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Ozempic e o Cérebro: O Duplo Efeito dos Emagrecedores na Dopamina, no Vício e na Depressão

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 28 de abr.
  • 4 min de leitura

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Ozempic, usado para tratar diabetes e ajudar na perda de peso, também pode afetar o cérebro. Ele atua na dopamina, um neurotransmissor ligado ao prazer e à motivação. Em algumas pessoas, pode ajudar a reduzir comportamentos compulsivos, como vícios. Mas em outras, especialmente quem já tem baixa dopamina, pode piorar o humor e até causar sintomas depressivos. Por isso, seu uso precisa ser feito com cuidado e acompanhamento médico.


O Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, é um medicamento que tem ganhado grande destaque nos últimos anos, principalmente no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. Ele pertence a uma classe de medicamentos chamados agonistas do receptor do peptídeo-1 semelhante ao glucagon, ou GLP-1R. 


Além de auxiliar no controle do açúcar no sangue e promover perda de peso, há um crescente interesse da comunidade científica em entender como esse tipo de medicamento pode influenciar outros aspectos da saúde, como o comportamento, o humor e até mesmo a dependência de substâncias. 

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O foco deste estudo foi justamente explorar possíveis conexões entre o uso de agonistas de GLP-1R, como o Ozempic, e seus efeitos sobre o cérebro, especialmente em relação à regulação da dopamina, que é um neurotransmissor fundamental para o sistema de recompensa, motivação e prazer.


A pesquisa investigou como os agonistas do GLP-1R afetam pessoas com transtornos ligados ao uso de substâncias, como álcool e drogas, conhecidos como Transtorno por Uso de Álcool (TUA) e Transtorno por Uso de Substâncias (TUS).


Esses transtornos estão intimamente relacionados à dopamina, pois essa substância química desempenha um papel central nas sensações de prazer e reforço de comportamentos, o que contribui para o ciclo da dependência. 


Os autores sugerem que medicamentos como o Ozempic podem ajudar a reduzir a atividade excessiva da dopamina (hiperdopaminergia), que é comum em alguns transtornos aditivos.

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No entanto, eles também alertam que, em pessoas que já apresentam baixos níveis de dopamina (hipodopaminergia), esses medicamentos podem piorar o quadro, levando a sintomas como desmotivação, apatia e, em casos extremos, pensamentos suicidas.


Esse possível efeito colateral levanta preocupações importantes, especialmente porque há uma crença incorreta de que esses medicamentos "equilibram" automaticamente os níveis de dopamina. Na verdade, seu impacto depende do perfil biológico individual de cada paciente. 


Para aprofundar essa questão, os pesquisadores analisaram geneticamente alvos relacionados ao Ozempic, ao GLP-1R e a enzimas envolvidas nos processos de sinalização cerebral. Eles usaram uma ferramenta computacional chamada STRING-MODEL para estudar 31 genes relacionados à ação do medicamento e também genes associados ao risco genético de comportamentos aditivos, por meio de um teste chamado GARS (Genetic Addiction Risk Score).

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O teste GARS é um exame genético que analisa variações em certos genes ligados ao sistema de recompensa do cérebro, principalmente aqueles que controlam a dopamina, a substância relacionada ao prazer e à motivação.


A ideia é identificar se a pessoa tem uma predisposição maior a desenvolver comportamentos aditivos, como dependência de álcool, drogas, comida ou até jogos. O GARS ajuda a entender se o "cérebro da recompensa" de alguém funciona de forma diferente, o que pode aumentar o risco de vícios.


As análises genéticas indicaram ligações entre o GLP-1R e diversos genes associados a estados depressivos e à regulação da dopamina, como DRD3, BDNF, CREB1, CRH, IL6 e DPP4. Esses genes estão ligados a processos que influenciam o humor, o estresse e a resposta inflamatória do organismo, todos fatores que, quando alterados, podem contribuir para o desenvolvimento da depressão. 


Isso significa que, embora o Ozempic possa reduzir o desejo por substâncias em algumas pessoas, em outras ele pode interferir negativamente no equilíbrio emocional e nas funções cerebrais. 

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Em conclusão, os pesquisadores destacam que o uso de agonistas do GLP-1R pode ter um "duplo efeito". Por um lado, esses medicamentos têm o potencial de reduzir comportamentos compulsivos relacionados à dependência química. 

Por outro, podem desencadear ou agravar sintomas depressivos em pessoas com predisposição genética para desequilíbrios na dopamina.


Esse efeito duplo torna essencial a realização de mais estudos clínicos com pacientes reais, para que se possa entender melhor quem pode se beneficiar com segurança desses medicamentos e quem pode estar em risco. A pesquisa aponta para a necessidade urgente de uma abordagem mais personalizada na prescrição desses fármacos, levando em consideração o perfil genético e neuroquímico de cada indivíduo.



LEIA MAIS:


In Silico Pharmacogenomic Assessment of Glucagon-like Peptide-1 (GLP1) Agonists and the Genetic Addiction Risk Score (GARS) Related Pathways: Implications for Suicidal Ideation and Substance Use Disorder

Alireza Sharafshah, Kai-Uwe Lewandrowski, Mark S. Gold, Brian Fuehrlein, John Wesson Ashford, Panayotis K. Thanos, Gene Jack Wang, Colin Hanna, Jean Lud Cadet, Eliot L. Gardner, Jag H. Khalsa, Eric R. Braverman, David Baron, Igor Elman, Catherine A. Dennen, Abdalla Bowirrat, Albert Pinhasov, Edward J. Modestino, Paul R. Carney, Rene Cortese, Rossano Kepler Alvim Fiorelli, Sergio Schmidt, Aryeh R. Pollack, Rajendra D. Badgaiyan and Kenneth Blum

Current Neuropharmacology. Volume 23, Issue 8, 2025. Page: [974 - 995]

DOI: 10.2174/011570159X349579241231080602


Abstract


Glucagon-Like Peptide-1 Receptor (GLP1R) agonists have become widespread anti-obesity/diabetes pharmaceuticals in the United States. This article aimed to provide our current knowledge on the plausible mechanisms linked to the role of Ozempic (Semaglutide), which is generalized as one of the anti-addiction compounds.The effects of GLP1R agonists in Alcohol Use Disorder (AUD) and substance use disorder (SUD) are mediated, in part, through the downregulation of dopamine signaling. We posit that while GLP1R agonism could offer therapeutic advantages in hyperdopaminergia, it may be detrimental in patients with hypodopaminergia, potentially leading to long-term induction of Suicidal Ideation (SI). The alleged posit of GLP1 agonists to induce dopamine homeostasis is incorrect. This study refined 31 genes based on the targets of Ozempic, GLP1R, and related enzymes for SI and 10 genes of the Genetic Addiction Risk Score (GARS) test. STRING-MODEL refined 29 genes, and further primary analyses indicated associations of GLP1R with DRD3, BDNF, CREB1, CRH, IL6, and DPP4. In-depth silico enrichment analysis revealed an association between candidate genes and depressive phenotypes linked with dopaminergic signaling. Finally, through primary and in-depth silico analyses, we demonstrated multiple findings supporting that GLP1R agonists can induce depression phenotypes. Our findings suggest that associated polymorphisms seem to have overlapping effects with addictive behaviors of Reward Deficiency Syndrome (RDS) and dopamine regulation. Consequently, GLP1R agonists may represent a double-edged sword, potentially triggering both antiaddictive effects and SI by exacerbating depressive phenotypes. Thus, we encourage the scientific community to perform further empirical clinical studies to confirm this proposed pathway.

 
 
 

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