses compostos podem influenciar diretamente a maneira como o cérebro registra e consolida a experiência vivida, tornando a memória do trauma menos intensa ou emocionalmente carregada.
Essa modulação pode explicar por que pessoas sob o efeito de psicodélicos durante o evento relataram menos sintomas de estresse e ansiedade posteriormente, sugerindo um possível efeito protetor dessas substâncias no momento da codificação da memória traumática.
Embora mais pesquisas sejam necessárias para entender completamente como esses efeitos funcionam e garantir a segurança do uso terapêutico dos psicodélicos, este estudo oferece uma janela promissora: talvez, no futuro, essas substâncias possam ser usadas com supervisão médica para ajudar a prevenir ou tratar transtornos como o estresse pós-traumático em pessoas expostas a eventos extremamente estressantes.
LEIA MAIS:
Peri-traumatic consumption of classic psychedelics is associated with lower anxiety and post-traumatic responses 3 weeks after exposure
Einat Karp Barnir, Zohar Rubinstein, Rany Abend, Shaul Lev-Ran, Lia Naor, and Mario Mikulincer
Journal of Psychopharmacology. 2025; 0 (0).
Abstract:
Emerging evidence indicates the therapeutic potential of psychedelic compounds for post-traumatic stress, yet the mechanisms mediating their effects remain unclear. Delineating the effect of psychedelics on traumatic memory formation could shed light on target therapeutic mechanisms. Here, we report on 343 adult survivors of a single, large-scale terrorist attack taking place during a festival in which different psychedelic compounds were consumed, in whom levels of anxiety and post-traumatic symptoms were assessed 3 weeks following the attack. Findings indicated that those who were under the influence of classic psychedelics during the attack reported significantly lower levels of anxiety and post-traumatic responses compared to those who were under the influence of 3,4-methylenedioxymethamphetamine and those who consumed no psychedelics. Furthermore, the protective effects of classic psychedelics for post-traumatic responses manifested more strongly among participants who did not consume additional recreational substances alongside psychedelics. These findings suggest that pharmacologic targets of classic psychedelics may modulate the formation of enduring trauma memories and confer a protective effect against the development of post-traumatic stress and anxiety responses.



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