Seu Cérebro Também Sente o Peso: Como a Obesidade Pode Reduzir a Capacidade Cognitiva
- Lidi Garcia
- 23 de abr.
- 3 min de leitura

A obesidade crônica pode acelerar o envelhecimento do cérebro e prejudicar funções cognitivas importantes. Além disso, os resultados desse estudo indicam que a obesidade sustentada pode funcionar como um sinal de alerta precoce para o risco de declínio cognitivo, tornando-se um possível marcador para a saúde cerebral. Ao mesmo tempo, o estudo traz uma mensagem positiva: mudanças no estilo de vida que resultam em perda de peso podem ter um impacto significativo na preservação da função cerebral.
Um estudo de grande escala revelou que a obesidade prolongada está associada a um declínio progressivo na saúde do cérebro, afetando tanto sua estrutura física quanto suas funções cognitivas.
Por outro lado, a redução do excesso de peso ao longo do tempo pode ajudar a preservar a saúde cerebral, especialmente durante o envelhecimento. Diante do aumento contínuo das taxas de obesidade em todo o mundo, compreender como o excesso de gordura corporal influencia o cérebro tornou-se uma prioridade para pesquisadores da saúde.
A relação entre obesidade e cérebro é complexa. Ela envolve alterações em regiões cerebrais responsáveis por funções como memória, atenção, linguagem e tomada de decisões. Embora já se soubesse que a obesidade afeta o cérebro, ainda havia muitas dúvidas sobre como esse impacto se desenrola ao longo do tempo.

A maioria dos estudos anteriores avaliava o peso de uma pessoa em apenas um ponto da vida, o que dificultava entender os efeitos reais da obesidade crônica.
Para preencher essa lacuna, pesquisadores da Universidade Politécnica de Hong Kong, conduziram uma pesquisa aprofundada com dados longitudinais, ou seja, coletados ao longo de vários anos.
O estudo analisou informações do UK Biobank, um banco de dados britânico com mais de 500 mil participantes com 40 anos ou mais. A partir dessas informações, foram identificados cinco padrões distintos de obesidade ao longo do tempo:
Baixa-estável (baixo nível de obesidade constante)
Moderada-estável
Alta-estável
Crescente (ganho de peso progressivo)
Decrescente (perda de peso)
A seguir, os pesquisadores compararam esses perfis com alterações na estrutura cerebral e no desempenho cognitivo dos participantes.

Os resultados mostraram que indivíduos que conseguiram reduzir seu nível de obesidade ao longo do tempo (trajetória decrescente) apresentaram efeitos mínimos no cérebro, semelhantes aos observados em pessoas que nunca tiveram excesso de peso.
Em contraste, aqueles com obesidade persistente ou crescente apresentaram prejuízos graduais e mais significativos. No grupo crescente, os efeitos negativos começaram em áreas do cérebro ligadas à motivação e às emoções. No grupo moderadamente estável, esses efeitos se estenderam para regiões envolvidas com linguagem e memória.
Especificamente, os efeitos adversos estenderam-se das regiões fronto-mesolímbicas na trajetória crescente para as regiões parietais e temporais na trajetória moderadamente estável.
Já no grupo altamente estável, que manteve altos níveis de obesidade durante todo o período analisado, as alterações cerebrais foram generalizadas.
Essas descobertas sugerem que a obesidade crônica pode acelerar o envelhecimento do cérebro e prejudicar funções cognitivas importantes. Além disso, indicam que a obesidade sustentada pode funcionar como um sinal de alerta precoce para o risco de declínio cognitivo, tornando-se um possível marcador para a saúde cerebral.

Ao mesmo tempo, o estudo traz uma mensagem positiva: mudanças no estilo de vida que resultam em perda de peso podem ter um impacto significativo na preservação da função cerebral.
Por fim, os pesquisadores ressaltam a importância de monitorar o peso corporal ao longo da vida e de promover estratégias de prevenção e tratamento da obesidade, não apenas por seus efeitos no corpo, mas também pelos benefícios que podem trazer à mente.
Manter um peso saudável, ou conseguir reduzir o excesso de peso com o tempo, pode ser um passo essencial para proteger o cérebro e garantir um envelhecimento mais saudável.
LEIA MAIS:
Long-term obesity impacts brain morphology, functional connectivity and cognition in adults
Die Zhang, Chenye Shen, Nanguang Chen, Chaoqiang Liu, Jun Hu, Kui Kai Lau, Zhibo Wen and Anqi Qiu
Nature Mental Health. 3, pages 466–478 (2025).
DOI: 10.1038/s44220-025-00396-5
Abstract
Although obesity has been implicated in brain and cognitive health, the effect of longitudinal obesity trajectories on brain and cognitive aging remains insufficiently understood. Here, using multifaceted obesity measurements from the UK Biobank, we identified five distinct obesity trajectories: low-stable, moderate-stable, high-stable, increasing and decreasing. We observed that individuals in the decreasing trajectory showed minimal adverse effects on brain structure and cognitive performance, compared with the low-stable trajectory (low obesity levels over time). By contrast, the increasing and moderate- and high-stable trajectories were associated with progressively greater impairments in brain morphology, functional connectivity and cognitive abilities. Specifically, adverse effects extended from fronto-mesolimbic regions in the increasing trajectory to parietal and temporal regions in the moderate-stable trajectory, culminating in widespread brain abnormalities in the high-stable group. These findings highlight the dynamic relationship between obesity evolution and brain-cognitive health, underscoring the clinical importance of long-term monitoring and management of obesity through a multifaceted approach.



Comentários