Quebrando Dois Ciclos De Uma Vez: Como Largar o Cigarro Ajuda Na Luta Contra Outros Vícios
- Lidi Garcia
- 1 de set.
- 5 min de leitura

Um grande estudo nos Estados Unidos mostrou que pessoas com histórico de dependência química que param de fumar têm cerca de 30% mais chances de manter a recuperação em comparação com quando ainda fumavam. Isso sugere que incluir apoio para parar de fumar nos tratamentos contra o uso de drogas ou álcool pode melhorar os resultados e a saúde geral dos pacientes.
O tabagismo continua sendo uma das principais causas evitáveis de morte no mundo, responsável por mais de oito milhões de óbitos anuais, segundo a Organização Mundial da Saúde. Estima-se que mais de 1,3 bilhão de pessoas sejam fumantes, com maior prevalência em países de baixa e média renda.
O cigarro contém milhares de substâncias químicas, incluindo nicotina, altamente viciante, e compostos tóxicos como alcatrão, monóxido de carbono e metais pesados, que estão diretamente ligados a doenças cardiovasculares, respiratórias crônicas e diversos tipos de câncer, especialmente o de pulmão.
Além dos danos físicos, o tabagismo frequentemente coexiste com outros transtornos por uso de substâncias, como álcool e drogas ilícitas, e também com condições psiquiátricas, como depressão e ansiedade, formando um ciclo de dependência que dificulta o abandono de todos os vícios.
Essa inter-relação entre hábitos prejudiciais torna a cessação do tabagismo não apenas uma medida isolada de saúde, mas um passo estratégico que pode influenciar positivamente a recuperação global do indivíduo.

Esse estudo realizado por pesquisadores da US National Institute on Drug Abuse, USA, investigou a relação entre parar de fumar e a recuperação de pessoas com transtorno por uso de substâncias, que é uma condição caracterizada pelo consumo problemático e persistente de drogas ou álcool, causando prejuízos significativos à vida da pessoa.
Pesquisas anteriores já mostravam que fumar é muito mais comum entre pessoas com esse tipo de transtorno do que entre a população geral, mas, apesar disso, programas de tratamento para dependência química costumam deixar de lado intervenções para ajudar o paciente a deixar o cigarro.
Os pesquisadores queriam entender se a mudança de hábito, especificamente, passar de fumante ativo para ex-fumante, poderia influenciar positivamente a recuperação de quem já teve ou ainda tem problemas com uso de substâncias. Para isso, analisaram dados de um grande estudo nacional feito nos Estados Unidos, chamado Estudo de Avaliação Populacional do Tabaco e Saúde.

Eles acompanharam milhares de adultos que tinham histórico de transtorno por uso de substâncias e avaliaram seu comportamento ao longo de vários anos. As pessoas foram entrevistadas repetidamente, e a cada avaliação os cientistas verificaram se elas fumavam atualmente, já tinham fumado no passado ou nunca haviam fumado. Também foi analisado se elas ainda apresentavam sintomas do transtorno ou se estavam em recuperação, o que foi definido como não ter nenhum sintoma no último ano.
Para medir a associação, foi utilizada uma técnica estatística que permite comparar a própria pessoa com ela mesma em diferentes momentos da vida, reduzindo assim a influência de diferenças entre indivíduos. Ou seja, se uma pessoa estava fumando em um ano e no ano seguinte parou, os pesquisadores avaliavam se isso coincidiu com uma melhora em relação ao transtorno por uso de substâncias.
Além disso, eles consideraram fatores como idade, gênero, situação econômica e outras características que poderiam influenciar tanto o hábito de fumar quanto a recuperação.

Os resultados mostraram que parar de fumar aumentou as chances de recuperação em cerca de 30% em comparação a períodos em que a pessoa ainda fumava. Essa relação se manteve mesmo quando os cientistas ajustaram os cálculos para considerar fatores de confusão e até quando analisaram os efeitos do abandono do cigarro com um ano de atraso.
O achado também foi confirmado em uma segunda análise, com outra amostra de pessoas acompanhadas em anos mais recentes, mostrando que o efeito é consistente.
Os autores concluíram que deixar de fumar pode ser um aliado importante para quem está tentando se recuperar de outros problemas com drogas ou álcool. Isso indica que incluir programas de cessação do tabagismo dentro do tratamento para transtornos por uso de substâncias não só ajudaria a reduzir os riscos do cigarro, como também poderia acelerar e sustentar a recuperação de maneira geral.
LEIA MAIS:
Cigarette Smoking During Recovery From Substance Use Disorders
Michael J. Parks, Carlos Blanco, MeLisa R. Creamer, John H. Kingsbury, Colm D. Everard, Daniela Marshall, Heather L. Kimmel, and Wilson M. Compton
JAMA Psychiatry. Published online August 13, 2025.
doi:10.1001/jamapsychiatry.2025.1976
Abstract:
Cigarette smoking is more prevalent among those with than without other substance use disorders (SUDs). However, smoking cessation interventions are often absent from SUD treatment facilities. To inform smoking cessation and SUD care by assessing smoking status and SUD recovery over time to determine whether transitioning from current to former smoking is associated with sustained SUD recovery. This cohort study was conducted among a nationally representative cohort of US adults with history of SUD from the PATH (Population Assessment of Tobacco and Health) Study. The PATH Study is an ongoing, nationally representative, longitudinal cohort study in the US. Analyses included adults (aged ≥18 years) in the wave 1 cohort (recruited in 2013/2014) assessed annually over 4 years until wave 4 (2016/2018). A second nationally representative cohort (from 2016/2018 to 2023) was also assessed in sensitivity analyses. Data analysis was completed from June 2024 to September 2024. Cigarette smoking (never, former, and current use). The primary outcome was SUD recovery, assessed via the Global Appraisal of Individual Needs–Short Screener SUD subscale, measured as high lifetime SUD symptoms (4-7 symptoms) and zero past-year symptoms (sustained remission) or high lifetime SUD symptoms with any past-year symptoms (current substance use or SUD). Fixed-effects logistic regression assessed within-person change in smoking and its association with SUD recovery, accounting for between-person confounders. Among 2652 adults from 2013/2014 to 2016/2018, 41.9% of participants (95% CI, 39.4%-44.4%) were female, and mean age was 39.4 years (95% CI, 38.7-40.3). By self-reported race and ethnicity, 17.0% of participants (95% CI, 15.3%-18.9%) were Hispanic, 13.9% (95% CI, 12.2%-15.6%) were non-Hispanic Black, 63.1% (95% CI, 60.4%-65.7%) were non-Hispanic White, and 6.0% (95% CI, 4.9%-7.4%) were another non-Hispanic race (Asian, Native American/Alaska Native, Native Hawaiian/Other Pacific Islander, more than 1 race). Within-person change from current to former smoking was positively associated with SUD recovery: year-to-year change to former cigarette use was associated with a 30% increase in odds of recovery (odds ratio [OR], 1.30; 95% CI, 1.07-1.57), accounting for time-varying covariates and between-person differences. This association remained significant after lagging predictor by 1 year (OR, 1.43; 95% CI, 1.00-2.05) and in the second cohort assessed from 2016/2018 to 2022/2023 (OR, 1.37; 95% CI, 1.13-1.66). In this cohort study, within-person change from current to former smoking was associated with recovery from other SUDs. These results suggest that smoking cessation could be used as a tool to assist recovery processes and improve health among adults with an SUD.



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