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Seu Cérebro Envelheceu Na Pandemia, Mesmo Sem Você Ter Pegado COVID

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 8 de ago.
  • 4 min de leitura
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Pesquisadores descobriram que tanto a infecção por COVID-19 quanto o estresse causado pela pandemia podem acelerar o envelhecimento do cérebro. Mesmo quem não foi infectado, mas viveu o período da pandemia, mostrou sinais de envelhecimento cerebral mais rápido. Os efeitos foram mais intensos em homens e pessoas em situação social mais vulnerável. Entre os infectados, também houve piora na memória e no raciocínio. Esses achados mostram que a pandemia impactou a saúde do cérebro de forma ampla e desigual.


Além dos sintomas respiratórios já conhecidos causados pela COVID-19, muitos estudos apontam que o vírus SARS-CoV-2 também pode afetar diretamente o cérebro e o sistema nervoso. Isso significa que ele é neurotrópico, ou seja, tem a capacidade de invadir e impactar o tecido cerebral. 


Diversos sobreviventes da COVID-19 têm relatado sintomas que persistem por meses, como fadiga constante, dificuldades de concentração, perda de memória, ansiedade, depressão e até transtornos de estresse pós-traumático. 


Pesquisas mais recentes vêm mostrando possíveis ligações entre a infecção por COVID-19 e um declínio nas funções cognitivas, além de alterações visíveis na estrutura do cérebro e sinais moleculares parecidos com os do envelhecimento cerebral. Também foi observado um grande sofrimento psicológico durante a pandemia, especialmente entre jovens e pessoas mais vulneráveis, como as que vivem em condições sociais desfavoráveis.  

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Curiosamente, outras análises revelaram que, apesar de todo o estresse, o uso de serviços de saúde mental não aumentou de forma proporcional e, na população em geral, não houve uma explosão nos casos de transtornos mentais, exceto por um pequeno aumento nos sintomas de depressão, sobretudo entre as mulheres. 


Ainda assim, entender o impacto da pandemia na saúde do cérebro, levando em conta se a pessoa teve ou não COVID e suas condições sociais, é essencial para lidar com os efeitos a longo prazo na população.


Já se sabe que o vírus pode permanecer no corpo por vários meses, em media 230 dias, após a infecção e que pode invadir diretamente o cérebro, causar danos nos vasos sanguíneos ou desencadear respostas imunológicas que afetam o sistema nervoso central. Há indícios de que a COVID-19 pode acelerar processos de envelhecimento cerebral e contribuir para doenças neurodegenerativas. 

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Estudos com exames de imagem do cérebro, como a ressonância magnética, revelaram que pessoas que tiveram COVID-19 apresentaram redução na espessura de regiões importantes do cérebro e perda de integridade na substância branca, áreas ligadas à memória, raciocínio e emoções. 


Mas o que chama ainda mais a atenção é que, mesmo sem infecção direta, a própria experiência da pandemia, com o isolamento, estresse constante, mudanças na rotina e no estilo de vida, pode ter impactado negativamente o envelhecimento cerebral, especialmente entre idosos e pessoas com dificuldades financeiras. 

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Para investigar isso de forma precisa, pesquisadores do UK Biobank utilizaram dados de imagem cerebral coletados antes e depois da pandemia. Eles treinaram modelos de inteligência artificial capazes de estimar a “idade do cérebro” com base em diversos parâmetros extraídos das imagens. Esses modelos permitiram comparar se o cérebro de uma pessoa envelheceu mais rápido do que o esperado com base na sua idade real.


Com essa abordagem, os cientistas analisaram dados de quase mil participantes com duas ressonâncias magnéticas cerebrais: um grupo com exames realizados antes e depois da pandemia, e outro com exames apenas anteriores ao início da crise sanitária. 


Eles descobriram que os cérebros das pessoas expostas à pandemia envelheceram, em média, 5,5 meses a mais do que os cérebros do grupo controle. Isso quer dizer que o envelhecimento cerebral foi acelerado, mesmo entre pessoas que não tiveram COVID-19. 

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Efeitos de fatores sociodemográficos, representados por índices de privação, no envelhecimento cerebral em participantes agrupados por estado de pandemia. Cada relógio representa a diferença na taxa média de variação da diferença de idade cerebral (BAG) entre indivíduos com níveis baixos e altos de fatores sociodemográficos específicos. Os relógios são apresentados separadamente para os modelos substancia cinzenta (GM) e substancia branca (WM), com um conjunto representando os participantes do grupo Sem Pandemia e outro para os participantes do grupo Pandemia. Os fatores sociodemográficos estudados incluem pontuação de moradia, pontuação de saúde, pontuação de emprego, pontuação de renda e pontuação de educação.


O impacto foi ainda mais forte em homens e em pessoas de contextos sociais desfavorecidos. No entanto, entre aqueles que tiveram COVID-19, essa aceleração no envelhecimento cerebral também veio acompanhada de uma piora no desempenho cognitivo, como dificuldades de memória, atenção e raciocínio. 


Esses resultados demonstram que os efeitos da pandemia vão muito além da infecção pelo vírus em si e atingem de maneira desigual diferentes grupos sociais. Por isso, os pesquisadores reforçam a importância de considerar os aspectos sociais, econômicos e de saúde mental ao avaliar o impacto da pandemia na saúde do cérebro. Isso é fundamental para desenvolver políticas públicas mais eficazes e inclusivas para a recuperação da população no pós-pandemia.



LEIA MAIS:


Accelerated brain ageing during the COVID-19 pandemic

Ali-Reza Mohammadi-Nejad, Martin Craig, Eleanor F. Cox, Xin Chen, R. Gisli Jenkins, Susan Francis, Stamatios N. Sotiropoulos, and Dorothee P. Auer

Nature Communications. 16, 6411. 22 July 2025

DOI: 10.1038/s41467-025-61033-4


Abstract: 


The impact of SARS-CoV-2 and the COVID-19 pandemic on brain health is recognised, yet specific effects remain understudied. We investigate the pandemic’s impact on brain ageing using longitudinal neuroimaging data from the UK Biobank. Brain age prediction models are trained from hundreds of multi-modal imaging features using a cohort of 15,334 healthy participants. These models are then applied to an independent cohort of 996 healthy participants with two magnetic resonance imaging scans: either both collected before the pandemic (Control groups), or one before and one after the pandemic onset (Pandemic group). Our findings reveal that, even with initially matched brain age gaps (predicted brain age vs. chronological age) and matched for a range of health markers, the pandemic significantly accelerates brain ageing. The Pandemic group shows on average 5.5-month higher deviation of brain age gap at the second time point compared with controls. Accelerated brain ageing is more pronounced in males and those from deprived socio-demographic backgrounds and these deviations exist regardless of SARS-CoV-2 infection. However, accelerated brain ageing correlates with reduced cognitive performance only in COVID-infected participants. Our study highlights the pandemic’s significant impact on brain health, beyond direct infection effects, emphasising the need to consider broader social and health inequalities.

 
 
 

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