
Este estudo sublinha a necessidade urgente de conscientização, diagnósticos mais amplos e melhor acesso a tratamentos eficazes para reduzir as desigualdades de saúde enfrentadas por essa população. Os dados demonstram que adultos diagnosticados com TDAH estão vivendo vidas mais curtas do que o esperado, e isso provavelmente está relacionado a fatores de risco que poderiam ser modificados, como maior prevalência de condições de saúde física e mental, além da falta de suporte adequado.
O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma condição de neurodesenvolvimento caracterizada por um padrão persistente de sintomas de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere negativamente em aspectos importantes da vida, como o desempenho acadêmico, a carreira profissional e os relacionamentos sociais.
Para ser diagnosticado, esses sintomas precisam durar pelo menos seis meses e ter impacto significativo.
O TDAH foi reconhecido pela primeira vez no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) em 1968, com o nome de "reação hipercinética da infância".
Embora tradicionalmente associado a crianças, estudos mostram que até 90% das pessoas diagnosticadas com TDAH na infância continuam apresentando sintomas na idade adulta.
Globalmente, estima-se que cerca de 2,8% dos adultos tenham TDAH, de acordo com uma análise de 20 estudos representativos de saúde mental em diferentes países.

Apesar da existência de tratamentos eficazes que podem melhorar significativamente a qualidade de vida, uma pesquisa no Reino Unido revelou que muitos adultos que exibem características claras de TDAH não são diagnosticados. Como resultado, não recebem apoio adequado ou intervenções necessárias, o que pode ter consequências graves em vários aspectos da vida.
Pessoas com TDAH enfrentam desigualdades e adversidades em várias áreas da vida. Elas têm maior probabilidade de apresentar baixo desempenho educacional, dificuldade em manter empregos, problemas financeiros e até de se envolverem em situações de discriminação.
Além disso, a taxa de interação com o sistema de justiça criminal e a probabilidade de vivenciar a falta de moradia também são mais altas nesse grupo.
Em termos de saúde, adultos com TDAH frequentemente enfrentam maior risco de problemas físicos e mentais. Por exemplo, há uma maior incidência de doenças cardiovasculares, distúrbios do sono e abuso de substâncias, incluindo álcool e tabaco.
Esse grupo também tem uma probabilidade significativamente maior de suicídio em comparação com a população geral.

Pesquisas apontam que o TDAH está associado a um risco aumentado de mortalidade precoce. Uma meta-análise que reuniu dados de oito estudos com um total de 396.488 participantes descobriu que pessoas com TDAH diagnosticado têm mais que o dobro da probabilidade de morrer prematuramente em comparação com aqueles sem o transtorno (razão de risco: 2,13).
Dados específicos de Quebec, no Canadá, onde a prevalência de TDAH diagnosticado entre jovens atingiu 12,6% em 2017/2018, mostraram que a diferença na mortalidade pode ser menor, mas o risco ainda é significativo.
Pesquisas mais antigas, como as da coorte de nascimentos britânica de 1958, indicam que crianças com características marcantes de "reação exagerada" (como inquietação, hostilidade e ansiedade) tinham uma probabilidade 1,6 vezes maior de morrer aos 46 anos em comparação com crianças com características médias.
Até o momento, nenhum estudo tinha utilizado dados de mortalidade para estimar a expectativa de vida em adultos com TDAH diagnosticado, especialmente no Reino Unido. O cálculo dos anos de vida perdidos é uma métrica importante porque traduz o impacto do transtorno de forma clara e compreensível para o público em geral.
Essa abordagem tem sido amplamente usada em campanhas de conscientização e na mídia para destacar desigualdades de saúde. O presente estudo buscou preencher essa lacuna, estimando a média de anos de vida perdidos associados ao TDAH em adultos, com base em dados de mortalidade por todas as causas entre 2000 e 2019.

Os pesquisadores da Cambridge University, UK, conduziram um estudo de coorte pareado utilizando dados de 792 clínicas de cuidados primários no Reino Unido, abrangendo um total de 9.561.450 pessoas que contribuíram com dados entre os anos 2000 e 2019.
Entre os participantes, foram identificadas 30.039 pessoas com 18 anos ou mais que haviam recebido um diagnóstico formal de TDAH. Para permitir uma comparação justa, cada indivíduo com TDAH foi pareado com 10 participantes sem o diagnóstico, totalizando 300.390 indivíduos no grupo de controle.
O pareamento foi feito com base em critérios como idade, sexo e a clínica de cuidados primários frequentada.
Para calcular as taxas de mortalidade e estimar a expectativa de vida, os pesquisadores utilizaram dois métodos: a regressão de Poisson, que analisa a relação entre o diagnóstico de TDAH e o risco de morte em diferentes idades, e tábuas de vida, uma ferramenta estatística que projeta a expectativa de vida com base nos padrões de mortalidade observados em diferentes grupos.
Dos participantes do estudo, 0,32% dos adultos na coorte foram diagnosticados com TDAH. Isso equivale a aproximadamente uma em cada nove pessoas adultas no Reino Unido com características de TDAH.
Os resultados mostraram que diagnósticos de problemas de saúde física e mental eram mais frequentes no grupo de adultos com TDAH diagnosticado em comparação com o grupo de controle.
A análise revelou uma redução significativa na expectativa de vida para pessoas com TDAH diagnosticado. Em média:
1- Homens com TDAH diagnosticado viveram 6,78 anos a menos em comparação com homens da população geral.
2- Mulheres com TDAH diagnosticado viveram 8,64 anos a menos em comparação com mulheres da população geral.
Os dados demonstram que adultos diagnosticados com TDAH estão vivendo vidas mais curtas do que o esperado, e isso provavelmente está relacionado a fatores de risco que poderiam ser modificados, como maior prevalência de condições de saúde física e mental, além da falta de suporte adequado.

Expectativa de vida para participantes com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) estratificados por sexo, comparados com participantes de comparação pareados sem diagnóstico de TDAH.
O estudo destacou a importância de intervenções precoces e contínuas para tratar tanto o TDAH quanto os problemas associados.
Embora a pesquisa forneça insights valiosos, é importante notar que os resultados refletem apenas dados de pessoas diagnosticadas com TDAH. A grande maioria dos adultos com TDAH no Reino Unido não é diagnosticada, e o impacto total do transtorno na expectativa de vida pode ser ainda maior.
Este estudo sublinha a necessidade urgente de conscientização, diagnósticos mais amplos e melhor acesso a tratamentos eficazes para reduzir as desigualdades de saúde enfrentadas por essa população.
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Life expectancy and years of life lost for adults with diagnosed ADHD in the UK: matched cohort study.
O’Nions E, El Baou C, John A, et al.
The British Journal of Psychiatry. Published online 2025:1-8.
doi:10.1192/bjp.2024.199
Abstract:
Nearly 3% of adults have attention-deficit and hyperactivity disorder (ADHD), although in the UK, most are undiagnosed. Adults with ADHD on average experience poorer educational and employment outcomes, worse physical and mental health and are more likely to die prematurely. No studies have yet used mortality data to examine the life expectancy deficit experienced by adults with diagnosed ADHD in the UK or worldwide. This study used the life-table method to calculate the life-expectancy deficit for people with diagnosed ADHD using data from UK primary care. A matched cohort study using prospectively collected primary care data (792 general practices, 9 561 450 people contributing eligible person-time from 2000–2019). We identified 30 039 people aged 18+ with diagnosed ADHD, plus a comparison group of 300 390 participants matched (1:10) by age, sex and primary care practice. We used Poisson regression to estimate age-specific mortality rates, and life tables to estimate life expectancy for people aged 18+ with diagnosed ADHD. Around 0.32% of adults in the cohort had an ADHD diagnosis, ~1 in 9 of all adults with ADHD. Diagnoses of common physical and mental health conditions were more common in adults with diagnosed ADHD than the comparison group. The apparent reduction in life expectancy for adults with diagnosed ADHD relative to the general population was 6.78 years (95% CI: 4.50 to 9.11) for males, and 8.64 years (95% CI: 6.55 to 10.91) for females. Adults with diagnosed ADHD are living shorter lives than they should. We believe that this is likely caused by modifiable risk factors and unmet support and treatment needs in terms of both ADHD and co-occurring mental and physical health conditions. This study included data from adults with diagnosed ADHD; the results may not generalise to the entire population of adults with ADHD, the vast majority of whom are undiagnosed.
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