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CBD e Autismo: Uma Nova Esperança Para Comportamentos Desafiadores ?

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 3 de jul.
  • 5 min de leitura
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Pesquisas vêm explorando o uso do canabidiol (CBD), uma substância da cannabis que não causa efeitos psicoativos, para ajudar crianças com autismo que apresentam comportamentos difíceis, como agressividade e auto-agressão. Um estudo recente testou o CBD puro (sem THC) em meninos com autismo moderado a grave e descobriu que ele é seguro, mas não comprovou claramente que funciona melhor que placebo. Apesar de alguns sinais de melhora, os efeitos podem ter sido influenciados por outros medicamentos e pelo efeito placebo. Ou seja, ainda são necessárias mais pesquisas para saber se o CBD realmente ajuda nesses casos.


Nos últimos anos, a cannabis tem ganhado cada vez mais atenção por seus potenciais benefícios à saúde. Pessoas relatam que ela pode ajudar a dormir melhor, diminuir a ansiedade, aliviar dores crônicas, tratar dores de cabeça e até ajudar em problemas psiquiátricos mais graves. 


Dentro da cannabis, há substâncias chamadas canabinoides, sendo os dois principais o THC (que causa efeitos psicoativos, como a "brisa") e o CBD, que não tem esse efeito intoxicante.


O canabidiol (CBD), especificamente, tem despertado o interesse de pesquisadores porque pode ter propriedades que ajudam a acalmar, combater inflamações e até reduzir sintomas de doenças psiquiátricas, como a ansiedade e a esquizofrenia. Um dos focos atuais da pesquisa com CBD é o Transtorno do Espectro Autista (TEA). 

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O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta a comunicação, o comportamento e as interações sociais. Crianças com autismo podem apresentar comportamentos graves e difíceis de controlar, como agressividade, gritos, hiperatividade intensa e até autoagressão (ferir a si mesmas). Isso pode atrapalhar muito a vida delas e das famílias, dificultando até a ida à escola ou a convivência com outras crianças. 


Existem medicamentos que ajudam a controlar esses comportamentos, mas eles costumam causar efeitos colaterais sérios, como ganho de peso, diabetes, pressão alta e problemas neurológicos. Por isso, muitos pais se preocupam e procuram outras alternativas.

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Diante disso, cientistas têm investigado se o CBD pode ser uma dessas alternativas. Alguns estudos abertos, ou seja, sem o uso de placebo e baseados principalmente em relatos dos pais, sugeriram que produtos com CBD (quase sempre misturados com THC) poderiam melhorar o comportamento de crianças com autismo, reduzindo irritabilidade e agressividade. 


No entanto, esses estudos usaram produtos variados, com doses diferentes e sem controle rígido, o que torna difícil saber se os efeitos positivos observados vieram do CBD, do THC ou da combinação dos dois. Além disso, como a maioria desses estudos não teve grupo controle ou foi feita sem “cegar” os participantes e os pesquisadores (para evitar que expectativas influenciem os resultados), os dados não são considerados suficientes para provar a eficácia do CBD.

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Foi com isso em mente que um grupo de pesquisadores, da University of California San Diego School of Medicine, USA, decidiu conduzir um estudo científico mais rigoroso, controlado por placebo e com duplo-cego, ou seja, nem os pais nem os pesquisadores sabiam quando a criança estava tomando CBD ou placebo. 


O estudo testou o uso de uma versão purificada do CBD chamada Epidiolex®, já aprovada pelo FDA (agência de saúde dos EUA) para tratar epilepsias graves em crianças. Eles focaram em meninos autistas entre 7 e 14 anos com comportamentos extremamente difíceis de lidar, como agressividade e autoagressão. 


Cada participante passou por duas fases: em uma tomaram CBD por 8 semanas e na outra tomaram placebo, com uma pausa de 4 semanas entre elas. Os pesquisadores avaliaram os comportamentos antes e depois de cada fase, com várias ferramentas padronizadas para medir sintomas de autismo e comportamentos repetitivos.

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Os resultados mostraram que houve melhora no comportamento em ambos os grupos, tanto no que tomou CBD quanto no que tomou placebo. Isso indica que o efeito placebo foi forte (ou seja, só o fato de participar do estudo e receber atenção já pode ter melhorado os comportamentos).


As pontuações em algumas escalas melhoraram só no grupo placebo, mas essa melhora desapareceu quando os pesquisadores levaram em conta outros remédios que as crianças estavam tomando. 


Quando os médicos, que não sabiam o que cada criança estava tomando, deram suas impressões clínicas, cerca de 2 em cada 3 meninos mostraram melhora com o CBD, enquanto 1 em cada 3 não apresentou melhora ou teve efeito semelhante com o placebo.


Importante destacar: o CBD teve um bom perfil de segurança, ou seja, foi bem tolerado e não causou efeitos colaterais graves. Mas, apesar de alguns casos de melhora, o estudo não conseguiu comprovar que o CBD é claramente eficaz para reduzir os comportamentos problemáticos no autismo, principalmente se comparado com placebo. 

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O estudo reforça a necessidade de mais pesquisas, com metodologias rigorosas, e levanta uma questão importante: remédios comportamentais que as crianças já tomam podem interferir nos níveis de CBD no sangue e afetar os resultados.


Em resumo, embora haja muita esperança de que o CBD possa ajudar crianças com autismo, ainda não há provas científicas sólidas de sua eficácia, especialmente em sua forma purificada e sem THC. 


O estudo foi importante por ser o primeiro do tipo a avaliar o CBD puro em crianças com autismo moderado a grave, usando uma metodologia confiável. Ele mostrou que o CBD é seguro, mas que seus efeitos reais ainda precisam ser melhor compreendidos. Por enquanto, o uso de CBD em crianças com autismo deve ser feito com cautela e sempre com acompanhamento médico.



LEIA MAIS:


Cannabidiol (CBD) Treatment for Severe Problem Behaviors in Autistic Boys: A Randomized Clinical Trial

Doris Trauner, Anya Umlauf, David J. Grelotti, Robert Fitzgerald, Andrew Hannawi, Thomas D. Marcotte, Caitlin Knight, Lauren Smith, Gisselle Paez, Jennifer Crowhurst, Alyson Brown, Raymond T. Suhandynata, Kyle Lund, Marlen Menlyadiev, and Igor Grant  

J Autism Dev Disord. 24 May 2025


Abstract: 


Open-label and observational studies suggest cannabidiol (CBD) reduces problematic behaviors in autistic children. No controlled clinical trials have addressed safety, tolerability, and efficacy. We conducted a double-blind, placebo-controlled crossover study of plant-derived CBD (Epidiolex®) to determine safety, tolerability, and behavior effects in autistic boys. Autistic boys with severe behavior problems age 7–14 years were randomized to eight weeks of CBD up to 20 mg/kg/day and eight weeks of placebo separated by a four-week washout. Behavioral assessments were completed before and after each treatment phase. Plasma concentrations of CBD were quantified. Primary outcomes were changes in total score of the Repetitive Behavior Scale-Revised (RBS-R), Child Behavior Checklist (CBCL), and Autism Diagnostic Observation Schedule-2 (ADOS-2). Both groups improved on the RBS-R and CBCL, with no significant difference between groups. ADOS-2 scores improved in placebo group only, but this improvement disappeared when other medications taken by the children were included in the analyses. Blinded clinical impressions showed almost 2/3 of the participants had behavioral improvements with CBD; 1/3 showed either no change or improvement on placebo. A strong placebo effect was observed. CBD had an acceptable safety profile. We did not find CBD to be clearly effective at reducing the broad range of behaviors characterized by the primary outcome measures. There was clinically evident improvement with CBD in 2/3 of participants. A prominent placebo effect demonstrates the importance of placebo control in treatment studies. Medications taken for behavior may reduce blood levels of CBD and may affect outcome measures.

 
 
 

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