Falta de Sol, Falta de Equilíbrio: A Ligação Entre Vitamina D e Depressão
- Lidi Garcia
- há 6 dias
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A depressão é uma doença muito comum e pode se tornar a principal causa de incapacidade no mundo. Pesquisadores estudam vários fatores envolvidos no seu desenvolvimento, incluindo a vitamina D, que tem funções importantes no cérebro. Há evidências de que baixos níveis dessa vitamina estão associados à depressão, mas ainda não está claro se suplementá-la ajuda na prevenção ou no tratamento. Ainda são necessários mais estudos.
A depressão é uma doença muito comum no mundo todo. Ela pode afetar pessoas de qualquer idade e está associada a outras doenças físicas e mentais. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 5% dos adultos têm depressão, e esse número é ainda maior entre pessoas com mais de 60 anos.
A depressão interfere na vida cotidiana, prejudica o bem-estar emocional, afeta relacionamentos e reduz a produtividade no trabalho. Estimativas mostram que, até 2030, ela pode se tornar a principal causa de incapacidade no planeta. Além disso, depois da pandemia de COVID-19, o número de casos aumentou significativamente.
Pesquisadores buscam entender melhor o que causa a depressão. Atualmente, sabe-se que ela não aparece por um único motivo. Em vez disso, resulta da combinação de fatores como alterações químicas no cérebro, inflamação, estresse crônico, genética, estilo de vida e eventos traumáticos.

Antigamente acreditava-se que a depressão era causada apenas pelo desequilíbrio de substâncias como serotonina e noradrenalina. Porém, estudos mais recentes mostram que os medicamentos antidepressivos atuam em vários sistemas do corpo.
Eles podem reduzir inflamação, proteger neurônios contra danos, regular hormônios do estresse e estimular fatores importantes para a saúde e conexão das células cerebrais. Mesmo assim, esses remédios nem sempre funcionam bem para todos, e muitas pessoas param o tratamento antes do tempo ou mantêm sintomas mesmo com o uso correto.
Por isso, pesquisadores passaram a investigar outros fatores que podem participar do desenvolvimento da depressão. Um deles é a vitamina D. Essa vitamina é produzida principalmente quando a pele recebe luz solar, mas também pode vir da alimentação.
No organismo, a vitamina D passa por transformações no fígado e nos rins até se tornar ativa. A forma ativa se liga a receptores presentes em vários órgãos, incluindo o cérebro. Curiosamente, esses receptores estão localizados especialmente em áreas que controlam emoções, humor e memória.
A vitamina D está envolvida em várias funções importantes para o cérebro. Ela ajuda a produzir substâncias que protegem e fortalecem os neurônios e favorece a criação de novas conexões cerebrais. Além disso, ela participa do equilíbrio entre substâncias químicas que regulam o humor, como serotonina, dopamina e glutamato. Alguns estudos mostram que baixos níveis de vitamina D podem alterar esses sistemas.

Outro ponto importante é que a vitamina D parece ajudar a controlar inflamações no corpo e reduzir danos causados pelo estresse oxidativo (um tipo de dano celular). Esses dois processos, inflamação e estresse oxidativo, têm sido frequentemente relacionados ao desenvolvimento e agravamento da depressão.
A falta de vitamina D pode também alterar o funcionamento do eixo hormonal relacionado ao estresse, que inclui o hipotálamo, a hipófise e as glândulas adrenais. Esse sistema costuma estar desregulado em pessoas depressivas.
Com base nessas evidências, cientistas começaram a testar se a suplementação de vitamina D poderia ajudar pessoas com depressão. Alguns estudos mostram melhora nos sintomas depressivos com o uso de vitamina D, enquanto outros não observaram benefício claro. Os resultados ainda são mistos.
Para entender melhor essa relação, foi feita uma revisão sistemática, um tipo de estudo que analisa muitos estudos já publicados. Os pesquisadores seguiram regras internacionais para garantir rigor científico e buscaram milhares de artigos. Após excluir estudos repetidos ou inadequados, restaram 66 estudos relevantes.

Os resultados gerais dessa revisão mostram que existe, sim, uma associação entre níveis baixos de vitamina D e depressão, especialmente em estudos que analisaram pessoas em um único momento.
No entanto, ainda não há provas suficientes para afirmar com certeza se a baixa vitamina D causa depressão ou se a depressão contribui para níveis mais baixos dessa vitamina. Também ainda não está totalmente claro se tomar vitamina D pode prevenir ou tratar a depressão de forma consistente.
Portanto, embora exista uma forte suspeita de ligação entre vitamina D e depressão, mais pesquisas são necessárias, especialmente estudos de longo prazo, para entender se a suplementação pode ser usada como parte do tratamento ou prevenção.
LEIA MAIS:
Vitamin D and depression in adults: A systematic review
Vlad Dionisie, Mihnea Alexandru Gaman, Cristina Anghele, Mihnea Costin Manea, Maria Gabriela Puiu, Iulia-Ioana Stanescu-Spinu, Octavian-Ilarian Baiu, Florian Antonescu, Mirela Manea and Adela Magdalena Ciobanu
Biomolecules and Biomedicine. vol. 25 n. 10 (2025)
DOI: 10.17305/bb.2025.12331
Abstract:
Depression is one of the most prevalent psychiatric disorders and a leading cause of disability worldwide. Although the pathogenesis of depression remains far from fully understood, current research suggests a potential role for vitamin D due to its involvement in brain functioning. Moreover, vitamin D supplementation has shown promising results in the treatment of patients with depression. Therefore, the present study aimed to systematically review the available research investigating the association between vitamin D levels and the onset of depression. This systematic review was conducted according to the Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA) guidelines, and the protocol was registered in the PROSPERO database (registration number: CRD42024515918). A search was performed across PubMed/Medline, SCOPUS, and Web of Science databases, yielding a total of 8,052 potentially eligible articles. After the removal of duplicates and ineligible records, and exclusion based on title and abstract screening, 297 original full-text articles were assessed according to the inclusion and exclusion criteria. Ultimately, 66 articles were included in this systematic review. Most of the included studies employed a cross-sectional design (N = 46). Overall, the data analyzed in this review indicate an association between depression and vitamin D serum levels, particularly in studies using cross-sectional designs. Only a few longitudinal studies demonstrated that lower vitamin D levels are associated with an increased risk of developing depressive symptoms or major depressive disorder, highlighting an important research gap. However, it remains to be established through future research whether acute or chronic vitamin D supplementation could have a protective effect against the development of depression.



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