Remédios Para Perda De Peso: Por Que Os Resultados Somem Quando o Tratamento Acaba?
- Lidi Garcia
- 18 de ago.
- 4 min de leitura

Pesquisadores analisaram vários estudos para entender o que acontece quando pessoas que usam medicamentos para emagrecer param o tratamento. Eles descobriram que, em média, o peso começa a aumentar cerca de dois meses após a suspensão e continua subindo nos meses seguintes, chegando a até 2,5 kg em cinco meses. Isso mostra que, para manter os resultados, é preciso ter acompanhamento e estratégias de longo prazo, mesmo depois de parar os remédios.
A obesidade é hoje um dos maiores desafios para a saúde pública mundial. Em 2020, estimava-se que 2,2 bilhões de adultos em todo o planeta estavam com sobrepeso ou obesidade, e a projeção é que esse número aumente para 3,3 bilhões até 2035.
Essa condição não é apenas uma questão estética: ela está ligada a um risco muito maior de desenvolver doenças graves, como problemas cardiovasculares, diabetes tipo 2 e vários tipos de câncer. Por isso, seu controle é fundamental para prevenir complicações e melhorar a qualidade e a expectativa de vida.
O tratamento da obesidade pode envolver mudanças no comportamento e no estilo de vida, uso de medicamentos específicos e, em alguns casos, cirurgia bariátrica. Atualmente, existem seis medicamentos aprovados para o tratamento da obesidade em adultos: orlistate (Xenical), naltrexona-bupropiona (Contrave, Mysimba), liraglutida (Saxenda, Victoza), semaglutida (Wegovy, Ozempic), tirzepatida (Mounjaro, Zepbound) e fentermina-topiramato (Qsymia).

Os remédios para emagrecer funcionam de maneiras diferentes para ajudar a reduzir o peso. O orlistate (Xenical) age no intestino, bloqueando parte da gordura dos alimentos para que ela não seja absorvida. A combinação naltrexona-bupropiona (Contrave, Mysimba) atua no cérebro, diminuindo a vontade de comer e ajudando a controlar a compulsão alimentar.
A liraglutida (Saxenda, Victoza), a semaglutida (Wegovy, Ozempic), e a tirzepatida (Mounjaro, Zepbound) imitam hormônios naturais, como o GLP-1, que regulam o apetite e o metabolismo, fazendo com que a pessoa sinta menos fome e fique satisfeita mais rápido.
Já a fentermina-topiramato (Qsymia) combina dois medicamentos: um que reduz o apetite e dá mais energia, e outro que altera a forma como o cérebro percebe a comida, ajudando a comer menos.

Estudos mostram que, quando usados por períodos prolongados, esses medicamentos podem ajudar na perda de peso e na melhora de problemas de saúde relacionados à obesidade. No entanto, há um desafio importante: muitas pessoas voltam a ganhar peso quando param de tomar esses remédios, o que pode reverter parte dos benefícios alcançados.
O problema é que, quando esses remédios são suspensos, o corpo tende a voltar ao padrão antigo, aumentando a fome e favorecendo o reganho de peso.
O estudo em questão buscou entender melhor o que acontece com o peso das pessoas após interromper o uso desses medicamentos. Para isso, os pesquisadores da Peking University People’s Hospital, China, fizeram uma análise detalhada de estudos clínicos já realizados.
Eles pesquisaram bancos de dados científicos e selecionaram apenas os ensaios clínicos que comparavam pessoas que usaram medicamentos anti-obesidade com grupos que não usaram, acompanhando-as durante o tratamento e também depois que o medicamento foi interrompido. Foi exigido que o tratamento tivesse durado pelo menos quatro semanas e que o acompanhamento após a interrupção também fosse de no mínimo quatro semanas. Assim, foi possível comparar a perda de peso durante o uso do medicamento e o que acontecia nas semanas seguintes à sua suspensão.
Os resultados mostraram que, quatro semanas depois de parar o medicamento, ainda havia algum efeito positivo em comparação ao grupo que nunca tinha usado, mas essa diferença não era significativa.
Oito semanas após a interrupção, porém, já foi observado um ganho de peso claro e significativo, que continuou aumentando nas semanas seguintes: em média 1,5 kg após oito semanas, 1,76 kg após doze semanas e 2,5 kg após vinte semanas.

Peso e IMC recuperam trajetória após tratamento de abstinência de emagrecedores. IMC: índice de massa corporal
O ganho de peso mais pronunciado foi observado em pessoas que haviam usado medicamentos que imitam o hormônio GLP-1, como liraglutida e semaglutida. Além disso, pessoas que perderam mais peso durante o tratamento ou que mantiveram mudanças de estilo de vida mesmo após o fim do medicamento também apresentaram ganho de peso, embora esse retorno ao peso fosse mais lento.

A conclusão foi que a recuperação de peso após interromper os medicamentos anti-obesidade é comum e pode começar rapidamente, cerca de dois meses depois da suspensão, mantendo-se ao longo dos meses seguintes. Isso reforça a necessidade de estratégias de acompanhamento e manutenção do peso a longo prazo, bem como de estudos mais longos para entender quais fatores influenciam esse reganho e como preveni-lo.
LEIA MAIS:
Trajectory of the body weight after drug discontinuation in the treatment of anti-obesity medications
Han Wu, Wenjia Yang, Tong Guo, Xiaoling Cai, and Linong Ji
BMC Medicine, volume 23, Article number: 398 (2025)
Abstract:
Globally, obesity has emerged as a significant public health concern, imposing detrimental impacts on human health. The purpose of our study was to explore the long-term effects of anti-obesity medications (AOMs) on body weight and to draw the trajectory of weight change after discontinuation of AOMs. PubMed, Medline, Embase, the Cochrane Center Register of Controlled Trials for Studies, and Clinicaltrials.gov were searched from the inception to March 2024. Randomized controlled trials of AOMs conducted in population for at least 4 weeks and followed for 4 or more weeks after discontinuation were included. Weight change during treatment and after drug discontinuation was also reported. Random-effect model and meta-regression analysis were accordingly used. At week 4 after discontinuation, compared with the control group, AOM treatment still had weight loss effect (WMD = − 0.32 kg, 95% CI − 3.60–2.97, P = 0.85, I2 = 83%). At 8 weeks after drug discontinuation, AOMs were associated with significant weight regain compared with the control group (WMD = 1.50 kg, 95% CI 1.32–1.68, P < 0.0001, I2 = 0.0%). The weight regain trend remained at 12 and 20 weeks (WMD = 1.76 kg, 95% CI 1.29–2.24, P < 0.0001, I2 = 72.0%; WMD = 2.50 kg, 95% CI 2.27–2.73, P < 0.0001, I2 = 0.0%). Among the different subgroups of AOMs, significant weight regain after 12 weeks of drug discontinuation was observed only in studies with glucagon-like peptide 1 receptor agonist (GLP-1 RA) related drugs. In addition, studies in which weight loss was greater during treatment than in the control group and studies in which lifestyle interventions were continued observed significant weight gain after drug discontinuation. Significant weight regain occurred 8 weeks after discontinuation of AOMs and was sustained through 20 weeks. Different weight regain was observed in subjects with different characteristics. Studies with longer follow-up duration are required to further investigate the potential factors associated with weight change after discontinuation of treatment.



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