Uso de Cannabis na Gravidez: Riscos Maiores do Que Se Imagina, Alertam Especialistas
- Lidi Garcia
- 8 de abr.
- 4 min de leitura

O uso de cannabis durante a gravidez tem aumentado nos EUA, o que preocupa especialistas devido aos riscos para a saúde da mãe e do bebê. Um estudo analisou dados de mais de um milhão de gestações entre 2015 e 2020 e descobriu que os diagnósticos de transtorno por uso de cannabis (CUD) durante a gravidez ainda são raros, mas podem estar subestimados. Os pesquisadores destacam a necessidade de mais estudos e de melhor suporte para grávidas que fazem uso da substância.
O uso de cannabis durante a gravidez tem aumentado nos Estados Unidos, levantando preocupações entre especialistas em saúde pública e médicos. Esse aumento não se restringe apenas ao consumo ocasional da substância, mas também ao desenvolvimento do Transtorno por Uso de Cannabis (CUD, na sigla em inglês), uma condição caracterizada pelo uso problemático e compulsivo da substância, mesmo diante de consequências negativas para a saúde.
De acordo com pesquisadores da Columbia University Mailman School of Public Health e do Columbia University Irving Medical Center, o número de mulheres grávidas que relataram o uso de cannabis no mês anterior mais do que triplicou entre 2002 e 2020.
Em 2002, cerca de 1,5% das gestantes informaram ter utilizado a substância, enquanto em 2020 essa taxa aumentou para 5,4%. Os resultados dessa pesquisa foram publicados no American Journal of Preventive Medicine e alertam para a necessidade de políticas mais eficazes de diagnóstico, suporte e intervenção.

As diretrizes médicas atuais recomendam que mulheres grávidas evitem o uso de cannabis, pois diversos estudos já demonstraram que essa substância pode estar associada a riscos aumentados tanto para a mãe quanto para o bebê.
Os possíveis efeitos negativos incluem complicações durante a gestação, parto prematuro e impactos no desenvolvimento neurológico da criança, podendo afetar sua saúde mental a longo prazo.
Para entender melhor o impacto do transtorno por uso de cannabis durante a gravidez, os pesquisadores analisaram dados do Merative MarketScan Commercial Claims and Encounters Database, um banco de dados de reivindicações médicas que contém informações sobre milhões de pacientes nos Estados Unidos.
O estudo focou em gestantes com idades entre 12 e 55 anos que tiveram cobertura contínua de seguro saúde entre 2015 e 2020. Para identificar quais dessas mulheres foram diagnosticadas com Transtorno por Uso de Cannabis, os pesquisadores utilizaram os códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID), um sistema padronizado usado por profissionais de saúde para classificar doenças e condições médicas.

Entre os mais de 893 mil registros de gestantes analisados, foram identificadas 1.058.448 gestações. Dentre essas gestações, a prevalência do diagnóstico de Transtorno por Uso de Cannabis foi relativamente baixa: 0,26% no total, com pequenas variações anuais.
Por exemplo, em 2015, 0,22% das gestantes receberam o diagnóstico, enquanto nos anos de 2018 e 2019 essa taxa subiu para 0,27%.
Esse estudo se destaca por analisar uma grande amostra de mulheres grávidas com seguro de saúde comercial em diferentes partes do país. Enquanto pesquisas anteriores geralmente focavam em populações menores ou limitadas geograficamente, esse novo levantamento utilizou dados administrativos coletados durante cinco anos, garantindo uma visão mais ampla da realidade do uso de cannabis entre gestantes.
Vale destacar que, em 2020, o uso medicinal da cannabis já era permitido em 34 estados dos EUA e em Washington D.C. Isso pode ter levado algumas mulheres a utilizarem a substância como forma de automedicação para tratar sintomas como enjoo e vômito durante a gravidez.

No entanto, os pesquisadores alertam que muitas dessas mulheres podem preencher os critérios para o diagnóstico de Transtorno por Uso de Cannabis, o que exige maior atenção médica.
A identificação e o tratamento do uso problemático de cannabis entre gestantes ainda enfrentam obstáculos significativos. Os profissionais de saúde que acompanham mulheres grávidas estão em uma posição privilegiada para detectar e intervir nesses casos.
Entretanto, muitos médicos relatam não ter suporte adequado para realizar diagnósticos precisos e oferecer tratamentos eficazes. Além disso, há um fator social importante: algumas mulheres podem evitar relatar o uso de cannabis por medo de repercussões legais ou julgamentos, o que leva a um número subestimado de diagnósticos.
Além disso, os pesquisadores defendem que mais estudos sejam realizados para que seja possível criar estratégias eficazes de prevenção e intervenção. Isso inclui a adoção de diretrizes mais claras para a triagem do uso de cannabis durante o pré-natal, a ampliação do suporte psicológico para gestantes e a conscientização sobre os riscos do uso da substância na gravidez.
Em resumo, este estudo evidencia a necessidade urgente de aprimorar o diagnóstico e tratamento do uso problemático de cannabis durante a gravidez, garantindo que as gestantes recebam a orientação e o suporte adequados para proteger sua saúde e a de seus bebês.
LEIA MAIS:
Cannabis use disorder among insured pregnant women in the U.S., 2015-2020 Priscila Dib Goncalves, Morgan M. Philbin, Weijia Fan, Yongmei Huang, Megan E. Marziali, Emilie Bruzelius, Luis E. Segura, Pia M. Mauro and Silvia S. Martins
American Journal of Preventive Medicine. 2025 Feb 28:S0749-3797(25)00068-6.
DOI: 10.1016/j.amepre.2025.02.011
Abstract:
Cannabis use among pregnant women is a public health issue. Self-reported past-month cannabis use without concurrent alcohol use more than tripled (1.5% to 5.4%) from 2002-2020 among pregnant women in the US.1 Medical guidelines recommend that pregnant women abstain from cannabis, given its associations with an increased risk of adverse maternal and neonatal outcomes2, and concerns regarding long-term effects on mental health.3
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