Menos Comida, Mais Tristeza? Estudo Liga Dietas Restritivas à Depressão
- Lidi Garcia
- 9 de jun.
- 4 min de leitura

Pesquisadores descobriram que dietas restritivas, que cortam calorias ou certos nutrientes, podem estar ligadas ao aumento de sintomas de depressão, especialmente em homens e pessoas com sobrepeso. A alimentação influencia não só o corpo, mas também o bem-estar emocional, e por isso, recomendações dietéticas devem ser personalizadas.
A depressão é um problema de saúde mental cada vez mais comum em todo o mundo. Entre 1990 e 2017, os casos aumentaram em cerca de 50%.
Ela é caracterizada por um conjunto de sintomas que afetam o humor, como tristeza persistente, perda de interesse em atividades, culpa, pensamentos negativos e até ideias suicidas, além de sintomas físicos como insônia, cansaço, alterações no apetite e dificuldade de concentração.
Existem vários fatores que contribuem para a depressão, alguns não podem ser mudados, como idade e sexo biológico, mas a alimentação é um fator que pode ser ajustado e que vem ganhando atenção recente como uma possível forma de influenciar a saúde mental.

Muitas pessoas pensam na alimentação apenas como forma de cuidar do corpo e perder peso. No entanto, pesquisas recentes mostram que o que comemos também pode afetar profundamente o nosso bem-estar emocional.
Diversos estudos compararam dietas “saudáveis”, compostas por alimentos naturais, frutas, vegetais, grãos integrais, nozes, sementes, proteínas magras e peixes, com dietas “não saudáveis”, que incluem alimentos industrializados, açúcar refinado, frituras, carnes processadas e doces.
A conclusão geral é que quem segue uma dieta mais equilibrada tende a ter menos risco de desenvolver sintomas de depressão.
Apesar disso, essa visão de que a dieta é apenas “boa” ou “ruim” pode ser simplista demais. As pessoas no dia a dia seguem dietas muito variadas, nem sempre ideais, mas mais realistas.

Além disso, alguns estudos têm focado em padrões alimentares mais específicos, como a dieta MIND (que mistura a dieta mediterrânea com a dieta DASH e foca na saúde cerebral), que já mostrou efeito positivo na redução dos sintomas de depressão em algumas populações.
Ainda assim, são poucos os estudos que investigam como diferentes tipos de dietas realmente seguidas pelas pessoas, como dietas com restrição de calorias, dietas com corte de açúcar ou gordura, ou dietas para tratar doenças como hipertensão ou diabetes, impactam a saúde mental, especialmente em populações grandes e diversas como a dos Estados Unidos.
Pensando nisso, os pesquisadores da University of Toronto, Canada, realizaram um estudo com base em dados de mais de 28 mil adultos americanos, coletados entre 2007 e 2018. Eles analisaram informações sobre os hábitos alimentares e os sintomas de depressão dessas pessoas, medidos por um questionário padrão de saúde mental.

O objetivo foi entender como diferentes estratégias alimentares influenciam o risco de apresentar sintomas depressivos, levando em conta também o sexo da pessoa e o índice de massa corporal (IMC).
Os resultados mostraram que pessoas que seguiam dietas com restrição calórica (ou seja, com menos calorias) tinham pontuações um pouco mais altas de sintomas depressivos em comparação com quem não seguia nenhuma dieta.
Esse efeito foi ainda mais forte em pessoas com sobrepeso ou obesidade, especialmente quando elas seguiam dietas que também restringiam certos nutrientes, como gordura ou açúcar.

Homens que estavam em dieta também relataram mais sintomas físicos da depressão (como cansaço e insônia) do que homens que não estavam fazendo dieta. E homens que seguiam dietas com restrição de nutrientes apresentaram mais sintomas emocionais, como tristeza e falta de prazer, do que mulheres que não estavam em dieta.
Com base nesses achados, os autores concluem que dietas populares, mesmo aquelas com boa intenção, como para emagrecer ou melhorar a saúde, podem ter impactos negativos na saúde mental de algumas pessoas, dependendo do seu peso e do seu sexo.
Por isso, é importante que as orientações alimentares levem em conta o perfil individual de cada pessoa, e que dietas não sejam tratadas como uma solução única e universal.
LEIA MAIS:
Mental health consequences of dietary restriction: increased depressive symptoms in biological men and populations with elevated BMI
Gabriella Menniti, Shakila Meshkat, Qiaowei Lin, Wendy Lou, Amy Reichelt, and Venkat Bhat
BMJ Nutrition Prevention & Health. 3 June 2025
Abstract:
The literature primarily examines the mental health effects of dietary patterns, with ‘healthy’ diets linked to fewer depressive symptoms, although no standardised definition of a ‘healthy’ diet exists. Many individuals adopt restrictive diets such as caloric or nutrient restriction or medically prescribed patterns (eg, diabetic diets) to improve health, yet their impact on depressive symptoms remains understudied. This study aims to evaluate the association between restrictive dietary patterns and depressive symptoms stratified by sex and body mass index (BMI). A cross-sectional study was performed using the National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) 2007–2018. Adults who completed dietary assessments and the Patient Health Questionnaire-9 (PHQ-9) for depressive symptom severity were included. Statistical analyses were performed using R. Multivariable linear regression was used to examine associations, and interaction effects were explored by including BMI or sex, with subgroup analysis performed when appropriate. The study included 28 525 adults, of whom 7.79% reported depressive symptoms. Compared with individuals not following a specific diet, those adhering to calorie-restrictive diets had a 0.29 point increase in PHQ-9 scores (95% CI 0.06 to 0.52). Among overweight individuals, calorie-restricted diets were associated with a 0.46 point increase (95% CI 0.02 to 0.89) and nutrient-restricted diet was associated with a 0.61 point increase (95% CI 0.13 to 1.10) in PHQ-9 scores. Men who followed any diet showed higher somatic symptom scores than those not on a diet. Additionally, men on a nutrient-restrictive diet had a 0.40 point increase in cognitive-affective symptom scores (95% CI 0.10 to 0.70) compared with women not following a diet. There are potential implications of widely followed diets on depressive symptoms, and a need for tailored dietary recommendations based on BMI and sex.
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