Perder 30% Do Peso Em Dias: A Descoberta Científica Que Desafia Tudo O Que Sabemos
- Lidi Garcia
- 11 de jun.
- 4 min de leitura

Cientistas descobriram que retirar um aminoácido chamado cisteína da alimentação de camundongos causou uma perda de peso rápida e significativa, até 30% em uma semana. Isso aconteceu porque o corpo entrou em estado de estresse, passou a queimar mais gordura e usar energia de forma menos eficiente. O efeito foi reversível, ao voltar à dieta normal, os camundongos recuperaram o peso. A descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novas estratégias para tratar a obesidade.
A obesidade é um problema crescente no mundo todo, afetando cerca de 40% da população dos Estados Unidos e uma em cada seis pessoas no planeta. Para tentar combater essa situação, cientistas vêm estudando diferentes dietas, como a redução de carboidratos, gorduras e, mais recentemente, de aminoácidos, que são os blocos que formam as proteínas.
Neste estudo, os pesquisadores da NYU Grossman School of Medicine, USA, investigaram o que acontece quando certos aminoácidos são retirados da alimentação de camundongos.
Eles descobriram que a remoção de um aminoácido específico, chamado cisteína, levou a uma perda de peso surpreendente: os camundongos perderam até 30% do peso corporal em apenas uma semana, e essa perda foi rapidamente revertida ao voltar à dieta normal.

A cisteína é importante porque participa de várias funções essenciais no corpo. Ela ajuda a produzir glutationa (um potente antioxidante que protege as células) e também está envolvida na produção de Coenzima A (CoA), uma substância chave para gerar energia nas células.
Quando os camundongos ficaram sem cisteína, o corpo deles entrou em estado de “alerta”, ativando respostas de estresse celular e levando a uma mudança no funcionamento do metabolismo. Isso resultou em um processo de geração de energia menos eficiente, o que acabou forçando o corpo a queimar mais gordura, mas de maneira acelerada e não sustentável.
Curiosamente, os camundongos que perderam peso por falta de cisteína não ficaram doentes, nem mais ativos ou letárgicos. A perda de peso não foi causada por movimentação extra, mas por mudanças internas no corpo. Eles também passaram a comer menos, demonstrando uma espécie de rejeição à comida.

Mas, mesmo quando cientistas limitaram a comida de outros camundongos sem tirar a cisteína da dieta, a perda de peso não foi tão grande. Ou seja, a ausência desse aminoácido teve um efeito direto e único.
Os pesquisadores também verificaram se a perda de peso era causada por problemas na absorção de nutrientes ou por alterações nas bactérias intestinais, mas não encontraram nada que explicasse a diferença.
A privação de cisteína foi o principal fator. E o mais surpreendente: quando os camundongos voltavam a comer ração normal, eles recuperavam o peso em poucos dias, e ao retornar à dieta sem cisteína, perdiam peso de novo. Isso mostra que o processo é totalmente reversível.

Outro ponto importante do estudo foi que a perda de peso aconteceu principalmente pela queima de gordura e não de músculos. Os pesquisadores também notaram que o tecido de gordura dos camundongos passou por mudanças, se tornou mais “ativo”, parecido com o tipo de gordura que queima calorias em vez de armazená-las.
Esse estudo abre portas para futuras pesquisas sobre como manipular o metabolismo por meio da alimentação, especialmente para tratar a obesidade e outras doenças ligadas ao metabolismo.
A cisteína, embora pouco estudada até agora, mostrou ser uma peça-chave nesse quebra-cabeça, e sua retirada controlada pode ter efeitos importantes e úteis, desde que feita com muito cuidado e sob orientação científica.

Essa figura mostra como a remoção de um aminoácido chamado cisteína da dieta pode causar uma rápida perda de gordura corporal em camundongos. Os experimentos comparam dois tipos de camundongos: um grupo com função normal (chamados Het, ou heterozigotos) e outro com um defeito genético que impede a produção interna de cisteína (chamados KO, ou knockout). Ambos os grupos foram alimentados com quantidades controladas de comida por alguns dias, mas depois receberam uma dieta sem cisteína para observar os efeitos. O painel (a) mostra o cronograma do experimento: os camundongos foram colocados em uma dieta com e depois sem cisteína, em quantidade controlada. Nos gráficos (b), (c) e (d), vemos que os camundongos KO pararam de comer com a retirada da cisteína (b), não mudaram muito seu nível de atividade física (c), mas começaram a queimar mais gordura (d). O gráfico (e) mostra que os camundongos KO perderam significativamente mais gordura do que os normais (Het), mesmo comendo igual. As imagens (f) mostram a gordura sob o microscópio: os KO na dieta sem cisteína quase não têm mais tecido adiposo. As imagens (g) indicam que essa perda de gordura não foi causada por morte celular. Já as imagens (h) mostram aumento de uma proteína (UCP1) ligada à queima de gordura, sugerindo que a gordura foi "ativada" para produzir energia.
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Unravelling cysteine-deficiency-associated rapid weight loss
Alan Varghese, Ivan Gusarov, Begoña Gamallo-Lana, Daria Dolgonos, Yatin Mankan, Ilya Shamovsky, Mydia Phan, Rebecca Jones, Maria Gomez-Jenkins, Eileen White, Rui Wang, Drew R. Jones, Thales Papagiannakopoulos, Michael E. Pacold, Adam C. Mar, Dan R. Littman, and Evgeny Nudler
Nature. 21 May 2025.
DOI: 10.1038/s41586-025-08996-y
Abstract:
Around 40% of the US population and 1 in 6 individuals worldwide have obesity, with the incidence surging globally1,2. Various dietary interventions, including carbohydrate, fat and, more recently, amino acid restriction, have been explored to combat this epidemic3,4,5,6. Here we investigated the impact of removing individual amino acids on the weight profiles of mice. We show that conditional cysteine restriction resulted in the most substantial weight loss when compared to essential amino acid restriction, amounting to 30% within 1 week, which was readily reversed. We found that cysteine deficiency activated the integrated stress response and oxidative stress response, which amplify each other, leading to the induction of GDF15 and FGF21, partly explaining the phenotype7,8,9. Notably, we observed lower levels of tissue coenzyme A (CoA), which has been considered to be extremely stable10, resulting in reduced mitochondrial functionality and metabolic rewiring. This results in energetically inefficient anaerobic glycolysis and defective tricarboxylic acid cycle, with sustained urinary excretion of pyruvate, orotate, citrate, α-ketoglutarate, nitrogen-rich compounds and amino acids. In summary, our investigation reveals that cysteine restriction, by depleting GSH and CoA, exerts a maximal impact on weight loss, metabolism and stress signalling compared with other amino acid restrictions. These findings suggest strategies for addressing a range of metabolic diseases and the growing obesity crisis.
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