Cansaço que Não Passa? Pode Ter Sido um Pequeno Derrame
- Lidi Garcia
- 19 de mai.
- 4 min de leitura

Mesmo após a recuperação de um ataque isquêmico transitório (AIT), mais da metade dos pacientes continua sentindo fadiga intensa por até um ano. Essa fadiga não está ligada a lesões visíveis no cérebro, mas é mais comum em pessoas com histórico de ansiedade ou depressão. Se o cansaço aparece nas primeiras semanas após o AIT, há grandes chances de ele persistir, mostrando a importância de oferecer apoio contínuo aos pacientes.
O ataque isquêmico transitório (AIT) é uma condição neurológica caracterizada por sintomas temporários semelhantes aos de um derrame, mas que desaparecem em até 24 horas, sem deixar danos permanentes aparentes no cérebro.
No entanto, pesquisas mais recentes têm revelado que, mesmo após a recuperação física, muitos pacientes continuam enfrentando dificuldades que afetam seu bem-estar, como a fadiga intensa e persistente.
Essa fadiga pode ser debilitante e comprometer a qualidade de vida, dificultando o retorno às atividades normais. Apesar disso, ainda há pouco conhecimento sobre quem é mais propenso a desenvolver essa condição após um ataque isquêmico transitório, o que torna essencial estudar sua evolução e identificar os fatores de risco.

Ataque Isquêmico Transitório
Neste estudo, pesquisadores acompanharam pacientes que haviam sofrido um ataque isquêmico transitório, com o objetivo de entender melhor como a fadiga evolui ao longo do tempo, especialmente até um ano após o episódio.
Foram incluídos 354 pacientes diagnosticados em uma unidade especializada em acidentes vasculares cerebrais (AVC). Desses, 287 responderam a questionários que avaliavam a fadiga em diferentes momentos: 14 dias após a alta (considerado o ponto de partida), e depois aos 3, 6 e 12 meses.
Para isso, utilizaram duas ferramentas específicas: o Inventário Multidimensional de Fadiga (MFI-20), que mede diferentes aspectos da fadiga (como fadiga geral, física e mental), e a Escala de Gravidade da Fadiga.
Logo no início, os resultados mostraram que mais da metade dos participantes (cerca de 61%) já apresentavam níveis considerados patológicos de fadiga, ou seja, fadiga que é intensa e interfere no funcionamento do dia a dia.

Mesmo após um ano, esse número continuava alto: mais de 53% ainda relatavam fadiga significativa. Isso mostra que, embora o ataque isquêmico transitório seja visto como uma condição temporária, os efeitos subjetivos podem ser duradouros. Além disso, os níveis médios de fadiga só diminuíram levemente ao longo dos meses.
Ao investigar possíveis fatores relacionados à fadiga persistente, os pesquisadores notaram que não havia diferença relevante quanto à presença de infarto agudo (pequenas lesões no cérebro causadas por falta de sangue). Isso indica que a fadiga não está necessariamente ligada a danos cerebrais visíveis.
Por outro lado, observaram que pessoas com histórico de ansiedade ou depressão eram duas vezes mais propensas a desenvolver fadiga após o ataque isquêmico transitório. Isso sugere uma relação importante entre saúde mental pré-existente e sintomas pós-ataque isquêmico transitório.
Os autores também construíram modelos estatísticos para tentar prever quais pacientes continuariam com fadiga após 12 meses. Eles descobriram que o nível de fadiga logo após a alta hospitalar era o principal indicativo de que a fadiga persistiria. Ou seja, se a pessoa ainda se sentia muito cansada duas semanas após o ataque isquêmico transitório, havia uma grande chance de continuar assim até um ano depois.

Esse dado é importante porque pode ajudar médicos a identificar precocemente os pacientes que precisarão de acompanhamento e suporte prolongado.
Em resumo, o estudo mostra que a fadiga patológica é uma consequência comum e muitas vezes negligenciada após um ataque isquêmico transitório. Essa condição pode durar pelo menos um ano e afeta significativamente a vida das pessoas, mesmo que não haja lesões cerebrais detectáveis.
Pacientes que já lidam com ansiedade ou depressão parecem estar em maior risco, e os sintomas de fadiga logo após a alta hospitalar são um forte sinal de alerta. Esses achados destacam a importância de um acompanhamento mais cuidadoso após o ataque isquêmico transitório, não apenas focado na recuperação física, mas também no bem-estar mental e na energia do paciente.
LEIA MAIS:
Long-Term Fatigue Following Transient Ischemic AttackA Prospective Cohort Study
Birgitte Hede Ebbesen, Simon Grøntved, Jakob Nebeling Hedegaard, Søren P. Johnsen, Jane Andreasen, Krystian Figlewski, Mirko Porobic, Michael Skovdal Rathleff, and Boris Modrau
Neurology. June 10, 2025 issue 104 (11)
DOI: 10.1212/WNL.0000000000213605
Abstract:
By definition, patients with transient ischemic attack (TIA) should not have residual symptoms beyond 24 hours. However, preliminary evidence indicates lasting challenges such as fatigue. It is unknown who develops fatigue, and the extent. This knowledge is required to develop evidence-based support for patients. We aimed to explore fatigue up to 12 months after TIA and determine what characterizes patients who experience pathologic fatigue. This is a prospective cohort study including patients with TIA diagnosed at a specialized stroke unit. Fatigue was measured using Multidimensional Fatigue Inventory (MFI-20) and Fatigue Severity Scale at 14 days (baseline) and 3, 6, and 12 months after discharge. The association between candidate prognostic factors and fatigue at 12 months was tested using linear regression models. We compared model performances using likelihood ratio (LR). We included 354 patients, of which 287 provided baseline responses (mean age 70.0 ± 11.1, 42.5% female). At baseline and 3, 6, and 12 months, the mean level of general fatigue on MFI was 12.3 ± 4.6, 11.9 ± 4.6, 11.4 ± 4.5, and 11.1 ± 4.5 and the proportion with pathologic fatigue (≥12 on the MFI-20 General Fatigue) was 61.3%, 53.5%, 54.0%, and 53.8%, respectively. The prevalence of acute infarction was evenly distributed between patients who reported fatigue and those who did not. Previous anxiety/depression was twice as common in the group that reported fatigue. The model including baseline level of fatigue, sex, age, and acute infarction was able to explain variability in the reported data to a statistical significantly higher extent, compared with the model only including sex, age, and acute infarction (p < 0.001, LR = 387.30). Pathologic fatigue is common up to 12 months after TIA diagnosis. If patients report fatigue within 14 days after discharge, it is likely that this remains until 12 months. We found no indication of an association between the presence of acute ischemic lesions and fatigue. The prevalence of previous anxiety/depression was higher in the group that reported fatigue.
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