top of page

O Dilema Cerebral do Benfeitor: Ajudar é Fácil, Contar é Difícil

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 20 de nov.
  • 4 min de leitura
ree

Fazer boas ações costuma trazer sentimentos positivos. Porém, muitas pessoas têm medo de compartilhar suas boas ações porque acham que podem ser vistas como arrogantes ou falsas. Em cinco estudos, os participantes disseram que acreditam que se sentiriam pior ao contar uma boa ação do que ao contar uma conquista pessoal, especialmente nas redes sociais. Curiosamente, eles acham que os outros se sentiriam melhor do que eles ao compartilhar o mesmo tipo de história. Esse conflito é chamado de “dilema do benfeitor”.


Muitas pessoas que fazem boas ações dizem que se sentem bem depois. Isso pode acontecer quando alguém doa dinheiro, ajuda alguém na rua, faz trabalho voluntário ou realiza outro gesto generoso. Além do sentimento positivo, quando outras pessoas descobrem essas ações, a imagem pública do autor pode melhorar. Por isso, não é estranho que algumas pessoas que fazem algo bom gostem da ideia de contar para os outros.


Porém, mesmo com esses benefícios, existem dificuldades quando alguém compartilha sua própria boa ação. Pesquisas mostram que muitas pessoas julgam negativamente quem fala sobre o bem que fez. Isso ocorre porque, em muitas culturas, existe a regra social da modéstia: não devemos nos promover ou nos mostrar superiores. Assim, quando alguém fala de sua própria bondade, isso pode parecer arrogante.


ree

Além disso, existe outro ponto importante: quando alguém conta uma boa ação, os ouvintes podem acreditar que ela não foi feita pelo motivo certo. Em vez de enxergar a atitude como algo altruísta, os outros podem pensar que a pessoa fez apenas para receber elogios ou atenção.


Alguns estudos mostram que, quando isso acontece, o valor moral da ação pode parecer menor do que uma ação comum, e até menos positiva do que não fazer nada.


Outra consequência é o desconforto social. Quando alguém fala de suas boas ações, mesmo sem intenção, pode fazer os outros se sentirem culpados por não terem feito algo parecido. Isso cria comparação moral, e esse tipo de comparação pode gerar sentimentos negativos, como irritação, vergonha ou rejeição.


Tudo isso cria um conflito emocional. Por um lado, as pessoas gostam de ser reconhecidas por fazer o bem, afinal, ser visto como uma pessoa ética é importante na maioria das sociedades. Por outro lado, o medo do julgamento faz com que muitas pessoas prefiram manter suas boas ações em silêncio. Esse conflito recebe o nome de “dilema do benfeitor”.


Para entender melhor esse dilema, foram realizados cinco estudos com centenas de participantes. Primeiro, os participantes lembraram uma boa ação que fizeram ou uma conquista pessoal (como um prêmio, promoção ou meta alcançada). Depois, imaginaram como se sentiriam se contassem isso a um amigo ou publicassem nas redes sociais.


ree

Os resultados mostraram que as pessoas acreditam que iriam se sentir pior ao contar uma boa ação do que uma conquista. Elas também pensaram que contar nas redes sociais seria ainda mais desconfortável do que contar apenas para um amigo, provavelmente porque as redes expõem o conteúdo para muitas pessoas desconhecidas, aumentando o risco de julgamento.


Curiosamente, quando os participantes tentaram prever como outras pessoas se sentiriam ao fazer o mesmo, eles imaginaram que os outros se sentiriam menos envergonhados e mais orgulhosos do que eles próprios. Em outras palavras: as pessoas acham que seriam mais criticadas e observadas do que realmente seriam.


Os pesquisadores também compararam situações em que a pessoa escolheu compartilhar voluntariamente com situações em que foi obrigada a compartilhar. No geral, os participantes acreditaram que seriam julgados menos se outra pessoa os obrigasse a contar, talvez porque isso diminuiria a impressão de autopromoção. 


ree

No final, os estudos mostraram que, mesmo que compartilhar boas ações possa incentivar comportamentos positivos e inspirar outras pessoas, muitas pessoas acreditam que contar o que fizeram pode trazer consequências emocionais negativas.


Elas temem parecer vaidosas, falsas ou moralmente superiores. Por isso, muitas preferem o silêncio, mesmo desejando reconhecimento.

Como disse Oscar Wilde: “A melhor sensação do mundo é fazer uma boa ação anonimamente, e depois alguém descobrir.”



LEIA MAIS:


The do-gooder dilemma: A self/other asymmetry in the perceived emotional costs of self-reporting good deeds

Jerry Richardson, Paul Bloom, Shaun Nichols, and David Pizarro 

Journal of Experimental Social Psychology, Volume 121, November 2025, 104808


Abstract:


Recent research in which individuals are encouraged to share stories of their own charitable giving on social media suggests that such sharing facilitates perceptions of prosocial norms and increases charitable donations. However, we predicted that this sharing might also incur unforeseen emotional costs, diminishing the “warm glow” of altruism. Across 5 preregistered experiments (N = 2840), participants reported that they would feel worse when sharing their own good deeds compared to their achievements, and substantially worse when sharing these stories on social media (compared to telling a friend or not sharing). In contrast, participants reported that others would feel better (i.e., less shame and embarrassment, more happiness and pride) after reporting their own good deeds. These studies suggest that individuals believe that (1) reporting their own good deeds will leave them feeling worse, and (2) others will not suffer similar negative feelings.

 
 
 

Comentários


© 2020-2025 by Lidiane Garcia

bottom of page