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Novo Ozempic: Cientistas Hackeiam O Cérebro e Criam Remédio Para Obesidade Sem Náuseas e Vômitos

  • Foto do escritor: Lidi Garcia
    Lidi Garcia
  • 12 de ago.
  • 4 min de leitura
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Cientistas descobriram que uma molécula produzida por células de suporte do cérebro, chamada ODN, pode ajudar a reduzir o apetite e melhorar o controle da glicose sem causar efeitos colaterais como náuseas e vômitos. Uma versão modificada, o TDN, mostrou resultados promissores em testes com animais e pode se tornar uma alternativa mais segura aos medicamentos atuais para perda de peso e diabetes, com testes em humanos previstos para 2026 ou 2027.


Pesquisadores estão investigando formas mais seguras e eficazes de ajudar pessoas a perder peso e controlar o diabetes sem os efeitos colaterais desagradáveis dos medicamentos atuais. A maioria dos remédios usados hoje, como o Ozempic e o Zepbound, atuam diretamente nos neurônios do cérebro responsáveis pela sensação de fome. 


Embora esses medicamentos ajudem muitas pessoas a perder peso, eles costumam causar efeitos colaterais como náuseas e vômitos, o que leva cerca de 70% dos pacientes a abandonarem o tratamento em menos de um ano.

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Em busca de alternativas, cientistas da Universidade de Syracuse e da SUNY Upstate Medical University decidiram explorar uma área ainda pouco estudada: as células de suporte do cérebro, chamadas de glia e astrócitos. Diferente dos neurônios, essas células não transmitem sinais elétricos, mas são fundamentais para manter o cérebro funcionando corretamente. 


Os pesquisadores descobriram que essas células, localizadas em uma região do cérebro chamada rombencéfalo, produzem naturalmente uma substância chamada octadecanoeuropeptídeo (ODN). Essa molécula tem um efeito anorexígeno, ou seja, reduz o apetite. 


Quando os cientistas injetaram ODN diretamente no cérebro de ratos, observaram redução da ingestão alimentar, perda de peso e melhora no controle da glicose, sem provocar náuseas, vômitos, ou outros efeitos colaterais indesejados. 

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Uma visão microscópica do rombencéfalo revela "células de suporte" (destacadas em verde, vermelho, amarelo e roxo) que produzem moléculas que suprimem o apetite. Pesquisadores da Universidade de Syracuse utilizam essas células para desenvolver tratamentos para perda de peso sem náuseas. Fonte: Universidade de Syracuse.


Também foi notado que o ODN não afetou a temperatura corporal, os batimentos cardíacos ou a atividade física dos animais. Além disso, os pesquisadores descobriram que, ao bloquear a ação do ODN no cérebro, os efeitos de supressão do apetite causados pelos medicamentos GLP-1 diminuíam, indicando que o ODN é um dos responsáveis por essa ação no organismo.


No entanto, injetar substâncias diretamente no cérebro não é uma opção viável para o tratamento de pessoas. Para resolver esse problema, a equipe criou uma versão modificada da molécula, chamada tridecanoeuropeptídeo (TDN). Essa nova forma pode ser aplicada por injeções regulares, assim como os medicamentos já existentes.  

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Em testes com camundongos obesos e musaranhos-almiscarados (um pequeno mamífero que, ao contrário da maioria dos roedores, consegue vomitar), o TDN teve efeitos positivos semelhantes: melhorou a sensibilidade à insulina, reduziu o apetite e provocou perda de peso, tudo isso sem causar náuseas ou vômitos.


O diferencial desse novo método é que, ao invés de agir diretamente sobre os neurônios e desencadear uma longa cadeia de reações (que inclui efeitos colaterais no sistema digestivo), o TDN atua "mais adiante" nessa cadeia, em um ponto mais direto do processo que regula o apetite. 


Segundo os pesquisadores, é como começar uma corrida da metade, poupando o organismo de todo o esforço (e os efeitos colaterais) do trajeto inicial. Esse caminho alternativo pode tornar os tratamentos mais toleráveis para os pacientes ou até permitir o uso de doses menores dos  medicamentos atuais.

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Professor Robert Doyle responsável pelo estudo.


"Se pudéssemos atingir esse processo a jusante diretamente, potencialmente não teríamos que usar medicamentos GLP-1 com seus efeitos colaterais", acrescenta Doyle. "Ou poderíamos reduzir a dose, melhorando a tolerância a esses medicamentos."


Para transformar essa descoberta em um tratamento real, os pesquisadores fundaram uma empresa chamada CoronationBio, que já licenciou os direitos sobre os derivados do ODN e está trabalhando com outras organizações para desenvolver medicamentos à base de TDN. Se tudo correr bem, os primeiros testes em humanos podem começar entre 2026 e 2027.


Essa linha de pesquisa abre caminho para uma nova geração de medicamentos para controle de peso e diabetes, que agem de forma diferente, com mais segurança e menos efeitos colaterais, melhorando a qualidade de vida dos pacientes que dependem dessas terapias.



LEIA MAIS:


Hindbrain octadecaneuropeptide gliotransmission as a therapeutic target for energy balance control without nausea or emesis

CAROLINE E. GEISLER, KYLIE S. CHICHURA, OLEKSANDR ORATIVSKYI, 

JIAYIN HU, DREW L. BELSER, CAITLYN M. PELLETIER, TITO BORNER, 

CAITLIN BAUMER-HARRISON, BART C. DE JONGHE, RICHARD C. CRIST, BENJAMIN C. REINER, ROBERT P. DOYLE, AND MATTHEW R. HAYES 

SCIENCE TRANSLATIONAL MEDICINE, 23 Jul 2025, Vol 17, Issue 808

DOI: 10.1126/scitranslmed.adu6764


Abstract: 


Glia play a dynamic role in central nutrient sensing and appetite regulation yet represent underexplored targets in treating dysregulated energy balance. Glia within the dorsal vagal complex of the hindbrain synthesize the anorexigenic peptide octadecaneuropeptide (ODN), the influence and therapeutic potential of which remain to be explored. We demonstrate that hindbrain-targeted ODN induced weight loss, counteracted glucoprivation, and improved glucose clearance in rats. Furthermore, blocking central ODN signaling attenuated the anorectic response to GLP-1R agonists in rats. Peripheral administration of an ODN derivative, TDN, improved insulin sensitivity assessed by hyperinsulinemic-euglycemic clamp in obese mice and induced weight loss without pica behavior, a proxy for nausea in rats, or emesis in the musk shrew, a vomiting mammalian model. Central ODN and TDN treatment in rats was not accompanied by changes in core body temperature, physical activity, or heart rate. This work highlights hindbrain ODN signaling as an important modulator of energy balance and demonstrates the potential for targeting this gliopeptide system to treat dysregulated feeding and metabolic activity without side effects.

 
 
 

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