Ressonância Do Futuro: Novo Exame Prevê Risco De Demência Décadas Antes
- Lidi Garcia
- 10 de jul.
- 5 min de leitura

Cientistas desenvolveram uma nova forma de medir a velocidade do envelhecimento usando imagens do cérebro feitas por ressonância magnética. Essa técnica, chamada DunedinPACNI, permite prever com mais precisão quem tem maior risco de desenvolver doenças como demência, fragilidade física e até morte precoce. Ela ajuda a entender como o cérebro reflete o envelhecimento do corpo e pode ser uma ferramenta útil para prevenir problemas de saúde antes que apareçam.
Envelhecer é um processo natural que afeta todos nós. Com o tempo, nosso corpo passa por mudanças graduais que afetam vários órgãos e sistemas, como o coração, os pulmões, os rins e até o cérebro. No entanto, nem todas as pessoas envelhecem da mesma forma ou na mesma velocidade.
Duas pessoas da mesma idade podem estar em condições de saúde muito diferentes. É por isso que os cientistas estão cada vez mais interessados em medir a velocidade do envelhecimento, ou seja, o quão rapidamente o corpo de uma pessoa está se desgastando ao longo dos anos.
Com essa informação, é possível entender melhor os riscos de doenças e avaliar se tratamentos ou mudanças no estilo de vida podem realmente retardar esse processo.

Nos últimos anos, os pesquisadores começaram a usar o que chamam de "relógios epigenéticos" para tentar estimar o envelhecimento biológico de uma pessoa. Esses relógios se baseiam em mudanças químicas no DNA chamadas de metilação, que ocorrem naturalmente com a idade.
Os primeiros relógios desse tipo tentavam prever apenas a idade da pessoa, mas isso não dizia muito sobre sua saúde real. Depois, surgiram relógios mais avançados que usavam dados de saúde para estimar quem poderia ter maior risco de morte ou doenças. Mas esses modelos ainda tinham uma limitação: usavam dados de pessoas diferentes em momentos únicos, em vez de acompanhar o envelhecimento da mesma pessoa ao longo do tempo.

Para resolver esse problema, cientistas acompanharam um grupo de mais de mil pessoas nascidas entre 1972 e 1973 na Nova Zelândia, o chamado Estudo Dunedin. Ao longo de 20 anos, os pesquisadores coletaram dados de saúde desses participantes aos 26, 32, 38 e 45 anos de idade.
Eles mediram 19 indicadores importantes da saúde do corpo, como pressão arterial, colesterol, função pulmonar, saúde bucal, entre outros. Com essas informações, criaram uma medida chamada Ritmo do Envelhecimento, que mostra o quanto a saúde de uma pessoa está se desgastando com o tempo.
Mais recentemente, os cientistas desenvolveram uma forma de estimar esse Ritmo do Envelhecimento por meio da análise de uma única amostra de DNA. Essa versão, chamada DunedinPACE, se mostrou útil para prever doenças e até morte precoce.

Porém, nem todos os estudos têm acesso a dados de DNA, especialmente na área da saúde cerebral. Por isso, os pesquisadores decidiram criar uma nova versão baseada em imagens do cérebro obtidas por ressonância magnética (RM), uma técnica segura e comum para observar estruturas cerebrais.
A nova ferramenta foi batizada de DunedinPACNI (PACNI significa "Calculado a partir de NeuroImagem"). Para desenvolvê-la, os cientistas analisaram ressonâncias magnéticas do cérebro feitas aos 45 anos de idade dos participantes do Estudo Dunedin.
A ideia foi usar as imagens para treinar um modelo de computador capaz de “aprender” quais padrões no cérebro estão ligados a um envelhecimento mais rápido ou mais lento do corpo. Essa abordagem é inovadora porque, em vez de tentar adivinhar a idade da pessoa (como faziam os modelos antigos), ela tenta prever diretamente a velocidade do envelhecimento corporal com base na estrutura do cérebro.

Imagine uma ferramenta para medir a velocidade do seu envelhecimento, enquanto você ainda está razoavelmente saudável. Agora, uma única tomografia cerebral pode revelar sua taxa de envelhecimento e o risco de demência e incapacidade daqui a alguns anos, e enquanto você ainda tem chances de melhorar sua saúde. Crédito: Ethan Whitman
Para testar a eficácia do DunedinPACNI, os pesquisadores usaram dados de outros grandes estudos internacionais, como o UK Biobank (Reino Unido), a Iniciativa de Neuroimagem da Doença de Alzheimer (ADNI, nos EUA) e o BrainLat (América Latina).
Em todos esses grupos, o novo modelo conseguiu prever quem teria maior risco de problemas cognitivos (como perda de memória), atrofia cerebral (redução do volume do cérebro), demência e até morte precoce. Além disso, também se mostrou eficaz para prever quem teria saúde geral mais frágil no futuro.

A figura mostra como o volume do hipocampo, uma parte do cérebro importante para a memória, diminui com a idade, e como essa redução está relacionada com a velocidade de envelhecimento medida por uma nova técnica chamada DunedinPACNI. Na parte a, vemos gráficos com várias linhas coloridas representando pessoas diferentes dos estudos ADNI (à esquerda) e UK Biobank (à direita). Cada linha mostra a mudança no volume do hipocampo com o passar dos anos. As cores indicam a velocidade dessa perda: vermelho significa perda mais rápida (envelhecimento cerebral mais acelerado) e azul significa perda mais lenta. Na parte b, vemos dois pontos com barras (chamado de forest plot) que mostram que pessoas com pontuação mais alta no DunedinPACNI, ou seja, que estão envelhecendo mais rapidamente segundo esse novo marcador, tendem a perder volume no hipocampo mais rapidamente também. Isso sugere que a ferramenta DunedinPACNI realmente consegue prever um sinal precoce de envelhecimento cerebral. Em resumo: quanto mais rápido uma pessoa envelhece de acordo com essa nova técnica, mais rápido o hipocampo dela encolhe, um possível sinal de risco para doenças como Alzheimer.
O DunedinPACNI representa um grande avanço porque pode transformar exames de ressonância magnética comuns em ferramentas poderosas para medir o envelhecimento de uma forma confiável e detalhada.
Ele não serve apenas para avaliar o cérebro, mas funciona como um “termômetro” geral da saúde do corpo. Isso pode ajudar médicos, cientistas e até sistemas de saúde a identificar quem está envelhecendo mais rápido e quem poderia se beneficiar de tratamentos preventivos, antes mesmo dos sintomas aparecerem.
LEIA MAIS:
DunedinPACNI estimates the longitudinal Pace of Aging from a single brain image to track health and disease
Ethan T. Whitman, Maxwell L. Elliott, Annchen R. Knodt, Wickliffe C. Abraham, Tim J. Anderson, Nicholas J. Cutfield, Sean Hogan, David Ireland, Tracy R. Melzer, Sandhya Ramrakha, Karen Sugden, Reremoana Theodore, Benjamin S. Williams, Avshalom Caspi, Terrie E. Moffitt, and Ahmad R. Hariri
Nature Aging. 1 July 2025
Abstract:
To understand how aging affects functional decline and increases disease risk, it is necessary to develop measures of how fast a person is aging. Using data from the Dunedin Study, we introduce an accurate and reliable measure for the rate of longitudinal aging derived from cross-sectional brain magnetic resonance imaging, that is, the Dunedin Pace of Aging Calculated from NeuroImaging (DunedinPACNI). Exporting this measure to the Alzheimer’s Disease Neuroimaging Initiative, UK Biobank and BrainLat datasets revealed that faster DunedinPACNI predicted cognitive impairment, accelerated brain atrophy and conversion to diagnosed dementia. Faster DunedinPACNI also predicted physical frailty, poor health, future chronic diseases and mortality in older adults. When compared to brain age gap, DunedinPACNI was similarly or more strongly related to clinical outcomes. DunedinPACNI is a next-generation brain magnetic resonance imaging biomarker that can help researchers explore aging effects on health outcomes and evaluate the effectiveness of antiaging strategies.



Comentários